Pessoas correndo, choro, lágrimas, gritos de terror, medo e pânico e em meio a tudo isso os sensitivos, aqueles que conhecem o sobrenatural, podiam ouvir rugidos monstruosos vindo do próprio inferno.

Corpos dilacerados, ossos partidos, no plano físico também havia agonia, sob a gargalhada psicótica dos agentes das trevas, uma verdadeira canção de morte!

Era o ano de 1282, oitavo ano do Reinado de Eduardo I, filho de Henrique III da Inglaterra. Também foi o ano em que Eduardo I conquistou o País de Gales. Dois anos mais tarde este seria indexado à Inglaterra através do Estatuto de Rhuddlan. Uma época muito conturbada para os ingleses e um tanto pobre, tendo em vista que a “Coroa Inglesa” confiscava bens e cobrava altas taxas a fim de se armar na investida contra o País de Gales.

Em um vilarejo a oeste de Norwish, segunda maior cidade na época ficando atrás apenas de Londres, era por volta das vinte horas e Julius e sua família estavam sentados á mesa, orando pela pequena cidade com pouco menos de dois mil habitantes, um verdadeiro vilarejo para os padrões ingleses da época. Pouco desenvolvido comercialmente visto que havia um centro comercial a um dia de viagem dali.

Oravam pedindo a Deus que cada cidadão daquele lugar fosse protegido do mal, que cada pessoa que ali estava pudesse conhecer a graça de Deus, clamavam pelo amor de Cristo para com os pecadores.

Haviam se estabelecido por ali a pouco mais de um ano, em missão divina, como os pais do pequeno e mirrado menino sempre diziam. Partiriam dali em duas semanas para a próxima cidade e depois para a próxima e assim por diante até que Deus lhes desse uma ordem diferente.

No geral ficavam no máximo dois ou três meses em cada cidade, mas gostaram tanto de Terrusso, nome do vilarejo em que se encontravam, que acabaram ficando mais tempo.

Julius nascera nos arredores de Burgos sob controle do Reino de Castille no ano de 1272. Sua mãe nasceu na Inglaterra, família nobre e bem abastada, ela tinha pele branca e cabelo castanho claro, presentes de seu pai. Casou-se com um rapaz do oriente médio, nascido em Jerusalém, também de família nobre e que já vivia na Inglaterra à pelo menos quinze anos, era moreno, cabelo escuro, rosto sério e expressão decidida, um cristão fervoroso assim como sua esposa.

Decidiram viver em missão, foram tocados por Deus e aproveitaram a sorte que tinham com relação a finanças e partiram para pregar a palavra de Deus de cidade em cidade por todo o mundo, ou até onde Deus lhes permitisse chegar, mal sabiam eles que o fim desse caminho estava mais próximo do que gostariam.

Julius nasceu em meio às missões, quando perambulavam ao norte da Espanha. Após um ano, mais ou menos, de trabalho missionário, sua mãe deu conta de que estava grávida e decidiram ir a um local mais apropriado para ela dar a luz, decidindo assim ir a Burgos, já que estavam próximos a grande cidade.

Ela deu a luz ao pequeno e ficaram por ali cerca de dois anos, até que estivesse em condições de sobreviver numa vida de estrada. Ele cresceu ouvindo a palavra de Deus, ouvindo e vendo a devoção diária de seus pais e nada no mundo poderia fazer-lhe perder a vontade de seguir o mesmo caminho e foi assim que vieram parar nesta pequena cidade, foi assim que se colocaram em perigo neste dia, foi assim o principio do fim de uma família.

Ouviram um som forte vindo de fora da casa seguido de rugidos monstruosos, de inicio pensaram que estavam sob ataque dos Celtas ou talvez de Galeses fugitivos, o que seria um feito e tanto já que não estavam próximos às divisas da Inglaterra e tão pouco na região costeira, o som foi intensificando-se até tomar proporções de uma verdadeira batalha. Levantaram-se da mesa olhando em todas as direções e apurando os ouvidos para tentar identificar o motivo de todo o reboliço que se ouvia, olhos assustados e alertas.

Moravam numa casa pequena, porém bem organizada, encontravam-se em volta da mesa que ficava na cozinha, havia poucos utensílios dispostos pelo local, um fogão feito de tijolos, alimentado por lenha, armários de madeira rústica de aspecto forte e duradouro, uma bancada de pedra que lhes servia de pia para lavar os utensílios usados no preparo e consumo da comida e algumas panelas penduradas em ganchos e pregos nas paredes, uma casa simples.

Na parede oposta ao fogão ficava a saída da cozinha que dava acesso a sala, sendo que uma escada que levava ao segundo patamar da casa ficava colada a saída da cozinha e de frente a esta escada ficava a entrada da casa. Subiram as escadas que terminava em um corredor, a direita deste ficava o quarto do garoto e a esquerda o quarto dos pais.

Dirigiram-se ao quarto dos pais, abriram a porta de madeira pesada e foi revelado um cômodo tão simples quanto o restante da casa. Uma cama com um criado mudo de cada lado onde velas acesas estavam colocadas, do lado direito um grande baú para as roupas, do lado esquerdo duas escrivaninhas de madeira onde repousavam cópias das escrituras e nada mais.

Deixaram Julius escondido em baixo da cama, colocaram-se de joelhos e iniciaram uma oração contida que em pouco tempo se tornou cheia de clamor e palavras de adoração. Enquanto oravam ouviram o estrondoso som de um trovão, porém este veio carregado de angustia e sofrimento, as velas que ali estavam acesas foram apagadas e dois seres com asas enormes que quase cobriam todo o cômodo invadiram.

Um tinha aproximadamente três metros de altura e o outro pouco mais de dois metros. A pele de ambos era negra como a noite, corpo forte e maciço, suas expressões eram agressivas e selvagens e mesmo que sua face revelasse ser bonita como todo angelical, neste momento seus lábios delineavam um sorriso frio e assassino.

Mais uma vez fez-se ouvir um som de trovão e os invasores sacaram as espadas, que assim que desembainhadas emanaram fogo. O maior dos invasores fez um circulo acima da cabeça e descreveu um arco atacando o pai de Julius, que assistia a tudo incrédulo, não era a primeira vez que via seres espirituais, mas nunca os tinha visto tentando atacar seus pais.

O ataque foi bloqueado por uma esfera de luz que se formou em volta dos devotos, o fogo da espada se extinguiu de imediato, o casal abriu os olhos e estenderam as mãos na direção dos intrusos e o pai de Julius ordenou.

- Anjo caído. Ordeno a ti, no Nome de Jesus, saia de minha casa.

- “Demônios”- Disse Julius num sussurro assustado. Nunca havia visto demônios com aparência angelical antes. A dupla demoníaca se contorceu de dor e caiu de joelhos, seus olhos tornaram-se ainda mais selvagens e eles rosnavam como bestas do inferno, foram arrastados para fora da casa como que por mágica e assim que eles saíram do quarto um anjo resplandecente entrou no recinto. Era enorme, forte e imponente, tinha asas tão brancas quanto os olhos humanos poderiam suportar e seu corpo estava envolto e uma esfera de luz Azul Celeste. Sua espada em fogo de mesma cor estava em seu punho direito e um escudo de ouro com runas celestes na mão esquerda, seus olhos também ardiam em chamas azuis, seu corpo estava marcado por batalhas, com diversas cicatrizes, olhou em volta e depois para os pais de Julius.

- Filhos do Deus Vivo, peço desculpas pela demora, vou chamar ajuda, eles não estão sozinhos, peço que esperem aqui, protejam-se e orem.

Eles concordaram com a cabeça e voltaram a orar.

Julius estava estupefato, já vira anjos também, mas nunca os tinha ouvido falar, era uma voz forte como uma torrente de águas, era absolutamente aterrador. Nada no mundo ousaria contrariar uma ordem angelical, pois suas palavras continham a certeza e a verdade.

Alguns segundos depois, novos demônios surgiram. Esses não tinham a graça angelical. Eram demônios em toda a sua compreensão. Tinham aspecto bolorento, escamas cobriam a pele na altura do peito, ulceras disputavam lugar com verrugas e todo tipo de doença parecia cobrir um corpo em estado de decomposição constante. Asas de morcego abertas, corpos nus e espadas nas mãos. Ficaram rodeando os humanos que ali estavam, então, o som de madeira quebrando foi ouvido na parte de baixo da casa e segundos depois a porta do quarto onde estavam também foi quebrada, dos escombros que ainda se prendiam no umbral da porta surgiram duas pessoas.

Os pais de Julius se colocaram de pé, e em vão tentaram parar os invasores, que se lançaram contra eles em ataque furioso. Um deles segurou o pai do menino pela garganta, torceu um pouco e o pescoço fez um estalo, não chegou a quebrar pois o vampiro queria levar o homem ainda vivo, mas a dor excruciante foi suficiente para minar as forças deste homem e o corpo praticamente inerte foi jogado ao chão, ainda respirando em arfadas sofridas e curtas, seus olhos vidrados em seu filho escondido, filho que chorava desesperadamente.

O monstro que ali estava começou a desferir chutes violentos no corpo do pai do garoto, segundos depois o corpo de sua mãe também caiu no chão, cortes em seu rosto, pescoço e abdome. Ela chorava. Assim que o garoto viu isso, um brilho tomou conta do local, ele sentiu selvageria incontrolável, deixou seu esconderijo, fazendo com que demônios e invasores se sobressaltassem, a luz envolvendo seu corpo lembrava chamas, queimando em fúria, foi em direção ao demônio mais próximo que, ao que parece, não esperava que o garoto fosse capaz de tocá-lo e teve uma surpresa, pois assim que o garoto desferiu o primeiro soco o fogo que o envolvia consumiu metade de seu corpo.

Neste momento um dos invasores lançou-se contra o menino, que estava perdendo os sentidos devido ao uso inesperado deste poder divino. Quando estava perto de tocá-lo foi parado por um novo intruso, um novo monstro, grande demais para o lugar. Este fera monstruosa cravou suas garras de aço na barriga daquele que tentava pegar o menino, arrancando suas tripas, a vida abandonou seus olhos, a fera abriu a boca e com uma bocada arrancou a cabeça do adversário, nesse ponto o menino desmaiou.

A fera virou-se para Julius enquanto ele desmaiava, ia em sua direção quando levou um soco no estomago, ataque feito pelo outro humano que ali estava, o golpe não teve efeito algum e foi respondido em medida desleal, apenas uma patada do monstro dividiu o adversário em duas partes, sangue negro espirrou em todas as direções e a fera o tomou o garoto nos braços seguindo em direção a saída da casa enquanto os demônios eram atacados por anjos em fúria.

A criatura desceu as escadas e saiu da casa. O quadro do lado de fora era apocalíptico, pessoas corriam desesperadas, pois não sabiam o que fazer enquanto todo o vilarejo ardia em chamas. Pessoas eram caçadas como animais, abatidas como gado, viam o sangue abandonando o corpo, a vida deixando seus olhos, em alguns casos pedaços de corpo ficavam espalhados, os humanos ali estavam sendo dizimados.

Homens e mulheres em meio à escuridão e o caos cravavam dentes em seus corpos enquanto monstros horrendos atravessavam pessoas açoitando suas almas, urrando em fúria, regozijando-se no sofrimento humano, no desespero de seus gritos e nas lagrimas derramadas.

Alguns homens e mulheres tentavam deter aqueles seres amaldiçoados que mordiam seus “iguais”. Usavam espadas e seus movimentos rápidos e precisos faziam com que rastros de luz fossem vistos em todas as direções enquanto arrancavam cabeças e atravessavam corações, cada inimigo que caía se desfazia em cinzas, consumido por eras em questão de segundos, consumido pelo fogo que não podia ser visto.

Os defensores do vilarejo sumiam momentaneamente, reaparecendo frente a um novo inimigo, um novo monstro que, rapidamente, se tornava sua nova vitima.

A criatura foi até os limites da cidade, próximo a floresta, colocou o garoto no chão, com o maior cuidado que seu corpo grandioso lhe permitiu. Uma mulher chegou e depositou o corpo de sua mãe a sua direita e um homem depositou o corpo do pai a sua esquerda, voltaram para a cidade, para a batalha.

O garoto ficou desacordado por alguns minutos, a criatura ao seu lado defendendo-o de todos os ataques enquanto a batalha na cidade estava em um ritmo frenético e devastador.

Quando despertou foi tomado por um estado de choque. Usava uma calça folgada feita de pano velho, própria para dormir, estava descalço e a camiseta que usava seguia o mesmo padrão da calça, sendo que era completamente branco. Tinha olhos castanhos assim como os cabelos e sua pele era jambo, o corte de cabelo era curto, em diferença a maioria dos homens da época. Encontrava-se sentado no chão, petrificado, uma criatura inimaginável rodeando-o, olhando para o campo de batalha, mas sem se afastar. Alguns ataques vinham em sua direção ao que eram instantaneamente detidos e respondidos em escala absurdamente desproporcional, cada vez que a criatura estendia suas garras de aço em direção ao inimigo o mesmo se dividia em diversas partes, pedaços de braços e pernas jaziam em volta da criatura, assim como cabeças esmagadas.

Julius tentou levantar-se, mas seu corpo não obedeceu, colocou-se de joelhos e olhou em volta. Começou a tremer violentamente, seu rosto suado, os olhos saltando das órbitas, lagrimas escorrendo enquanto olha à sua direita para o corpo castigado de sua mãe, ainda estava viva, mas não estava bem, respirava em pequenas arfadas que lhe causavam muita dor, suas forças se esvaindo junto com o sangue que praticamente já não tinha mais no próprio corpo e do lado esquerdo do garoto estava seu pai em situação pior, pois não se via mais o subir de descer do tórax que indicasse que ainda respirava.

Julius estava cravado no chão, não conseguia mover-se, olhava perplexo para o quadro de horror pintado com o sangue de seus pais e amigos.

A criatura ao seu lado levantou o corpo grandioso e fez pose de ataque, nesse momento o garoto teve sua atenção tomada por luz, muita luz, anjos celestes estavam chegando, expulsando as feras que açoitavam almas, destruindo demônios. Um dos Angélicos parou a direita da criatura que protegia o menino e lhe fez um aceno, nesse momento a fera tomou o menino em seus braços e partiu em direção a floresta, correndo com o vento, na verdade cortando o vento, era alucinante, não era humano, não era normal. Diminuiu a velocidade abruptamente e fixou seu olhar a frente com um rosnado de fúria saindo de sua garganta, alguns segundos depois uma figura negra surgiu entre as árvores, seus olhos brilhando como rubis incandescentes. Seguiu adiante, cautelosamente, enquanto um rosnado gutural saia de sua garganta, quando estava a poucos metros foi possível perceber a semelhança com a criatura que carregava o garoto.

O menino foi colocado no chão, a criatura olhou em seus olhos e “falou” em sua mente.

 

"Corra o máximo que puder, te alcanço em breve, não olhe para trás, vá"

 

O garoto de olhos esbugalhados não conseguia se mover, então um rugido de estourar os tímpanos e gelar o sangue o retirou do transe, do choque em que se encontrava, virou a cabeça na direção da outra fera a tempo de vê-la deslizando veloz em sua direção. Julius foi atirado alguns metros à esquerda e presenciou a cena mais incrível de sua vida até aquele momento, os monstros a sua frente tinham pelo menos três metros de altura cada e lutavam, desapareciam e quando reapareciam estavam se lançando um contra o outro, sangue jorrava de ambos.

Mais uma vez a mente do garoto foi invadida.

 

"Corra criança, corra"

 

O menino levantou-se com dificuldade, e correu, sem olhar para trás, sem se importar com o que estava acontecendo, aquelas coisas iam se matar. Correu!

Após alguns minutos correndo começou a ofegar, diminuiu um pouco a velocidade, a floresta escura não era convidativa, sons eram ouvidos vindos de todas as direções. Não queria ficar ali, não conseguia se acalmar, precisava de um lugar melhor, uma clareira ou algo do tipo que lhe permitisse ter alguma visão. Continuou andando por alguns minutos e por fim uma clareira surgiu.

A lua, brilhante e imponente sob o céu negro e repleto de estrelas, isso lhe permitia ver tudo a sua volta, parou no centro e tentou retomar o fôlego, sua mente foi acalmando-se e as lembranças de sua vila destruída foram ganhando vida, seu pai, sua mãe, amigos, todos, tudo estava destruído. Todos estavam mortos, ainda não sabia o que estava acontecendo, não sabia por que aquela criatura que lembrava um lobo ou um urso o havia ajudado, quando seus pais é que estavam sendo atacados, ainda não conhecia seu destino.

Olhava em todas as direções, o medo tomando conta novamente mediante as lembranças de seus pais mortos, ficou ali, sozinho, como lhe parecia ser seu novo destino, agora que seus pais foram tomados, baixou a cabeça e fixou seus olhos nos próprios pés enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. Ficou nesse estado de auto piedade por alguns segundos, ouvindo o vento soprar sobre as copas das árvores, ouvindo o farfalhar das folhas e do mato baixo do local onde estava, ouvindo o nada que tomara conta de sua vida, vagava nessas sensações quando um estalo se fez e chamou à atenção do garoto, ele fixou os olhos na direção de onde veio o som e segundos depois pode ver um vulto saindo das sombras, caminhando para o centro da clareira, vindo do lado oposto de onde Julius chegara.

Era um homem de aproximadamente um metro e oitenta, tinha a pele muito branca, como alguém doente, os olhos um tanto fundos e face ossuda. Usava vestes dos nobres, uma calça justa ao corpo de cor preta, uma camisa de gola branca por baixo de um tipo de colete de abotoaduras que ia até a linha dos joelhos e este era azul escuro. A gola da camisa ficava exposta e parecia ter babados, devia estar escondido por ali por causa da gritaria que vinha do vilarejo, mas estranhamente, em contraste a situação em que Julius estava o sujeito andava em sua direção sorrindo.

Uma nuvem passou diante da lua roubando um pouco do brilho da noite, da claridade do local, a escuridão revelou um brilho rubro nos olhos do homem que caminhava para dentro da clareira, olhos de terror, olhos assassinos como os olhos daqueles que estavam dilacerando homens e mulheres em sua vila. A sombra passou e se fez claridade mais uma vez, o homem que aparecera na clareira estava a poucos metros e seu sorriso revelou caninos compridos. Julius sentiu medo, suas pernas vacilaram por um momento e seu joelho quase cedeu. Sentia a morte chegando. Era seu fim, não havia como seu protetor voltar e dar cabo do demônio que se colocava a sua frente. Fechou os olhos e orou.

- Senhor, meu Deus, por favor, me livra disso.

Suplicou o garoto e assim que terminou de dizer isso viu o homem a sua frente parar de caminhar. Olhava para além dele, seus olhos intensificaram o brilho, um vermelho vivo tomou conta do lugar, trazendo um pouco mais de iluminação, o garoto se virou um pouco e viu um novo homem, que mais lembrava um mendigo, entrando na clareira. Era um dos que cortavam cabeças e matavam em meio ao caos, salvando vidas humanas.

 Seu olhar estava fixo no inimigo a frente do garoto que, mais uma vez, teve sua mente invadida.

 

- Tenha calma, venho ajudar, ande em minha direção bem devagar, não chame a atenção do outro.

 

Ao ouvir essas palavras o garoto sobressaltou-se, ouviu um estalo de madeira e quando deu por si o mendigo havia desaparecido. Piscou enquanto tentava entender o que havia acontecido e viu os olhos em vermelho vivo a sua frente a poucos centímetros de seu rosto, era seu fim, nada no mundo movia-se rápido o bastante para evitar sua morte, mas então algo aconteceu e ele viu as esferas de luz, que eram os olhos da besta, desaparecerem. Ouviu um som de madeira quebrando do outro lado da clareira e quando deu por si, viu o mendigo a sua frente com os braços estendidos, e além dele, junto a arvore que acabara de cair, estava o homem que o atacou.

Este se levantou com sorriso no rosto e olhos “apagados”, limpou a sujeira sobre sua roupa.

- Ora, se não é mesmo um iluminado, pensei que estivessem extintos, temos tido tanta facilidade em matar sua gente - Disse o vampiro.

- Estamos nos reorganizando, em breve estaremos caçando também, sabes muito bem que isso não é bom para ti - Disse o mendigo com desdém.

Nesse momento outro ser entrou na clareira, mantinha os olhos no mendigo, olhos em fogo vivo! Grunhia agitado.

- Não me preocupo - Disse o vampiro - poucos da sua laia teriam a capacidade de me destruir.

O segundo vampiro flexionou os joelhos e saltou em direção ao garoto, quando estava a poucos centímetros de alcançar seu objetivo foi apanhado pelo pescoço, ainda no ar, pelo mendigo com apenas uma das mãos, pois a outra mão estava no ombro do garoto.

- Não se engane meu caro, não o mato aqui e agora porque proteger a criança é minha prioridade, pode haver mais de vocês de maneira que o garoto pode sair ferido, não pretendo correr esse risco.

Disse isso e fez força com o pulso até a cabeça do vampiro separar-se do corpo, sangue negro e grosso espirrou para os lados, retirou a espada de sua bainha, era reluzente, prateada, tinha desenhos em seu cabo e também na lâmina, cravou-a no peito do vampiro que se desfez em cinzas sendo consumido por completo. Então continuou.

- Ele será meu aluno, se assim desejar.

- Então ele tem o DOM, melhor eu matá-lo agora não acha? Assim não teremos problemas futuros.

- Insiste em dizer isso? Acha que pode me enfrentar?

- Não estou só, essa criança que acaba de matar não é meu único lacaio.

- Na verdade está sim, condenado a passar a eternidade sozinho, tenho certeza de que nenhum dos lacaios nas redondezas é forte o bastante para ajudá-lo, ou melhor, os fortes já não estão mais entre nós.

Nesse momento o monstro com aparência de lobo entrou na clareira, vinha andando somente sobre as patas traseiras como um humano, em suas mãos a cabeça de seu adversário, junto com a cabeça de uma mulher.

- Mas não é que o cãozinho de estimação é esperto, ganharás um osso!

O Lupino uivou com raiva, fez posição para o ataque, mas antes que o fizesse o Iluminado levantou a mão.

- Calma meu amigo, sinto o cheiro de outros da laia dele por aqui, não podemos colocar a vida do garoto em risco, teremos outra oportunidade de destruir essa criatura, esse vampiro petulante, por hora deixemos que siga, temos que voltar para a cidade com o garoto e ajudar na batalha - O Lupino aquiesceu com um aceno de cabeça - Quanto a ti, vampiro, fuja hoje e sempre, pois assim que essa batalha terminar e esse garoto puder lutar, você será minha caça.

Quando terminou de falar o vampiro lhe fez uma reverencia com desdém e sumiu do local.

- Vamos meu jovem, precisamos voltar e ajudar. Decidirá hoje o que quer fazer, que caminho quer seguir.

O garoto se colocou de pé e caminhou apressado atrás de seus salvadores, havia visto algo que jamais poderia esquecer, havia sentido algo que jamais sentira antes, medo absoluto, mas ao mesmo tempo selvageria, sentira vontade de se atirar contra o inimigo até que não se movesse mais.

Caminharam apressados entre as árvores, procurando voltar ao vilarejo. Após alguns minutos, começaram a ouvir os gritos. Correram, mantendo a velocidade em medida que o garoto pudesse acompanhar, este começava a sentir-se cansado, mas os gritos de pessoas invadiam sua mente levando-o a frente, precisava chegar lá, queria ajudar, sabia que era pequeno, mas os que andavam com ele, seus protetores, eram poderosos e iriam dar conta dos inimigos com facilidade.

Avistaram luzes bruxuleantes provenientes do fogo atirado sobre alguns pontos do vilarejo. Julius parou assim que chegou aos limites do mesmo. Era absolutamente surreal, quase todo o contingente do vilarejo jazia no chão. Alguns eram sugados por vampiros enlouquecidos, fogo queimava com ardor a casa de muitos, os anjos estavam tentando afugentar os vampiros, mas por algum motivo não podiam tocá-los, apenas assustavam por causa da luz intensa que lançavam sobre os inimigos.

O garoto procurou o local onde estava antes de ser levado para a floresta, os corpos de seus pais não estavam mais lá, o Lupino pareceu entender o que o garoto queria e se colocou a farejar, foi em direção ao ponto de partida e viu marcas de gente sendo arrastada, uivou raivoso, malditos vampiros levaram os corpos.

Sabiam que beber daquele sangue os mataria, mas sabiam também que um bom bruxo faria bom uso disso, deu uma olhada no local, já não haviam mais tantos vampiros, seu companheiro era eficiente em batalhar e varria a região com sua espada, era realmente impressionante como Iluminados tornavam-se cegos de ódio quando encontravam vampiros, quando tinham que escolher entre eles e o seu povo.

Levantou-se encheu o peito e uivou de maneira estridente fazendo com que todos a sua volta estremecessem, partiu para a batalha, não deixaria um só maldito vivo para contar a história, ia recuperar o corpo dos abençoados.

A batalha se arrastou por mais alguns instantes enquanto anjos cercavam a cidade e o mendigo, que a essa altura já não podia ser considerado assim, destruía todos os sugadores de sangue que ali estavam. Minutos depois, os sobreviventes do pequeno vilarejo foram aparecendo, ajudando os feridos e recolhendo os corpos de amigos e parentes.

Aquele lugar sempre fora pacífico, tranquilo e seguro, o que havia ocorrido nesta noite, com certeza mudaria para sempre a vida de todos que sobreviveram, mas para o garoto isso parecia pequeno se comparado ao que lhe havia acontecido, seu pai e sua mãe estavam mortos, tinha certeza e para completar foram levados. O protetor do vilarejo aproximou-se de alguns feridos com tristeza nos olhos, havia sangue na boca de alguns deles, sangue negro.

- Meus caros, sinto muito, mas vocês estão amaldiçoados. Aqueles que beberam sangue negro tem que ser destruídos aqui e agora.

Alguns sobreviventes olharam assustados, os feridos deitados no chão mexeram-se empertigados, um tanto assustados ainda.

- Quando o sangue de um vampiro entra em seus corpos não há mais retorno, não existe uma forma de reverter isso, vocês tornar-se-ão como eles, serão seus iguais, tomarão a vida de outros humanos, pois a necessidade de sangue não pode ser vencida, matarão amigos e parentes, matarão seus filhos e filhas, precisam perecer antes que isso seja feito.

Terminou de dizer essas palavras e sacou à espada, alguns feridos começaram a chorar desconsoladamente, quem não havia tomado sangue afastou-se ou foi retirado por companheiros.

- Não tentem fugir, por favor, sua alma tem uma chance agora que não terá, se tornarem-se o que estão para se tornar. Permitam-me retirar de vocês a culpa que em breve terão, deixem que eu antecipe o julgamento pelo pecado. Peçam a Deus que tenha misericórdia de suas almas, que perdoe os pecados cometidos em vida, vida esta que já lhes foi roubada pelos malditos vampiros os filhos de Cain e Lilith.

Foi em direção ao primeiro, que se forçou a ficar de joelhos, olhou nos olhos do mendigo, baixou a cabeça e pediu pela misericórdia de Deus, levantou a face que estava banhada em sangue e lagrimas e fez um sinal afirmativo, depois disso nada mais viu, sua cabeça foi separada do corpo pelo guerreiro que salvou a cidade. Isso se repetiu por algum tempo, os corpos e as cabeças foram colocados em pilhas diferentes e lhes foi ordenado fazer uma fogueira para consumir tudo.

Após isso o mendigo foi falar com o garoto.

- Minha criança, sinto por não ter chegado a tempo de salvar seus pais.

O mendigo já havia dado cabo de todos os inimigos e junto dele vinha uma mulher, também vestida com farrapos.

- Sinto pela sua perda criança, gostava muito de seus pais.

Ela falou com a voz embargada, chorava pela perda do garoto. Era uma mulher de pele branca e olhos negros, assim como seu longo cabelo preso em uma trança bem feita, estava descalça, tinha alguns cortes no rosto, mas isso não lhe roubava em nada a beleza.

Julius sentou-se no chão, encolheu as pernas e as abraçou. Chorava muito. Sentia uma dor insuportável no peito, perdera seus pais e as pessoas a sua frente lhe confirmavam isso. O máximo que aconteceria seria ter a chance de enterrar os dois, caso a criatura encontra-se seus corpos.

- Ele os trará de volta, pode ficar tranquilo. - Disse a mulher.

- Como vocês fazem isso? Como entram em minha cabeça?

- Cada coisa em sua hora, pequeno, cada coisa em sua hora. Dependendo da escolha que fizer terá ou não a resposta que procura, hoje precisa decidir o caminho que quer seguir, se quer ter a chance de lutar física e espiritualmente contra os inimigos do povo de Deus ou quer continuar o caminho que seus pais trilharam, ajudar o povo, mostrar-lhes que o Deus Soberano é por aqueles que nEle creem, o Altíssimo está no Palácio Celeste, sentado em seu Trono de Gloria, aguardando o momento de vir a Seu povo e findar a existência do mal.

O mendigo proferiu essas palavras sem sentido, mas de maneira séria e objetiva, não havia a menor chance de estar brincando.

- Joel - Disse a mulher - o garoto acaba de perder sua família, tem certeza de que é o momento certo pra isso?

- Shamira, minha cara, acabo de enfrentar mais vampiros do que tenho visto nos últimos anos. Anjos Negros minha amiga, Anjos Negros! – Disse exasperado - Lembra-se de qual foi a ultima vez que viu isso? Acha que existe a menor possibilidade deles estarem agindo sem um objetivo maior? Vieram por ordem de Lúcifer ou de seus lacaios, não temos tempo para frivolidades, ele aprendeu da pior maneira que existem coisas além do que os homens podem ver. – Sentenciou ao final – Se decidir fazer parte disso, ser parte de nosso grupo, será treinado como nenhum de nós jamais foi, Rafael virá em breve cuidar da criança, mas ele só atua no plano espiritual, não tem autorização para executar ninguém que pertença ao plano físico, o garoto precisa decidir se quer fazer isso sozinho.

- O que são vocês? Iluminados? - O garoto olhava fixamente para o chão.

- Sim, somos, como sabe sobre nós? – perguntou Shamira.

- Minha mãe me contou, disse que cada um de nós tem um dom através do qual cumprimos a vontade de Deus. Podemos ajudar a salvar muitas almas, nunca seremos capazes de salvar a alma em si, para esse fim Jesus foi crucificado, mas podemos mostrar-lhes a graça do Pai. – Fez uma pausa, buscando lembranças, organizando as ideias.

- Eu sempre sentia e via, mas nunca fui tocado, nunca vieram até mim, sempre se mantiveram distantes, até hoje, tentaram me levar, tentaram roubar minha alma, algo os impedia de conseguir, mas então aqueles homens com dentes enormes e sede de sangue chegaram e espancaram minha mãe e meu pai, eu estava escondido em baixo da cama, vi minha mãe cair chorando, vi meu pai à beira da morte, comecei a sentir um ódio tremendo tomando conta de mim, meu corpo moveu-se sozinho, sai de meu esconderijo e parti para cima deles, nesse momento aquela criatura que estava aqui agora a pouco me salvou, mas meus pais já não tinham chance...- Assim que disse essas palavras recomeçou a chorar.

Fez-se silêncio por alguns instantes enquanto o garoto se acalmava.

- Sim, viemos aqui, pois um anjo nos avisou sobre o ataque, ele foi buscar ajuda, quando chegamos aqui, demônios e vampiros já estavam agindo, nós, os iluminados, podemos lutar tanto no plano físico quanto no espiritual, chamamos de "Rasgar o Véu", mas esse dom não se revela em muitas pessoas, não se aprende a ser, se aceita o dom e vive o risco que se tem a viver em prol das almas que nosso Senhor tanto ama.

- E eu posso escolher?

- Sim, todos os que tem o dom da batalha podem escolher, vão seguir pelas batalhas físicas e espirituais ou apenas as espirituais, não vou mentir e tão pouco tentarei ludibriar a sua mente com esperança de vida fácil, não é fácil, não há garantias e tão pouco se pode esperar ser feliz com isso, mas temos nossos momentos, o que me diz criança?

Neste momento a criatura que saiu em busca de seus pais retornou, o corpo de sua mãe nos braços, mas apenas isso.

- Tudo bem meu amigo - disse o mendigo - Deus sabe o que faz, com certeza o corpo dele não trará vantagem alguma contra nós.

A criatura colocou o corpo da mulher ao lado do garoto, já não tinha mais vida, mas pelo menos teria a chance de enterrá-la.

- Preciso enterrar minha mãe, depois falamos sobre isso.

O garoto levantou-se, tentou pegar a mãe nos braços, mas não conseguiu, o mendigo adiantou-se para ajudá-lo, mas o menino não permitiu que tocasse sua mãe, ele esforçou-se um pouco mais e finalmente conseguiu colocar o corpo de sua mãe nas costas, caminhou com dificuldade até os limites do vilarejo, onde se costumava enterrar as pessoas.

Ajoelhou-se. Estava suado, era pequeno demais pra isso, colocou a mãe ao lado, caminhou até o limite do cercado que marcava o cemitério e pegou uma pá, voltou sem dizer uma única palavra aos presentes. Agora havia também um homem, rosto triste, barbudo, alto e de aparência austera, como se séculos de batalhas estivessem cravados em sua face, séculos de perdas terríveis, estava coberto com um pano velho, que lhe servia como uma capa. Olhava para o garoto com tristeza. Balbuciou algo que o garoto não pode ouvir, mas não tentou novamente, via a tristeza e o fardo que o pequenino carregava.

O garoto parou ao lado do corpo da mãe e começou a cavar, cada vez que cravava a pá no chão e jogava a terra para o lado sentia-se mais fraco, sentia que estava perdendo de vez sua mãe, sentia-se sozinho no mundo. Passaram-se pouco mais de duas horas, o sol já estava subindo quando o túmulo estava completo, fundo o bastante para que a mulher não fosse retirada com facilidade, pela chuva ou por animais.

Julius colocou sua mãe dentro do túmulo. Fez o mais calma e delicadamente possível, sua mãe já sofrera o bastante. Assim que terminou jogou-se ao lado do túmulo, estava exausto, mas queria cobrir seu corpo banhado em sangue, olhou em volta e nada encontrou, foi até sua casa que estava com poucas chamas, visto que o ataque se iniciou lá dentro, com vampiros destruindo seus pais.

Foi até o local onde seus pais dormiam e pegou o cobertor que ela costumava usar. Voltou para junto do túmulo e cobriu o corpo, ajoelhou-se e começou a orar, chorava muito, soluçava, clamava a Deus para que os imundos não tivessem conseguido destruir a alma de sua mãe, clamava para que estivessem protegidos nas asas do Pai Celeste, clamava para que sua dor tivesse fim.

Levantou-se e cobriu o corpo da mãe com a terra que havia cavado. Após cobrir tudo, procurou por pedras para marcar o local onde estava enterrada, providenciou uma cruz e fincou um pouco acima da marcação com a pedra. Levantou-se, baixou mais uma vez a cabeça e fitou o túmulo de sua mãe por alguns instantes, com o pensamento de que gostaria que fosse a ultima vez a ver aquilo, a ultima vez a ver alguém querido morrendo pelas mãos de demônios e vampiros, virou-se indo em direção aos presentes, que assistiram calados a cada movimento.

- Shamira, faça o rito. - Disse o mendigo.

Julius virou-se para trás enquanto a mulher se aproximava do túmulo.

- Precisamos garantir que a glória de Deus abandone por completo o corpo de sua mãe - Disse a mulher - ainda há resquícios nela, sua mãe era muito usada por Deus, se um infernal conseguir extrair a Shekinah poderá realizar ritos para invocar poderes esquecidos.

A mulher aproximou-se do túmulo e com seu dedo desenhou um símbolo na terra fofa. Um circulo grande e dentro do circulo havia um losango e no centro havia um traço vertical e um perpendicular a este, na intersecção dos traços havia o desenho do sol. Pronunciou algo numa língua que o garoto não conhecia.

 

Yaweh naet no tumet, cume na Shekinah, cume no hamé, taluc no in Yaweh, shermu ut no hamé!

 

Assim que terminou de proferir essas palavras, fogo azul surgiu do nada e consumiu o símbolo. Uma fumaça começou a subir e se acumular formando uma esfera que se tornou brilhante, então Shamira tomou um de seus brincos e tocou a esfera com ele, essa se desfez como que entrando no brinco da mulher ao passo que este brilhou forte e depois apagou.

- Está feito, o corpo dela está vazio agora, fazia anos que não via tanto poder assim.

O garoto olhava a cena sem nada entender, mas impressionado com o evento, nunca havia visto fogo ser criado do nada, nunca havia visto nada do que vira esta noite na verdade, ficou olhando o túmulo por mais alguns minutos e virou-se para os demais.

- Sei que já sabem, mas meu nome é Julius, Filho de Ana e Daniel, e – disse meio sem jeito - eu aceito ser um iluminado, na verdade eu preciso ser, quero continuar a batalha que meus pais começaram. - Disse isso em meio a lagrimas, o mendigo se adiantou.

- Meu nome é Joel, filho de Natanael e Maria, eu serei seu tutor, prometo cuidar de ti todos os dias de minha vida, até que Deus me permita partir. – Fitou o garoto com um olhar paterno.

- Agora que decidiu a direção a seguir, creio que posso lhe dar isso – Shamira levou o brinco até as mãos do garoto que lhe lançou um olhar desconfiado - Joel lhe ensinará a lidar com isso, espero que faça bom uso.

O Homem que ali estava sorria enquanto Joel abraçava o garoto, conhecia a dor que a escolha que fez traria sobre ele. Sabia que o futuro do menino não seria fácil, que todos os dias de sua vida ele seria testado, provado e tentado, forçado a desistir, ou pelo menos os demônios tentariam fazer isso. Mas agora era um momento de alegria, ele havia aceitado combater, ele tinha o dom para combater, seria preparado para as batalhas do porvir, seria treinado para destruir os inimigos de Deus enquanto defendia as almas que Deus tanto ama, será uma vida agitada a dele.