06 – Lupino

 

Após preparar todo o armamento, Julius deitou-se no sofá, estava um tanto apreensivo, mas sabia que não adiantava ficar rodando para lá e para cá enquanto não tivesse uma ordem direta de onde procurar e sabia que na hora certa Rafael lhe avisaria. Levantou-se e foi em direção ao telefone, a luz da secretária eletrônica estava ligada poderia ser trabalho.

- Bom dia Julius, meu nome é Thiago, tenho uma pequena loja de informática e vi seu anuncio de trabalho como Free Lance, ainda está disponível? Por favor, me ligue, tenho uma vaga para você.

Ouviu-se o som de um bip e nova mensagem foi apresentada.

- E aeeeeeeeee fiote, como você está? Tive uns sonhos estranhos esta noite com seres iluminados e tu estava no meio da parada, cola em casa, vamos ver se tem algo rolando por ai. - Julius reconheceu a voz de imediato era Gustavo, ele ia participar da batalha, estava ficando interessante – Bom, estou esperando, abraço.

- Julius aqui quem fala é Victor, vi seu anuncio no jornal, de trabalho como Free Lance, tenho uma empresa de vendas de DVD´s e preciso de alguém para dar um jeito nos computadores e fazer a manutenção da rede, se estiver disponível fico grato. Aguardo seu contato.

- Sem mais mensagens em sua caixa postal.

Pegou o telefone e apertou o botão para retornar a ligação de Gustavo, o telefone chamou até cair na secretária eletrônica, ele desligou, avançou e solicitou a ligação para o cara da agencia de informática, Thiago, o telefone tocou e um cara animado atendeu.

- Infotec, Thiago falando, boa tarde.

- Boa tarde Sr. Thiago, quem fala é Julius, o senhor me ligou pela manha.

- Julius, tudo bem contigo?

- Tudo sim e o senhor?

- Eu estou bem cara, só não me chama de senhor de novo ok?

- Ok, a vaga ainda está em aberto?

- Está sim, anota meu endereço e passa aqui esta tarde para falarmos de valores que é o que importa - Julius pegou uma caneta na gaveta do criado mudo e um pedaço de papel, tomou nota do endereço.

- Ok, agora são quinze horas, tenho que resolver um assunto, mas posso chegar ai pelas dezoito horas, tudo bem assim?

- Perfeito, te vejo depois então, até mais ver.

- Até - desligou o telefone e voltou a ligar para seu amigo, novamente chamou até cair, resolveu ir até lá e ver como estão indo as coisas.

- Rafael, você sabia do envolvimento de meu amigo?

- Sabia que iria se envolver, mas não tinha certeza de quando aconteceria.

- Entendo...vamos até a casa dele então, fica a uns quarenta minutos daqui.

Os dois saíram da casa, Julius pegou sua moto e acelerou, queria chegar logo à casa do amigo, fazia tempo que não o via.

Gustavo seguia pela BR em alta velocidade, Israel sobrevoava o carro com suas asas estendidas, parecia um verdadeiro falcão pronto a descer e destruir sua presa. O mago ainda estava com a mente muito acelerada, considerava os tipos incríveis e destrutivos de criaturas que deveriam se envolver nesse tipo de batalha. Pensando nessas coisas se deu conta de que havia alguém que se interessaria em participar disso, uma pessoa que ele não via em batalha há algum tempo, mas sabia que suas habilidades jamais estariam enferrujadas, e afinal de contas não era tão longe de sua casa, ficava em Itapecerica da Serra.

Tomou a estrada necessária e seguiu ainda rápido demais, levou pouco mais de meia hora para chegar até Itapecerica, seguiu até Mombaça e encostou o carro em frente a um grande portão de ferro numa rua um tanto deserta. Tocou a campainha e aguardou do outro lado da rua, olhos apreensivos, como não vinha aqui há muito tempo não tinha certeza de como seria recebido e com o que estava por vir todo cuidado é pouco, são seres incríveis, mas um tanto instáveis. O portão automático rangeu e depois começou a se abrir, Gustavo estreitou os olhos a fim de ver seu conhecido...

- O que você quer de mim?

Deu um salto para cima do muro do outro lado da rua tamanho foi o susto que o pequeno sujeito lhe deu falando em seu ouvido sem que ele tivesse visto algo passar pelo portão. Ao aterrissar no muro do outro lado da rua e olhou para o local de onde havia partido e viu que não havia mais nada lá. Ouviu a porta de seu carro se fechando e o motor roncando. Ficou imóvel por um momento, o sujeito manobrou o carro para dentro de sua casa e o portão se fechou. Gustavo tentava avaliar se devia descer ou não do muro, o carro foi desligado, a porta se abriu e um rapaz que aparentava ter no máximo vinte anos saiu do veículo.

Era bem baixo, com no mais ou menos um metro e sessenta de altura, mas parecia ser forte como um touro, estava sem camisa e de bermudas, assim que se colocou de pé saiu do raio de visão de Gustavo, quando o mesmo deu por si não estava mais sozinho em cima do muro.

- Você tem mesmo que aprender a bloquear sua mente, será que nunca vai aprender as habilidades realmente úteis? Só quer saber de habilidades de batalha - Sua voz era firme, suas palavras polidas.

- Quando eu conseguir a força e a velocidade que você tem não terei que me preocupar com minha mente - Gustavo retrucou em tom defensivo, meio que com medo de ser grosseiro e acabar tendo que sair dali correndo. O pequeno ponderou as palavras por uns instante.

- Faz sentido, de qualquer forma, não sei nada sobre batalhas e não estou interessado, mas não tenho visitas a um bom tempo, vamos entrar e comer algo, você deve ter consumido um pouco de energia para fazer suas acrobacias.

De repente não estava mais ali, Gustavo se permitiu um sorriso, era obvio que ele sabia da batalha e mais obvio ainda que iria participar, bastava um bom argumento, e certeza de cabeças rolando, esse era Kid, não ia mudar nunca o jeito moleque e destrutivo de ser, a não ser que se considere o fato de parecer estar mais rápido desde a ultima vez que estiveram juntos, quanto tempo fazia isso, pelo menos uns seis anos, ele evolui mais rápido do que se pode compreender.

Desceu do muro com um salto invocando um encantamento e antes de tocar o solo desapareceu no ar, reaparecendo em frente à porta de entrada que devia ficar a pelo menos duzentos metros do portão da propriedade.

A porta estava aberta e ele entrou. Era o cômodo principal da casa com uma sala de estar enorme, ocupando pelo menos metade da casa. Havia três ambientes diferentes, sala de jantar, sala de estar e um espaço para jogos, com uma mesa de sinuca e uma para carteado, dois lustres muito bonitos estavam dispostos no teto, havia ainda ao fundo da sala para jogos um pequeno bar e era lá que Kid se encontrava, parado olhando para a expressão embasbacada de Gustavo.

- Cara você tem uma casa e tanto, só essa sal...

- É eu sei, é maior que a sua casa, ok, bom o que você acha que pode me dizer para me colocar nisso, fora o fato de que vou ter uma chance de matar sem me sentir culpado e poder lutar ao lado de amigos?

- Na verdade achei que esses eram bons argumentos – Gustavo hesitou por um instante, não sabia bem o que dizer, mas por fim decidiu-se – Bom, fora essas coisas que você já falou tem coisas interessantes acontecendo, eu tive contato com seres iluminados, essa não é uma batalha qualquer, seres realmente fortes irão participar, acho que você é um ser impressionante, tem mais velocidade e força que eu e ainda nem está em sua forma mais ameaçadora - um sorriso malicioso se fez no rosto de Kid - e com certeza Julius vai precisar de você, se alguns de sua espécie se envolverem eu não vou poder ajudar muito, precisamos de você. Bem, a verdade eu ainda não tenho certeza de que Julius esteja envolvido, mas como ele estava nos sonhos que tive, acho que deve estar.

Gustavo foi sincero em cada palavra, e o outro ouvia com atenção mesmo podendo ter lido sua mente, preferia ouvir tudo o que ele queria dizer por si próprio e cada palavra de certa forma fazia muito sentido. Kid considerou as possibilidades por um momento, haviam de certa forma pontos realmente interessantes a se considerar, seu amigo de batalha, Julius, tinha quase a sua idade e já haviam tido várias oportunidades de lutar juntos, ele não entrava em lutas desnecessárias. Caso os bandidos vençam é mais gente perdendo a vida á toa e perder a chance de lutar contra seres poderosos não combinava com ele.

- Bem, vou esperar ele vir até mim, explicar melhor o que está havendo, até lá não tenho partido tomado nessa batalha. - Sua voz estava firme, mas suas palavras não convenceram.

- Por mim está na boa, vou buscar Julius, ele está indo em direção a minha casa neste momento, vou lá avisar que estamos esperando e já volto.

Gustavo queria mostrar a Kid que tinha bons truques também, não como os dele, mas truques que valiam à pena e ajudavam de alguma forma. Sentou-se no meio da sala e se colocou em postura ereta, buscando concentração. Em alguns segundos o silencio não existia mais, ele era capaz de ouvir cada som a sua volta, começando pelo batimento cardíaco de Kid que lembrava em muito um grande tambor a rufar. Ouvia alguns pássaros com o pequenino e acelerado coração acima no telhado, uma raposa rondando o galinheiro nos fundos da casa, furtiva, silenciosa e mortal. - Kid saiu neste momento. - um riacho a poucos quilômetros a oeste, peixes no fundo, pássaros batendo asas nos céus, insetos em folhas, folhas caindo ao sabor do vento, ele podia ouvir tudo num raio de pelo menos cinco quilômetros, sentia como se fosse parte da natureza a sua volta, vários corpos e uma só mente. Vagou nessas sensações por alguns instantes e sussurrou ao vento uma mensagem.

Julius estava a poucos quilômetros da casa de seu amigo quando ouviu algo soprando palavras em seus ouvidos, diminuiu a velocidade e esperou o susto passar, parou a motocicleta retirou o capacete e ficou ouvindo, calado, Rafael ao seu lado, os dois muito quietos, então foi possível entender as palavras.

- "Julius, estou na casa do Lupino, venha, ele quer falar contigo."

Deu um sorriso de satisfação, ia ser uma reunião e tanto, sempre que via seus amigos juntos a diversão era garantida.

Julius se concentrou por um momento e sabia exatamente a direção que deveria se dirigir, sem abrir a boca as palavras saíram.

"QUINZE MINUTOS PREGO APRENDE LOGO A USAR A MENTE, ESSE TRUQUE DO VENTO JA ERA"

Na verdade as palavras foram como um grande berro.

 Gustavo se assustou e abriu os olhos enquanto ouvia a gargalhada indo embora de sua mente e cedendo lugar a gargalhada que mais parecia um rosnado de Kid.

- Moleque você precisa mesmo usar sua mente com mais cuidado, usar a mente sem saber bloquear um contra ataque é loucura.

Gustavo estava frustrado, era um truque legal usar o vento como porta voz e ainda sim estavam ambos aloprando suas habilidades.

- Tá, tá, entendi, porque você não me dá umas aulas, não sei se você sabe, mas só tive professor nos primeiros anos, o resto foi pura curiosidade.

As palavras saíram mais ásperas do que ele esperava, Kid fechou a cara e Gustavo percebeu o perigo, recitou o encantamento e se tele transportou para fora da sala enquanto ouvia o corpo forte de Kid colidindo contra algum móvel da casa e um rosnado de estourar tímpanos e estremecer a espinha. Era melhor manter a cautela até o outro amigo chegar, Kid era um tanto instável, mas sua fúria vinha tão rápido quanto se aplacava.

- Venha garoto já estou bem, mas lembre-se, sou filho da lua, se você faz algo que atinge meu ego não consigo me controlar, que tal não gritar comigo?

Uma gargalhada monstruosa saiu da garganta de Kid, o mago sabia que era seguro descer, mas achou melhor esperar seus sentidos e batimento cardíaco voltarem ao normal.

Lobisomens são seres realmente interessantes, assim como os vampiros não tem partido sobre o que se trata de bem e mal, eles são neutros, fazem de sua vida algo pacato ou agitado de acordo com seus temperamentos. Lupinos não tem sede de sangue em tempo integral, mas ao contrário de um vampiro que sempre tem consciência de suas ações os Lupinos, em noite de lua cheia, tornam-se verdadeiros Titãs em Fúria, a primeira noite de lua cheia, chamada entre os chefes das sete tribos de “La Luna Sanguinem”, “A Lua de Sangue”. No geral os lupinos que convivem com humanos ficam na floresta em grutas que eles mesmos criam com sua força descomunal, prendem animais ainda vivos em seu interior e se trancam e travam de alguma forma, para não matar desnecessariamente, lupinos são mais propícios a bondade do que a maldade, mas não é uma regra, já vampiros, devido à necessidade de sangue, geralmente ficavam do lado negro da história.

Voltou para dentro da casa, com cuidado, viu o lupino com um sorriso no rosto e soube que ele não se importaria se tivesse o alcançado na hora do golpe, mas ele teria que batalhar feio quando Julius chegasse.

- Sim, ele provavelmente iniciaria um combate, como já fizemos antes, mas esse conto fica para uma próxima, mas ele não lutaria para matar, apenas para aplacar a fúria, ele conhece minha condição, fora que somos tão amigos e há tanto tempo quanto você pode imaginar, ainda deve lembrar-se que seria uma luta épica, sou forte, nunca se esqueça disso.

Terminou de dizer isso e andou em direção a Gustavo.

- Olha, você conhece minha natureza, foi mal ok, vou tentar me controlar de agora em diante.

- Melhor mesmo, não quero te matar cachorro.

- Não brinque garoto, não brinque, tenho bom controle, naquele momento estava desprevenido, posso deixar isso acontecer novamente.

- Tá, eu sei, bom, quer que eu arrume sua mesa, era legal.

- Você aprendeu a retroceder?

- Com cento e cinquenta anos, já da para aprender alguma coisa.

Concentrou-se por um momento levantou a mão e a energia de seu corpo se acumulou nela, estendeu em direção à mesa, sussurrou o encantamento em Latim e expeliu a energia para o móvel destruído, um som forte de madeira estalando cobriu o ambiente e a mesa estava como nova.

- Pronto, agora se não se importa preciso comer, você não me deu nada desde que cheguei.

- Você não desenhou uma runa, estão ativas? O que houve?

- Fui atacado por alguma entidade espiritual agora a pouco, tive que usar três runas, Tele transporte, Rocha e Retroceder, mas está tudo bem, agora já consigo usar sete runas num mesmo dia. Não se preocupe com isso, podemos comer?

- Sete Runas? Acho muita coisa para seu corpo, mas se você diz que da conta então tudo bem. Vamos para a cozinha, ovos e bacon?

- Perfeito.

Ambos foram para a ala leste da sala em direção a cozinha, era metade do tamanho da sala, mas era grande, estilo cozinha americana, tudo era feito de aço inox em móveis e utensílios sob medida, uma grande pia que terminava em um grande fogão no lado oposto da porta de entrada. A cozinha era dividida por um balcão de madeira, lá estavam penduradas panelas e facas, algumas cadeiras davam mais a impressão de um pequeno bar, havia ainda uma pequena mesa para quatro pessoas.

- Cara quanto você gastou nessa cozinha?

Kid deu de ombros.

- Não faço ideia, tenho muita grana, muito tempo para juntar dinheiro te faz perder o interesse por valores.

Gustavo deu um grande assobio.

- Espero chegar nesse nível, estou envelhecendo em média dez dias por ano, isso da uma média de trinta e seis por um, acho que dá para guardar uma grana.

Terminou de falar enquanto ainda olhava para a cozinha.

- Ser eterno, ou praticamente eterno, não é tão bom quanto parece ser, logo você encontrará alguém e duvido que se sinta bem com isso.

Kid disse isso e se perdeu em pensamentos.

- Ovos e bacon então? - Gustavo perguntou meio que para lembrar o lupino de que estava com fome.

- Sim, sim, está tudo ai fique a vontade, não cozinho há algum tempo, tenho dado preferência por caçar.

- Belo anfitrião você é.

Terminou de avaliar a cozinha e se colocou a trabalhar, terminou de preparar ovos com bacon e foi para a mesa, Kid se juntou a ele.

- O que você sabe sobre a mente garoto?

Gustavo engoliu um pedaço enorme de bacon.

- Er... bem não muito, tudo o que ouvi dizer era que se trata de algo como sintonizar uma rádio, meu mestre não parece ser muito bom nisso, então nunca falava muito sobre o assunto.

- A base é essa mesmo, sintonizar uma rádio, mas você tem que encontrar o que no seu cérebro te permite sentir as coisas com a mente, é como ter controle sobre um determinado sentimento ou uma sensação específica. Quando você usa o vento acaba usando todos os seus sentidos ao mesmo tempo, tato, olfato, visão, audição e paladar, no caso da mente é diferente, apenas a mente é utilizada, nada além disso e sua energia vital, quanto mais praticar menos difícil é, e mais seguro fica.

- Isso não parece ser tão complicado assim, sentimentos são base do dia a dia dos seres humanos, deveria ser fácil pra todo mundo então, não consigo entender a essência disso.

- Você não ouviu o que eu lhe disse? Energia vital e fora o fato de saber que seu cérebro pode lidar com isso, é como ter fé, se você acredita você consegue, mas tem um “porém”, lembra-se de quando tentou fazer magia pela primeira vez? Lembra do quanto seu corpo sofreu com isso? Lembra-se de como ficou cansado? Tive amigos que tentaram entender o mundo por trás do véu.

Ficou alguns instantes com uma expressão pensativa, quase como se esquece de que tinha companhia e tão súbito quanto o devaneio chegou, foi embora e ele retomou a conversa.

- Um deles tentou conhecer o mundo dos magos por conta própria, encontrou seu fim num dos primeiros feitiços que realizou, era mais poderoso do que ele podia lidar e tomou sua vida. Conheço alguns que tornaram-se loucos ao tentar usar a mente para comunicar-se com outros seres, não tinham entendimento bom o bastante do que é esse “dom” e não conseguiam controlar, ouviam tudo, as mentiras, as verdades doloridas, sabiam de coisas que não deveriam saber. Se não souber como começar nunca saberá como parar, mas se começar e não souber como parar terá um destino cruel com certeza.

Gustavo ouviu com atenção cada palavra, fazia sentido de alguma forma.

- Neste caso a melhor forma de buscar esse conhecimento seria em lugar isolado, longe de tudo e de todos.

- Isso é o bastante? Consegue saber se realmente estamos a sós agora? Como sabe que não existem inimigos da “Alma” prontos a atacar assim que encontrarem uma brecha? Não, isso é arriscado, pelo menos pra quem é humano, outros seres tem força física e mental maiores que humanos, por isso entram nessa assim que descobrem que é possível, já humanos tem que pensar e planejar bem. Além de estar bem protegido o humano tem que ter todo o tempo do mundo pra isso, alguns despertam e controlam o básico em horas, outros em anos, não da pra saber.

- Saquei, então desde que se esteja bem protegido o que falta é descobrir como ativar a sensação ou sentimento adequados, ouvi dizer que existe uma magia antiga, uma runa milenar que pode me trazer esse poder, mas como você disse não poder controlar pode ser fatal.

- Não sei muito sobre essa runa, mas seria algo que adiantaria o processo de aprendizagem com certeza, talvez devesse tentar. No caso de lupinos é fácil porque todo animal tem isso, nós temos uma frequência própria, podemos sentir um ao outro, para comunicação entre bandos, isso nos permite ir além com mais facilidade que um vampiro ou um mago. Claro que existem outros com facilidade nesse ponto, como os iluminados, eles são Eleitos, escolhidos por Deus para equilibrar as coisas por aqui enquanto Ele está lá em cima cuidando dos últimos dias da humanidade.

- Entendo. Bom, vou tentar isso depois, agora preciso me alimentar, não tenho dons de bandeja como você, preciso me matar de comer para segurar a onda de usar as runas.

Gustavo se serviu de mais uma porção de bacon com ovos e se afastou do prato por um momento, havia feito o bastante para três pessoas, mas o prato encontrava-se vazio, um som o fez pular, era a campainha da casa, Julius devia ter chegado.

Ele olhou para frente e Kid não estava mais lá, recitou:

 

"Ianuae Magicae"

 

Usou o tele transporte para chegar ao portão em tempo de aloprar Kid, mas ele já estava saltando sobre o muro e derrubando a moto de Julius no chão, isso sua moto, pois o mesmo já não estava mais lá, estava em cima do muro olhando para Kid com um grande sorriso no rosto.

Julius atirou-se com velocidade alucinante contra Kid os braços estendidos a frente, Kid se virou a tempo de segurar as mãos de adversário, um sorriso tão largo quanto o dele, ficaram nessa queda de braço por um momento, então Kid tremeu violentamente, Julius o soltou, deu um salto para trás e recuou alguns passos colocando-se à mais ou menos quatro metros de distância. Kid deu um sorriso malicioso e partiu em direção ao amigo, o que se viu depois foi algo realmente fora do comum. Ele saltou como um humano, durante o salto seu corpo tremeu mais uma vez, um urro ensurdecedor encheu o ambiente e um lobisomem de pelo menos três metros de altura, musculatura incrivelmente desenvolvida, dentes que mais lembravam os de um tubarão e garras que pareciam de aço surgiu no ar. O Iluminado montou sua base colocando a perna direita para trás. Respirou fundo e colocou as mãos para frente ficando cara a cara com a fera que vinha como um trovão em sua direção, BUUUUMMMMM, o som do impacto foi realmente de um trovão, poeira levantou e tudo ficou em silencio, exceto pelo som de um coração batendo acelerado e um rosnado baixo que saia pela boca da criatura.

Gustavo estava boquiaberto, a visão era absolutamente irreal, Julius estava com um joelho no chão devido ao impacto com o Lupino, suas mãos nas patas do adversário, um sorriso ainda em seu rosto e seus olhos presos nos olhos da criatura. Gustavo se mexeu rápido e desceu do muro, invocou a Rocha e acelerou, não ia deixar Julius ser destruído por isso.

 

- Pare!

 

Gustavo estacou, Julius falava em sua mente.

 

- Relaxa, ele sempre faz isso, nunca luta com ninguém, sempre que me vê da uma de louco e vem com tudo.

 

Um rugido estourou no ar e Julius foi arremessado à pelo menos vinte metros de altura. Kid saltou em seu encalço, Julius estava descendo enquanto Kid estava subindo e mais ou menos na metade do caminho se chocaram, giraram segurando um ao outro, Julius deu uma cabeçada no focinho da criatura que urrou de dor enquanto sangue escorria e seus olhos lacrimejavam devido à pancada. Aproveitando-se disto Julius girou o corpo enorme do lupino e o atirou contra o solo como um míssil, um estrondo enorme se fez e uma cratera se abriu, mas Kid estava agachado e não deitado como era de se esperar. Julius tocou o chão e sentiu o corpo enorme do Lupino se movendo na velocidade da luz em sua direção, concentrou-se e desapareceu também, a cada intervalo pequeno de tempo um trovão estourava quando os dois se chocavam, após aproximadamente oito trovões, tudo ficou quieto, e então dois vultos um de cada direção estavam vindo de encontro a Gustavo que ainda estava no meio da batalha, ambos pularam e arriscaram um ultimo golpe, Kid se deu bem, seu corpo grande atingiu Julius e o jogou de volta ao chão, ele tocou o solo se desequilibrou e caiu de bunda, neste momento um rosnado encheu novamente o ambiente e Kid voltou a sua forma humana, agora nu, mas sem se importar com isso.

- Vinte para mim, vinte para você, estamos empatados - Julius ria com vontade.

- Cara, você está enorme, não me lembro de meu cachorro de estimação ser tão grande assim.

Kid e Julius se uniram em uma grande gargalhada enquanto Julius se levantava, Gustavo relaxava um pouco.

- Vocês são loucos ou o que? Podiam se matar sabia?

- Nhem nhem nhem nhem nhem nhem, para de ser mocinha garoto, se quiséssemos mesmo uma morte aqui ninguém teria atacado diretamente, somos rápidos demais pra conseguirmos acertar um ao outro em ataques diretos, fica tranqüilo mamãe.

Novamente Julius e Kid estavam dando gargalhadas, Gustavo virou-se e foi em direção a casa, Julius levantou a moto e entrou na propriedade.

Israel guardou a espada e foi falar com Rafael, que chegara junto com o humano.

- Israel meu irmão, não esperava que estivesse nisso também.

- Rafael, é bom vê-lo. Quase matei esse lobo, se eu não soubesse que ele era parte da batalha ele estaria morto agora.

- Já me acostumei com isso, já vi eles fazendo isso diversas vezes, é o “seja bem vindo” do Lupino.

Israel ainda estava com um olhar desconfiado.

- Vamos irmão, vamos entrar, precisamos acertar algumas coisas, Julius vai ficar feliz em conhecer você.

- Julius seguia para o portão, olhou para cima na direção de Rafael e viu que havia um novo anjo com ele.

- Quem é o guerreiro contigo?

Kid revirou os olhos.

- Eu sabia que havia seres espirituais por aqui, tinha que ser, tem um guarda costa pro garoto?

- Não sei ainda - respondeu - Rafael, este anjo cuida de Gustavo?

 - Sim, ele vai ajudar na batalha.

- Não tem um anjo pro meu amigo Lupino - Julius perguntou meio desconfiado.

- Lupinos não precisam de segurança, demônios não podem tocá-los.

- Entendo. Bom, vamos entrar e conversar por um momento. Está me devendo uma moto, Lupino, eu acabei de comprar essa.

- Tem uma parecida na garagem, fica a vontade.

Disse Kid sem emoção, e seguiram para casa.

Todos entraram, Julius deixou a moto destruída na garagem de seu amigo e desceu para a casa.

- Oh loco, você resolveu investir mesmo, nem parece o mesmo lugar que me lembro de uns anos atrás, deixando a grana sair um pouco mano?

- Para de graça, você poderia ter uma casa tão grande quanto essa, mas você gosta de lugares apertados.

- Verdade. Vamos nos sentar, preciso descansar um pouco você ta mais forte do que antes.

- Você também melhorou bastante, quase matou o guri do coração quando gritou dentro da mente dele.

- Não gosto de usar essa habilidade a toa, tentei ligar, mas só chamava, acabei decidindo ir para lá ver se estava tudo bem.

- Vocês são muito engraçadinhos, um tem mais de mil anos e outro ta beirando os oitocentos, assim fica fácil rir de quem tem pouco mais de um século.

Todos riram com a ceninha de Gustavo, incluindo os dois grandes anjos que esperavam para se manifestar.

- Deixa de frescura Potter – Gustavo ficou vermelho e fechou a cara – em breve você pega o jeito. – Virou-se para Kid - Mas e ai amigo, o que me diz, posso contar contigo? Não sei ainda qual o motivo verdadeiro dessa batalha, mas fui informado de que recrutaram um vampiro ancião para lidar comigo. – Fez uma pequena pausa de efeito e continuou - Não precisa ser um gênio pra saber que eles querem mover-se com mais facilidade por aqui, visto que sou o único iluminado em batalha no Brasil, mesmo assim é obvio que esse é apenas um método de realizar outro plano sem interferência. Ele com certeza não virá sozinho, vampiro ancião não brinca em serviço, não mede esforços pra vencer e tão pouco se importa com escrúpulos humanos na hora de montar sua estratégia, sei que vai dar trabalho, não queria pedir por isso, mas Rafael me disse para não ficar sozinho desta vez.

Kid fechou os olhos por um instante, não gostava de ver através do véu, mas estava curioso. Abriu novamente os olhos e viu os dois anjos logo atrás de suas respectivas responsabilidades. Rafael devia ter pouco mais de dois metros de altura, era imponente, mas o outro também o era, então não poderia se afirmar que seria por sua patente. Sua pele parecia bronze, na verdade algo muito próximo do ouro envelhecido. uma espada estava presa a uma bainha, um manto cobria seu corpo, mas deixava suas asas, enormes, expostas, o anjo que estava atrás de Gustavo era maior ainda, esse com certeza tinha pelo menos três metros, era muito forte e tinha o mesmo tom de pele que o companheiro, sua espada era proporcional ao seu tamanho e seu manto era negro como a escuridão, com certeza um ser a ser temido.

- Guardiões – Disse Kid fazendo uma reverência, não tinha partido tomado e tão pouco era do tipo religioso extremista, mas sabia que os anjos eram em suma protetores dos humanos e tinha respeito por eles. - Posso me juntar a vocês? - Tanto Israel quanto Rafael concordaram com um aceno.

Fez-se silêncio por um tempo enquanto Julius e Kid olhavam os anjos.

- Será que alguém pode me ensinar a ver esses seres celestiais ou eu vou ter que ficar às cegas mesmo? - Disse Gustavo.

Todos riram.

- Calma cara, logo você pega o jeito. Eles poderiam permitir que você os visse, mas isso não ajuda na hora de lutar, você seria capaz de ver somente quem lhe permitir para sempre, suponho que eles queiram que você aprenda a ver com olhos espirituais. Lupinos recebem isso por natureza, só precisam escolher olhar, humanos precisam estar conectados ao mundo espiritual, você tem que acreditar e não saber que existe, é uma relação complexa, mas você chega lá - Julius terminou de falar e andou até o anjo Israel.

- Você ficará a cargo de meu amigo durante a batalha?

- Sim. Ficarei com ele até que nossa vitória seja completa.

- Muito obrigado. – Disse Julius com sinceridade - Peço que cuide dele. Se essa batalha for metade do que espero que seja, mal teremos tempo suficiente para cuidar uns dos outros no plano físico. Sei que será difícil para ti durante as batalhas, mas pelo poder que sinto emanando de ti e pelo manto que usa, ouso dizer que não será problema. Se não soubesse que Deus jamais permitiria que um Arcanjo viesse a terra sem ser para proteger um portal eu diria que você é um dos Sete.

O anjo sorriu e confirmou com um aceno de cabeça, Julius arregalou os olhos, virou a cabeça para Gustavo e de volta para o arcanjo.

- Meu amigo é um portal? - Perguntou atônito.

- Não meu caro, se fosse eu não estaria usando o Manto Negro, mas meu Deus me disse que seria uma batalha difícil, que meu irmão tenta cumprir suas próprias profecias, palavras antigas de quando ele ainda morava na casa do Pai. Deus me disse que essas palavras não devem se cumprir.

- Sete? O que quer dizer com ser um dos Sete? - Perguntou Gustavo.

- Ele é um arcanjo - Disse Kid.

- E o que tem de mais nisso, anjo é anjo não? - perguntou Gustavo.

- Nada disso filhote, existe uma classe de anjos que foi criada no início de tudo! Quando o Grande e Trino Deus andava pelo universo sozinho, Ele decidiu criar algo pra lhe fazer companhia - Parou um instante e virou-se para Rafael - Posso contar-lhe sobre o inicio do Palácio Celeste?

Rafael acenou indicando que continuasse a contar.

- No Inicio dos tempos nada existia a não ser o universo vazio que cercava a Deus, um limbo sem fim. O Deus tremendo decidiu então criar coisas que lhe parecessem boas a seus olhos. Criou estrelas feitas de uma matéria retirada de sua glória, criou estrelas maiores e menores, e destruiu algumas das maiores para ver o efeito da explosão, e surgiram buracos negros, nebulosas, amontoados de gazes e poeira cósmica e Deus muito se alegrou com tudo o que havia criado, porém não tinha com quem compartilhar nada do que criara, então Deus criou sete caixas douradas adornadas com matérias brilhantes e puras. Havia cores mutáveis em volta de toda a superfície das caixas e eram brilhantes mesmo em meio ao folgo que as envolvia, e Deus sabia o que era bom e o que era mal e esse fogo que envolvia as caixas consumia apenas a maldade.

Fez uma pausa como que imaginando como deveria ser sublime e glorioso. Respirou fundo e voltou a falar.

- Cada uma continha um pouco da glória de Deus e por mil anos elas ficaram fechadas enquanto Deus as "Cultivava" por assim dizer, ao final dos primeiros mil anos o primeiro ser deixou sua caixa. Ele não tinha forma, era um espectro, mas assim que se pôs diante do Altíssimo tomou a forma mais próxima possível de seu Criador, tornou-se absolutamente perfeito, grandioso e poderoso, o sol parecia vir de dentro dele e Deus o chamou de Lúcifer, a Estrela da Manhã. Por mil anos Lúcifer foi companheiro de Deus navegando pelo Universo que Ele criou, conhecendo os segredos que Deus lhe permitia conhecer e Lúcifer era grato a Deus por cada segundo de vida que tinha ao seu lado.

- Ao final de novos mil anos, nova caixa se abriu e dela saiu um novo espectro que se tornaria uma nova criatura, Lúcifer deu as boas vindas e esse novo ser e este, assim como Lúcifer tomou a forma de seu Criador. Era muito semelhante a Deus, seu corpo transbordava de "Shekinah" que é a própria Glória de Deus, ele era absoluto em poder, seus olhos continham a sabedoria do tempo e a fúria da justiça queimava como em fogo constante em seus olhos. Sua conexão com Deus era realmente de criatura e criador. Deus o chamou de Miguel, Aquele que é Como Deus. Lúcifer sentiu ciúmes, sentiu-se traído por Deus, pois ele era o primeiro, era magnífico e merecia o titulo de ser mais próximo de Deus, mas o pai celeste aplacou sua fúria mostrando-lhe que ama seus filhos igualmente.

- Ao final do terceiro milênio outra caixa se abriu e nova criatura se colocou diante de Deus, o poder que emanava dele era grande e destrutivo, seu corpo tomou forma duas vezes maior que a de seus irmãos e Deus o chamou de Gabriel, a face serena e poder incontrolável fariam dele a Mão Esquerda de Deus. Estes três estiveram junto de Deus por mais um milênio inteiro e ao final deste milênio todas as outras caixas se abriram e enfim os Sete Arcanjos estavam vivos e juntos de Deus.

- O Pai Celeste lhes ensinou tudo o que era preciso saber e a tristeza na face de Miguel e Ya-hel, que é o Arcanjo da Sabedoria Divina, era completa. Desde que tiveram conhecimento do que é futuro e deram-se conta de que conseguiam vê-lo, tentavam ter conversas particulares com Deus, mas Ele não permitia e sempre dizia "Tudo em seu tempo". Esses dois Arcanjos sabiam da traição de Lúcifer desde o início, temiam que Deus destruísse seu irmão. Eles não conheciam todos os detalhes, mas sabiam o resultado final e mesmo assim não podiam dizer nada a Lúcifer, Deus os proibira. Os sete arcanjos são:

- Lúcifer a Estrela da Manhã.

- Miguel chamado de "Aquele que é como Deus".

- Gabriel é Aquele Enviado por Deus.

- Esses três são conhecidos como príncipes dos anjos, mesmo Lúcifer o Arcanjo Negro ainda é, e será até sua destruição, um dos três príncipes, são os mais poderosos dos arcanjos.

- Israel é Aquele que Reina com Deus, guerreiro poderoso em batalha, treinado nas artes de luta por Miguel, seu dom é e sempre será Lutar.

- Uriel é o Arcanjo Guardião da Alquimia Divina, seu dom é manipular a matéria criada por Deus.

- Mikael é o Arcanjo da Guarda, Deus o incumbiu de cuidar de todos os que por Ele clamam.

- Ya-hel, arcanjo da sabedoria, Deus lhe ensinou todos os segredos da criação, ele ajuda as pessoas a encontrar as respostas que as levarão a presença de Deus. É o mais tranqüilo dos arcanjos.

- Dizem que nada pode deter um arcanjo além de Deus é claro, ou um dos Arcanjos, e se estiverem os Sete reunidos somente Deus e mais nada no universo pode pará-los. Houve uma batalha no início dos tempos em que todos os anjos enfrentaram os Sete Arcanjos e somente cinco anjos ficaram de pé no final da batalha, mas isso não vem ao caso.

- Depois da queda de Lúcifer e sua corja, Deus os proibiu de sair do Palácio Celeste. Quando os homens foram criados, Deus lhes permitiu ter uma ligação maior com Ele e alguns deles nasciam com uma concentração muito grande de poder divino. Ya-hel confidenciou com Deus propósitos sombrios que pairavam sobre estes humanos e Mikael também sentia que deveriam ser protegidos, de forma que Deus permite aos Arcanjos estar na terra quando se tem um desses homens andando sobre a terra. Desde que Deus deu esta ordem, sempre que um humano assim nasce um Arcanjo vem a terra, na verdade os humanos sempre percebem que eles chegam, quando cruzam o Portal Celeste entre o reino de Deus e o mundo dos homens geralmente ocorre alguma catástrofe. Acho que é por isso que Deus não lhes permite vir aqui, Deus ama demais os homens para colocá-los em risco. Um humano com esses poderes é chamado de “Portal” e é algo raro nos dias de hoje, mas antigamente era comum, houve uma época em que três portais viveram ao mesmo tempo na terra. Um portal tem tanta concentração divina dentro de si que é capaz de suportar ser “usado” por um Arcanjo, isso quase nunca ocorre, somente por ordens divinas e isso se o humano aceitar, eles serviram de recipiente para Uriel, Miguel e Mikael nos dias de Sodoma e Gomorra para ver se um justo encontrava-se na cidade, dizem que foram eles quem destruíram a cidade, na verdade apenas um deles precisou agir.

- Israel é um dos Sete, Deus permitiu que um arcanjo participasse da batalha então você pode entender a gravidade de situação, o Manto Negro sela o poder de um Arcanjo, faz dele um anjo comum. Deus prosseguiu criando anjos para povoar o Palácio Celeste, os fez Querubins e Serafins, toda sorte de anjo é também um guerreiro, mas nada pode ser comparado aos Arcanjos.

- Lúcifer teme que Deus se prepare para o dia do Julgamento, creio que as profecias falem sobre isso. Não sabe mais nada sobre isso Rafael? - Perguntou Julius

- Negativo, são coisas que somente Deus e Lúcifer conhecem, Ya-hel deve saber também, mas sua lealdade a Deus jamais lhe permitiria falar sobre as coisas dos últimos dias que não foram ditas no novo testamento.

Rafael terminou de falar e fez um aceno para que Israel o seguisse para fora, atravessou o telhado e sumiu. Do lado de fora da casa fitaram os céus.

- Sabe de algo que possa nos ajudar Israel? – Perguntou Rafael.

- Nada meu caro, Deus me enviou pra proteger o mago, me disse que a batalha seria difícil, que Lúcifer já tem alguns pontos a seu favor e que não devemos permitir que ele consiga mais do que já tem.

- Entendo, por hora devemos apenas orar, pedir o Seu favor nessa batalha e esperar que a confiança que Ele deposita nos homens que escolhe para as batalhas que estão por vir seja confirmada.

Rafael terminou de dizer essas coisas e fitou os céus, nuvens escuras cobriam o horizonte, olhos treinados para reconhecer o mal, sabia que coisas ruins estavam aproximando-se.

Dentro da casa os ocupantes distraíram-se com uma conversa sobre outras oportunidades de encontro e como era bom ver todo mundo junto. Despreocupados, não sabiam o que viria, mas o fato de estarem juntos lhes permitiu sentir vitória mesmo antes de conhecer seus inimigos.