08 – Penumbra

 

Na sala de estar do Lupino os amigos deram boas risadas lembrando-se de outrora quando o mal se levantou e eles conseguiram, pela graça de Deus, defender Seu povo. Lembrando-se ainda de períodos antigos e como os homens mudam ano após ano, como algo absurdo num tempo pode ser corriqueiro e defendido em outro.

Também falaram sobre o que estava por vir, nunca antes haviam sido “convocados” por assim dizer, Julius estava acostumado, mas ver outros seres participando de uma batalha em prol da luz era incomum e a perspectiva de perdas era algo evidente nos olhos de cada um.

Os anjos tinham ficado do lado de fora por um bom tempo, se reunindo ao grupo nesse exato momento, rostos preocupados, não era bom sinal. Julius colocou-se de pé ante a chegada dos angélicos.

- Bom caras, já está em minha hora. Além de brincar com as crias da noite preciso colocar comida em casa, vou a uma entrevista em menos de uma hora, tenho que voar até o centro da cidade e como não sei se a moto que me devem será dada hoje.

- Claro que será o “Zé”. A chave marcada BMW na entrada, pendurada num enfeite de madeira - Disse Kid - Fica a vontade, quando nos reunimos novamente?

- Não sei, Rafael também não foi informado sobre tudo, acredito ser esse o motivo de tanta tensão.

- Preciso ir também, preparar poções, verificar encantamentos, tenho trabalho.

Gustavo se levantou, cumprimentou os amigos e desapareceu. Julius ficou quieto por um momento, pensando consigo mesmo e por fim dirigiu-se a Kid.

- Kid, preciso que me faça um favor. Sei que não gosta, mas preciso que perambule pelo véu, ande na penumbra, quero ter uma ideia dos boatos, sei que seremos informados no momento devido, mas quanto antes algo chegar a nós vai ser melhor. Ficar as escuras pode nos custar caro, se tivermos com o que trabalhar podemos nos adiantar ao inimigo, quase nunca penso assim, mas admito que estou preocupado.

Kid ficou em silêncio, avaliando a situação, respirou fundo e por fim decidiu-se.

- “Ta” na boa, vou dar um jeito. Essa casa tem o mesmo sistema das outras, vou passar a noite na gruta, isso me deixará menos vulnerável – parou por um instante pensativo – Bem, se você puder vir aqui durante a noite, melhor ainda, só pra garantir que não serei atacado de surpresa.

- Tudo bem, vou ao centro resolver umas coisas e volto o mais rápido possível, de repente tenho a sorte de ser atacado ainda hoje.

Os amigos se despediram e Julius caminhou para fora com Rafael ao seu lado.

- Tem certeza de que é boa ideia manter o Lupino indefeso nesse momento? Me parece uma manobra arriscada.

Rafael olhava para trás ouvindo trancas se fechar e chapas de aço desceram sobre janelas e portas.

- Sei dos perigos Rafael, mas precisamos de algo, precisamos ouvir o que o vento traz, o que os espíritos dizem, precisamos ter um ponto de partida - O anjo o olhou com espanto - Eu sei amigo, sei que Deus sempre sabe o que esta acontecendo, mas Ele não nos diz, deixa que nosso emprenho em vencer por Ele nos guie e dirija nossa ações, estou nessa luta a quase oito séculos, sei bem que a vitória só é garantida se tivermos a chance de estudar a situação.

Terminou de dizer isso enquanto chegava à garagem, descobriu uma motocicleta da BMW enorme, daqueles que se usa em Ralys, prateada, linda, com cara de brava, colocou a chave no miolo de ignição e pressionou o botão de partida, a moto estava afinada demais, mal fazia barulho, apenas um zunido.

Subiu na moto e acionou o botão da garagem preso a chave da motocicleta, o portão se abriu e Julius saiu, acionou novamente o botão e se colocou na estrada, teria que enrolar o cabo pra dar conta da estrada até o centro da cidade.

Eram cinco para as dezoito horas quando encostou em frente a pequena loja de informática situada na rua Santa Efigênia, havia estado no centro pela manhã, vendo o oriental. Desceu da motocicleta e caminhou até a loja, a fachada tendo um “quê” bem divertido, com hardwares espalhados entre banners de games e filmes, desenhos e mangás. A porta era de vidro, Julius hesitou por um instante e por fim entrou. O interior era bem iluminado e refrigerado, perfeito pra lidar com o corre-corre do centro da cidade, um linda atendente estava no balcão e assim que Julius entrou veio recebê-lo sorridente.

- Bem vindo, em que posso servir?

- Vim falar com Thiago, meu nome é Julius.

Nesse momento viu um rapaz franzino, de mais ou menos um metro e setenta, branco, ossos quase a mostra, cabelos loiros, cara de moleque sapeca, um verdadeiro garotão de vinte e tantos anos, sorriso no rosto, camiseta pólo azul escuro com o emblema da empresa, calça jeans e tênis “All Star”

- Julius, meu velho, achei que não vinha.

- Problemas com amigos, mas ainda cheguei na hora.

- Sim, claro, vamos entre, farei umas perguntinhas e decidiremos os valores.

Julius seguiu Thiago, passou pela porta do balcão a menina ainda lhe lançando olhar de "bem vindo". Entrou num corredor, virou à direita e entrou por uma porta que revelou um pequeno escritório que mais parecia o quarto de um garoto de no máximo quinze anos, apesar do ar de escritório embutido ao recinto em razão da mesa com computador que separava duas cadeiras, uma para o empresário e uma para o convidado.

Nas paredes vários pôsteres de um anime que Julius também conhecia, vinha acompanhando, Bleach era o nome do anime e o pôster mais invocado mostrava o personagem principal em sua forma mais ameaçadora, quando ele estava dominado pelo mal para fazer o bem, contraditório mas era uma realidade nos desenhos de hoje em dia, os personagens mais fortes sempre tinham alguma ligação com o mal, um outro pôster lhe chamou a atenção, era um personagem do jogo "Devil May Cry" e Dante era seu nome.

- Bela coleção - Disse Julius indicando os pôsteres.

- Obrigado, sou fã dessas merdas, não consigo parar - Terminou a frase e sorriu, indicou a cadeira reservada aos convidados para Julius e se sentou em sua cadeira

- “Ta” brincando, são ótimos personagens, não sei qual o melhor, Ichigo ou Dante.

- Você curte isso?

- Claro.

- Bom, vou falar isso pra minha mãe e minha namorada, talvez assim parem de dizer que não cresço - Terminou a frase e riram juntos.

- Vamos falar de negócios. Preciso que você fique a minha disposição pelo menos meio período de segunda a sexta, sábados somente se não tiver outro jeito e domingo jamais, trabalhar de domingo é coisa pra quem quer ficar muito rico, eu só quero viver bem.

- Posso ficar disponível na parte da manhã, sei que não é o melhor, mas tenho outro emprego que me leva boa parte da noite e as vezes tenho que viajar.

- Por mim tudo bem, podemos dar um jeito nisso. Você tem algum curso?

- Sim tenho, na verdade fiz cursos de informática, montagem e manutenção de micros, falo inglês, entendo de programação, bom conheço a área.

- Calma cara, não tenho grana pra bancar um cara assim, só quero alguém pra fazer “helpdesk” pra meus clientes e dar uma mãozinha na nossa rede que vive travando.

- Não esquenta, se me der liberdade pra ir e vir fazemos um preço legal, quanto você esta disposto e gastar com um cara nessas condições?

- Considerando que você pode sumir por alguns dias e que só vai atender meus clientes de manhã, acho que um fixo de R$ 700,00 e uma comissão de 50% sobre serviços excluindo o valor das peças é razoável.

Julius ponderou por um momento, era pouco, mas ele tinha que manter uma fonte direta de renda pra poder manter o disfarce por mais tempo no mesmo local.

- Ok, pra mim está bom, anota meu celular, sempre que precisar eu apareço ok?

- Fechado, preenche essa ficha com seus dados pessoais e bancários e o negócio está fechado.

Julius preencheu o formulário, enquanto conversava animado com o rapaz sobre jogos e animes, continuaram conversando por mais algum tempo e por fim despediu-se de Thiago e voltou a entrada da loja. Despediu-se da atendente e saiu para a rua, já com ares noturnos. Deu uma boa olhada em volta, ao anoitecer os demônios se colocavam a trabalhar com mais intensidade por ali, com tantos pilantras, álcool e drogas indo e vindo era quase impossível não ver um demônio se esgueirando. Olhou para a parte de cima da loja de informática e viu Rafael olhando para o quadro com tristeza no olhar e a espada nas mãos. Um demônio comum nunca se atreveria a tocar um anjo, ainda mais um conhecido entre os anjos negros como grande Guerreiro, Rafael naquele momento lutava contra a vontade de destruir demônios, o que implicaria na quebra da regra máxima, onde cada humano decide por si o destino que quer, se esta regra for quebrada os demônios tem o “direito do sangue” podem exigir a morte do anjo que atrapalhar o trabalho de um demônio sem provocação direta. Um anjo só pode destruir um demônio comum se este o atacar, do contrário deve ficar aquém de tudo e deixar que façam sua mágica. Julius sempre achou essa uma regra idiota, mas sabia que isso separava aqueles que querem o bem daqueles que querem o mal, sabia que era a única forma de manter o equilíbrio das coisas.

Inspirou profundamente, subiu na moto e deu partida. Precisava voltar para a casa de Kid, concentrou-se por um momento e não conseguiu identificar sua posição, já devia estar na penumbra. Buscou por Gustavo, esse estava tranqüilo, sem nada que indicasse problemas, olhou para o topo do prédio onde estava e viu Rafael olhando para o horizonte, a noite já havia caído por completo, era hora dos vampiros se moverem, era hora dos demônios colocarem seus lacaios nas ruas, hora sinistra, noite, feita por Deus, mas habitada pelo demônio.

Julius acelerou a moto e partiu com velocidade máxima para casa de seu amigo seguido de cima por Rafael, sentia um pouco de agitação, tinha algo errado, enrolou o cabo e foi embora deixando o centro da cidade para trás, passados pouco mais de vinte minutos chegava a estrada do M´Boi Mirim, continuou acelerando e deixando borrões ao seu lado, mais cerca de quinze minutos e estava na entrada do bairro Jardim Jacira, seguiu por ruas asfaltadas até o topo do morro, entrou em uma estrada de barro e seguiu para a casa do Lupino, estava apreensivo, sabia que era perigoso o que havia pedido ao amigo e havia o deixado sozinho por muito tempo, mais cinco minutos e estaria na casa do Lupino.

 

 

Kid despediu-se do amigo e esperou que saíssem da casa, detestava fazer o que estava por vir, mas sabia que era uma ótima ideia, não fosse pelo fato do que poderia acontecer durante o processo. Ia caminhar pelo véu, deixar seu corpo só, ia buscar respostas "em cima do muro", meio lá, meio cá, era perigoso, poucos Lupinos desenvolviam essa habilidade e um numero bem menor se arriscava a utilizar, era correr risco demasiado.

Abriu uma tampa de plástico que escondia um teclado numérico e um visor digital pequeno que ficava a esquerda do bar na sala de estar, digitou um código e aguardou um instante enquanto a palavra "LOCKED" se formava no visor. Assim que fechou a tampa, as janelas passaram a se fechar, trancas se fechando e chapas de aço descendo sobre portas e janelas.

Seguiu em direção ao corredor que dava nos quartos, nesse corredor havia uma porta que o levaria ao porão, passou pela porta, abriu mais uma tampa de acrílico revelando novo teclado numérico e visor digital, digitou novamente um código e uma chapa grossa de aço desceu sobre a porta em que estava agora.

Desceu as escadas, breu, tudo escuro, invocou sua visão e parecia que o astro rei o favorecia dentro daquele lugar, podia ver tudo. Era um lugar amplo e não possuía um só móvel, apenas um espaço vazio e tranqüilo, usado pelo Lupino quando da “Lua de Sangue”, era aqui que passava as horas de loucura quando era incapaz de diferenciar amigos de inimigos, quando o sangue é sua única vontade, quando a carne, ainda quente, é seu único alimento.

No canto esquerdo haviam correntes grossas, cada gomo tinha trinta centímetros de comprimento e vinte de largura, o diâmetro das correntes devia ser de pelo menos vinte centímetros, grossa o bastante pra segurar um grande navio, era onde ficava preso para conter sua força descomunal. Caminhou até o centro da sala, seu corpo tremeu violentamente ao passo que foi transformando-se na fera que realmente era, um lupino forte e destrutivo. Sua pele ganhou pelos, seus músculos aumentaram, todo o seu corpo cresceu, garras de aço surgiram no lugar dos dedos. Dentes monstruosos tomaram conta de sua boca, agachou-se e arfou por um instante, deitou-se no chão e fechou os olhos.

Concentração, ao máximo que foi capaz enquanto murmurava encantamentos e canções a Gaia. Passados alguns segundos conseguiu materializar uma porta a sua frente, adiantou-se, abriu a porta. Eras passavam à sua frente, reinos antigos, povos antigos, antigas feras mitológicas, antigos amigos, antigos amores, fitou a porta com tristeza no olhar e a fechou, não era isso que queria.

Precisava agir rápido, olhou a sua volta, tudo escuro, nada, manteve a calma, manteve a concentração, nova porta surgiu, abriu a porta e desta vez via homens e mulheres caminhando ao lado de vampiros e lupinos, via demônios caminhando por entre anjos. Era isso, tinha que ver o mundo como ele realmente era. Viu anjos sobrevoando os seus e demônios escondidos em becos, esperando os fracos de coração. Passou pela porta e subiu o máximo que pode afastando-se da multidão que ali estava, a porta ficaria aberta, um risco tremendo, pois seu corpo poderia ser tomado por outro. Concentrou-se precisava saber porque a batalha era importante, concentrou-se no assunto, pedindo a terra que lhe mostrasse a verdade, viu-se sendo conduzido por milhares de quilômetros pelos céus, sentindo seu corpo flutuar, velocidade alucinante, passou alguns segundos sem nada ouvir sem nada ver além do céu a sua frente, de repente pode ouvir.

 

"Encontramos um portal meu lorde, encontramos um portal". - Era uma voz rouca, cheiro de enxofre, um demônio e falava de um portal, falava com espanto e alegria, era importante. - "Ainda não podemos tocá-la, meu lorde, ela tem proteção divina, um arcanjo está com ela todo o tempo, não esta no plano espiritual senhor, ele passou pelo portal e age nos dois mundos!"

 

Santo Deus, pensou Kid, um portal, agora entendia, sabia do que se tratava, por Deus, isso era perigoso, era muito perigoso, um arcanjo, será que teria sofrido algum dano na passagem? - O Lupino pensava nessas coisas quando foi obrigado a retorcer-se de dor, alguém o encontrara, não seu corpo, mas sua alma, precisava sair dali antes que colocassem suas mãos nele, olhou a sua volta e viu dois espectros se aproximando, estavam guardando o véu, os lupinos vinham acompanhados de demônios, o único lugar onde um demônio tem poder espiritual sobre um lupino é sob o véu. Precisava manter a calma, precisava se concentrar em seu corpo e voltar para sua casa agora, tentava respirar com calma, mas não conseguia, podia ouvir os gritos ferozes dos demônios sendo guiados pelos lupinos, seria seu fim.

 

 

Julius chegou até a casa do Lupino e parou diante da porta, sentia-se angustiado, tinha algo errado, virou-se para Rafael.

- Preciso que vá até ele, tem um subsolo, um porão, ele deve estar lá, deitado como morto, esta visitando o véu, sabe o que fazer.

Rafael meneou a cabeça e atravessou o solo, levou poucos segundos para encontrar o corpo inerte do lupino, tocou o corpo caído e fechou os olhos, viajou no tempo e espaço, sentiu o universo dentro de si, sentiu a agonia do companheiro, sentiu o medo, passou alguns segundos com essas sensações e finalmente se viu nos céus do limbo. Concentrou-se por um instante e sentiu a direção para qual deveria seguir. Não sabia se teria tempo o bastante, uma áurea azul rei formou-se a sua volta e como um raio disparou na direção em que sentia o Lupino, em segundos cruzou uma distancia imensurável, olhos abertos, espada em riste, estava perto, viu um espectro paralisado, era o Lupino, precisava chegar até ele, buscou mais velocidade e foi atendido.

 

 

Kid abriu os olhos, não ia conseguir voltar, não conseguia concentração suficiente, seria seu fim, ficou parado pensando no que fazer, em segundos seus inimigos alcançariam sua alma e o levariam direto para o inferno, apurando os olhos viu uma esfera azul se aproximando em velocidade que não podia ser compreendida, ultrapassou os demônios e tocou seu braço.

 

 

Assim que alcançou seu destino tocou no braço do amigo e se virou com a espada preparada para golpear, quatro inimigos se aproximavam, dois Lupinos e dois demônios, seria fácil lutar não fosse o fato de ter que manter a conexão com o lupino que defendia, se tivesse vindo em seu estado natural poderia lutar normalmente, mas para manter-se na presença do Lupino precisava estar ligado a sua alma. Defendeu o golpe do primeiro demônio com tanta força que esse foi jogado para cima, agarrando-se ao espectro que o guiava a fim de prosseguir em batalha, ambos voaram alguns metros.

- Se me atacarem ou ao meu amigo serei obrigado a findar suas existências, peço que nos deixem partir.

Rafael mantinha os olhos nos demônios, Kid havia retomado o controle e preparava-se para dilacerar os lupinos.

- Não se engane meu caro anjo, você será destruído aqui, não sabemos o que vocês ouviram, mas com certeza não deixaremos que outros saibam.

Rafael apertou o cabo da espada, tinha que retirá-los dali tempo o bastante para que seu amigo se concentrasse em voltar para o corpo, ou jamais saberiam o que houve.

O demônio que havia caído alguns metros reiniciou o ataque, Rafael desviou para a direta com os braços dados com Kid, fariam uma batalha de dois em um, Kid aproveitou pra cravar os dentes no lupino que acompanhava esse demônio, metade do braço do inimigo se foi e Kid conseguiu separar os dois.

Rafael aproveitou o momento de distração e lançou-se contra o demônio solitário, mas seu golpe foi parado pelo outro par de inimigos, descreveram vários arcos cruzando as espadas causando estrondo, o demônio era bom, tinha habilidade, mas Rafael era um anjo treinado por Miguel, sua habilidade era destrutiva. Continuou a trocar golpes até perceber uma abertura, deu um chute no estômago do inimigo, descreveu mais um arco e separou o braço que segurava a espada do corpo do oponente. Enquanto o braço voava foi atacado pelo outro inimigo que já estava recomposto com seu parceiro, tentou bloquear o golpe, mas o embalo em que o inimigo vinha aumentou em muito a força do ataque, sua espada vacilou e um corte enorme surgiu em seu braço. Desviou para a esquerda, forçou um giro e acertou o demônio que o atacou na cabeça com uma voadora, precisava sair dali.

- Lupino segure-se com mais força, vamos sair daqui agora, concentre-se.

- Ok – Disse Kid cravando os dedos no braço do anjo.

Segurou com força o braço do anjo e viu a esfera azul envolvendo os dois, no segundo seguinte nada podia ser visto, a velocidade em que estava agora era muitas vezes maior do que a que o levou até onde estava a pouco, passaram-se alguns segundos, Kid estava mais calmo, concentrou-se por um tempo, Rafael diminuiu a velocidade, o lupino sentiu a porta aproximando-se, escancarada, mas intacta, Kid olhou através da porta e viu seu corpo deitado no chão do porão, entrou pela porta junto com Rafael, fechou a porta e voltou para seu corpo.

Abriu os olhos e viu que o anjo não estava mais lá, tinha sido por pouco, como o anjo sabia que ele estava com problemas ele não sabia, mas que tenha sido em boa hora a isso tinha.

Voltou a forma humana, levantou-se, estava escuro, tudo escuro, invocou sua visão, mas ela falhou, estava cansado, essa habilidade lhe consumia muita energia, estava exausto.

Conhecia bem o porão, tateou a procura da escada, subiu os degraus, encontrou a tampa de plástico, levantou, digitou o código e a chapa de aço deu lugar a porta, abriu, foi até o outro dispositivo e digitou o código, foi sua ultima ação, estava realmente exausto, viu Julius entrando, tentou falar, mas não conseguiu, escuridão e inconsciência, desmaiou.

 

 

As placas de aço subiram dando lugar a porta que se destrancou, Julius a abriu e entrou. Viu o amigo em estado deplorável, suado e branco como uma folha de papel, parecia ter envelhecido anos a fim nessas ultimas horas desde que despediram-se. Viu Kid vindo em sua direção vacilante até iniciar uma queda, Julius se adiantou e segurou antes que caísse no chão, virou e arrumou sua cabeça, colocou a mão em sua testa, estava frio como um morto. Levantou a cabeça e falou com o anjo.

- Ele lhe disse algo?

Rafael balançou a cabeça negativamente e falou.

- Nenhuma palavra, tivemos que lutar e ouso dizer que, considerando a gana com a qual buscavam a vida do lupino, ele tem algo importante pra nós. – Fitou Kid por um momento – Isso se ele sobreviver. – Disse em tom de censura a Julius. Este baixou o rosto e fitou seu amigo, ficou em silêncio por algum tempo.

- Entendo, ele vai sobreviver, poucas coisas no mundo conseguem minar a vida de um Lupino.

- Sofrer dano na Penumbra é uma delas, devo lembrá-lo – Disse Rafael, parecia disposto a mostrar a Julius o quanto foi imprudente.

- De fato, e eu já entendi irmão, deveria ter esperado, não se repetirá – Rafael ouviu isso e deixou a casa indo para o telhado. Julius falou mais para si do que para o Anjo que ainda podia ouvi-lo.

- Por hora vamos deixá-lo descansar, o risco já passou e agora temos algo com o que trabalhar, espero não ter colocado a vida de meu irmão em risco a toa.

Levantou-se com Kid no colo e o levou até o quarto. Era estranho levar um homem nu no colo, mas era seu amigo e havia feito algo além da imaginação, viajar na penumbra era sempre perigoso. Colocou-o sobre a cama, eram mais ou menos oito horas da noite, deixou o amigo no quarto e foi em direção a sala de estar, deitou-se num sofá com os pensamentos acelerados, queria muito saber o que se passara, mas pelo estado do amigo passaria toda a noite dormindo e boa parte do dia seguinte.

Orou, pedindo que seu amigo ficasse bem, pedindo o favor de Deus nessa batalha, pedindo entendimento, não podia falhar com seus companheiros e a luta mal começara e ele parecia ter feito uma escolha ruim, sentimento de culpa o atormentava neste momento, tinha que ser mais cuidadoso com as solicitações que fazia a seus amigos, seus irmãos. Contemplou o rosto do amigo por um instante e deixou o quarto.