08 - O Filho de Amon Rá

 

Houve, a muitas luas atrás, uma grande entidade, capaz de controlar os planos físico e espiritual, era o tipo de entidade que só aparece uma vez na existência e que pode destruir tudo, ou fazer um bem supremo que será lembrado por toda a história do universo, essa existência ficou conhecida entre os homens como Amon Rá.

Ele surgiu do poder concentrado da estrela celeste que ilumina a terra, dotado de poder e conhecimento além de tudo que existia na época, capaz de se equiparar aos arcanjos criados por Deus, ele escolheu a reclusão em busca de conhecimento, vagou pelo universo criado por Deus por eras acumulando poderes, desvendando a matéria do universo e se tornando tão cheio de poder e conhecimento que mesmo Deus o reconheceu como uma grande entidade, não como um deus, mas como uma entidade tão poderosa quanto Gaia, filha da terra e da lua, ou Ikarus, o guerreiro negro, filho das trevas que cobrem o universo. Este ser não tinha uma forma definida, era um espectro reluzente, um concentrado de luz divina capaz de cegar um homem, mas Deus podia ver o que ele realmente era, podia ver as explosões solares em seu corpo, era uma das criações espontâneas da matéria divina mais bonitas que o Criador de tudo já tinha visto.

Amon Rá vez nunca tomava partido em qualquer questão no universo, apenas seu objetivo lhe importava. Não lhe dizia respeito seja qual fosse a batalha que cruzasse e tão pouco se incomodava com os problemas de qualquer que fosse o planeta em que chegasse, ele apenas “colhia” como gostava de pensar, conhecimento puro e se tornava cada vez mais poderoso.

Passou eras rodando o universo e ao fim de mais uma volta por galáxias próximas ao sistema solar, ele retornou para sua casa, o Sol, e de lá pode ouvir murmúrios vindos da terra, resolveu ir até lá e ver o que Deus havia feito.

Nessa época, civilizações estavam engatinhando em amontoados de humanos. Era a primeira vez que ele via tal criação que estava se desenvolvendo sobre esse novo planeta. Ele viu muito do que Deus criou e do que se formou pela informação de vida espalhada pelo universo, mas foi a primeira vez que ele viu seres com “sopro de vida”, foi a primeira vez que ele viu seres de carne e osso que também tinham espírito e isso muito lhe agradou, mas acima de tudo, atiçou sua curiosidade e ele decidiu ficar entre os homens e “colher” mais conhecimento.

Ele leu a estrutura da matéria criada por Deus para formar o corpo dos homens e formou um para si, com todas as funções que um humano tem e colocou nesse recipiente seu próprio ser, não era como se ele fosse capaz de criar vida, o poder que permitia a Deus criar vida ainda lhe era desconhecido.

Quando chegou ao planeta o homem peregrinava na terra ainda pouco avançado em sua evolução, ele os viu dominar a fabricação de ferramentas para defender seu povo e conseguir alimento, assistiu ao homem desvendar o fogo, composição básica de seu ser e muitas outras coisas ele fez enquanto assistia o desenvolvimento da humanidade.

Passados milhares de anos, em que a seus olhos, apenas mudanças pequenas ocorreram, ele decidiu que deveria ajudar essa espécie a evoluir.

Passou a influenciar decisões, a fazer pupilos que não podiam vê-lo, mas ele lhes falava aos ouvidos e esses humanos tornaram-se as primeiras civilizações, começando pelos sumérios.

Neste tempo Lúcifer já havia caído e seus anjos negros com ele, estes anjos viram o que ele fizera aos homens e começaram a se amontoar entre as nações em busca de humanos que lhe servissem como deuses. Neste ponto os sumérios foram ludibriados e forçados a crer que tinham quatro divindades, An, Nammu, Inanna e Enil, muito folclore foi criado para explicar a criação da terra, já que Amon Rá não lhes dava informações sobre isso, os Anjos Negros se beneficiaram muito e cresceram em poder, dados os sacrifícios que constantemente eram feitos em seu favor.

Enquanto isso, aquém da intervenção demoníaca, Amon Rá se ocupava apenas de aprender e ensinar com tudo o que podia. Ele os agraciou com conhecimento matemático e arquitetônico, lhes ensinou a construir grandes monumentos e lhes permitiu evoluir muito.

Naquela época surgiram homens com habilidade de controlar levemente a matéria e ainda o “sopro de vida” que tinham, Amon Rá viu ai sua chance de aprender mais, podemos dizer que ele é o pai de toda magia, pois aprendeu e ensinou aos homens como usar a matéria criada por Deus para realizar sua vontade. Nasceu de suas mãos o primeiro feitiço tanto quanto nasceram das mãos de Liath as primeiras maldições, mas o conto de Liath fica para outra oportunidade.

Amon Rá ainda ajudou no desenvolvimento das civilizações Assíria, Amoritas e por fim Egípcia e é neste ponto que sua história começa a findar. Ele amou tanto o povo egípcio que lhes disse muito da verdade do universo, ao menos aos mais esclarecidos, lhes confiou seu verdadeiro nome e os segredos da magia que descobrira até ali.

Amon Rá conheceu e tomou para si um homem cuja visão de união era única entre aquele povo subdesenvolvido e a ideia de governo e nação que ele tinha eram de grande apreço pelo deus sol, seu nome era Menés.

- Tenho um grande caminho pela frente – Disse um homem de estatura mediana, corpo forte, rosto bonito e sorridente, um egípcio como nenhum outro daquele tempo poderia ser, usava um manto sobre sua cabeça para lhe proteger do sol, um saiote feito de ouro, presente de seu pai e que viria a ser parte do vestuário egípcio, sandálias simples, um colar com um pingente no formato do sol e uma pulseira prateada – Migrar pelas margens do Nilo para mostrar ao povo uma nova opção de desenvolvimento será uma tarefa árdua, mas contigo ao meu lado, ouso dizer que terei sucesso.

Amon Rá olhava afetuoso para sua criação, sim, sua criação, pois encontrara Menés jogado as feras selvagens, pronto para ser morto por sua aparência fraca e debilitada. Lembrava-se do dia em que começou a tratar seus ferimentos, e o amamentar com o forte leite de cabras, já que não havia ama de leite que se dispusesse a criar o menino, lembrava-se da velocidade com que o menino crescia em conhecimento, amor e coragem, lembrava-se do quão rápido ele aprendeu a dominar a magia e o entendimento da humanidade, sem dúvida o homem certo para unir esse povo que Amon Rá aprendeu a amar.

- Sempre estarei contigo, meu filho, sempre. Agora devemos sair das montanhas e seguir para o norte, o povo de lá é forte, caçadores natos que vivem em meio a vegetação carregada de vida, boa parte deles será seu exército um dia, eu lhe asseguro.

- Se tudo der certo, não será necessário ter um exército grande, seremos uma grande nação, em paz com o mundo e soberanos nessa terra. – O rapaz, com mais ou menos vinte anos de idade sorriu ao terminar a frase, havia uma luz nesse garoto que era misteriosa mesmo para Amon Rá, talvez por isso tivesse tanto amor por ele.

- Sempre haverá necessidade de se cuidar meu filho, mas esperemos que suas palavras se cumpram.

Estavam nas montanhas desde quando Menés tinha apenas alguns dias de vida, Amon Rá se ausentou de seus afazeres, se afastou dos homens e criou o garoto, ficando sempre a sua sombra enquanto assistia os homens deturparem seus ensinamentos.

Desde que decidiu ajudar a humanidade, sempre esteve usando homens e lhes ensinando, sem se deter fisicamente no local, apenas influenciando, como a entidade espiritual em essência que é.

Isso abria espaço para outras entidades, dispostas a estar com os homens, a ganhar espaço, Anjos Negros se passavam por divindades e auxiliavam os homens, tanto quanto lhes encaminhava para o mal, se o conhecimento de Amon Rá é o ponto de partida para a magia natural, Anjos Negros são o ponto de partida para as magias do sangue, magias forjadas com a mancha da alma.

- Você não deve confiar demais nos homens, não se esqueça disso, você não me verá, mas eu estarei lá contigo, vá em paz, minha criança.

Menés saiu do vale onde se encontravam e subiu o monte ao norte, andando, como um homem comum deveria fazer, afinal de contas, ele queria aliados e não seguidores, logo deveria se abster de usar magia o máximo possível, deveria ser um homem comum.

Levou quase dez dias em caminhada diurna, do amanhecer ao anoitecer para concluir o percurso e começar a se deparar com vestígios de civilização.

Estava num monte quando viu uma fogueira próxima a um acampamento, de onde estava estimava que havia cerca de dez homens e cavalos, provavelmente comerciantes que estavam se aproximando da cidade. Para não causar confusão, achou melhor pernoitar onde estava, seguiria até os homens ao amanhecer.

Deitou-se no chão, conjurou uma pequena chama que ficou flutuando pouco acima de sua cabeça e dois livros, em um deles estava contando sua história, no idioma sumério quase extinto mesmo naquela época, mas era a língua preferida de seu pai, o outro era um compêndio, na verdade seu grimório particular, onde estava escrevendo tudo o que se precisava saber sobre magia.

Sentou-se com as pernas cruzadas, tomou uma faca que seu pai lhe dera, feita de diamante toda ela, nas mãos e espetou polegar direito, passou-o sobre a capa do livro e o mesmo se abriu em suas mãos.

 Não sei porque meu pai me obrigou a criar tal defesa para esse livro, é repugnante ter de pagar com sangue para se fazer algo tão simples, mesmo para feitiços de grande poder, detesto ter de empregar sangue...

- Em breve irá descobrir, meu filho, em breve conhecerá o homem como realmente é. – Amon Rá estava a quilômetros de distancia, ainda na caverna, mas sua mente e a de seu filho estavam ligadas e ele via, sentia, ouvia e lia tudo que ocorria com seu filho, como lhe prometera não o deixaria só até estar entre os homens.

Menés folheou o grimório, era completamente imensurável o que se podia fazer com todo o poder ali contido, todo o conhecimento que estava rabiscado em pouco mais de 1000 páginas, explicando sobre a matéria, suas propriedades, suas utilidades, como molda-la, como recriar, como transformar em poder puro e massivo.

O jovem folheava quando parou em um de seus feitiços prediletos, feitiço de transferência de conhecimento, o original, sem sacrifício de vida, apenas vitae e força de vontade, na língua de sua criação, o feitiço seria brando porém completo, esse na verdade era seu, pretendia ajudar outros homens a abrir a mente usando esse feitiço, acreditava que quando os homens tivessem o conhecimento que ele tinha, haveria mais força na união dos povos.

Fez algumas anotações de rodapé em alguns feitiços, detalhando melhor como lidar com o poder e o custo de cada coisa, fechou o livro e ele desapareceu de sua mão. Aconchegou-se como pôde e adormeceu.

- Agora ficará por sua conta filho, cresça. – Amon Rá desapareceu da terra por completo, deixaria seu filho sozinho, agora que já estava às portas de seu objetivo, se ficasse lá não seria capaz de deixa-lo viver suas próprias experiências, o amava demais para vê-lo sofrer.

Os homens que estavam na base do monte onde estava Menés, viram a pequena luz ao longe, tinham sentidos aguçados para a caça, ficaram imóveis e esperaram pacientemente até que a mesma se apagasse. Assim que isso ocorreu, três deles saíram no sentido oposto a pé, o mais rápido e silenciosamente possível fizeram a volta no monte e o escalaram e pouco antes do amanhecer estava a apenas alguns metros do ponto de luz. Viram que havia apenas um homem deitado no chão, sem bagagens, apenas a roupa do corpo e uma manta empoeirado lhe protegendo do frio noturno do deserto.

- Que faremos? – Perguntou o menor dos três homens, sem tirar os olhos do individuo que dormia profundamente.

- Ele não se veste como nós, nem como o povo do sul – Arrematou o maior e mais forte do grupo todo.

- Devemos dar-lhe as boas vindas, eu suponho. – Esse era magro e de estatura mediana, em comparação aos outros dois, nem parecia ser um caçador, os outros dois tinham cicatrizes nos braços e pernas a vista, expressões sérias e olhar firme, ambos muito fortes.

- Não se afobe, Technah, não há motivos para matar o homem, ele parece apenas seguir viagem.

- Não seja tão ingênuo, Alberoch, vocês caçam, eu mato intrusos, essa é nossa formação, sou um assassino, sempre faço antes e pergunto depois.

- Não dessa vez - Disse o menor deles – Ainda sou o líder do grupo, vamos apenas amarrá-lo e depois que ele nos der algumas respostas podemos decidir o que fazer.

Os olhos de Technah estreitaram ao receber uma ordem, mas ele concordou.

- Que seja, Jeinoah, líder dos caçadores.

Technah desenhou um símbolo no chão, fez um corte no dedo e pressionou contra o mesmo, do chão, perto de onde Menés estava, surgiram cordas que foram sutilmente se enrolando em seu corpo.

- Isso não é necessário – Disse Menés – Não venho atrás de outra coisa se não conversar.

Os três pularam em direção ao homem posicionando de forma a cerca-lo. Menés levantou-se enquanto as cordas iam se soltando e desaparecendo.

- Meu pai disse que vocês podiam usar magia, mas isso não passa de uma brisa, um rascunho do original, nem sei se pode ser chamado de magia.

Technah se inflamou, passou os dedos com sangue em símbolos tatuados em seus braços, quatro esferas ficaram flutuando em volta de seu corpo, Jeinoah sacou uma espada curta que flamejava e Alberoch desembrulhou um machado grande com uma lamina fria, negra e afiada.

- Tenham calma, eu não quis ofender vocês, estou indo até seus lideres para fazer uma proposta, apenas isso.

Eles não estão usando a matéria a sua volta, que tipo de magia é essa, tem algo de errado nela... é sombria e morta, meu pai nunca me ensinou isso.

- Se quer mesmo seguir em paz não deveria ter se mostrado para nós – Respondeu Technah entredentes – Seu tempo neste mundo acabará aqui.

- Magia Elemental, terra, fogo, ar e água, isso é básico e sua conjuração, apesar de ser boa, é fraca, posso lhe ensinar a emanar muito mais poder, apenas deixe como está, seguirei meu rumo e falarei com seus lideres, é tudo que peço.

Sem fazer qualquer movimento, ou usar qualquer símbolo, uma bola de fogo, maior que um camelo, surgiu acima de Menés iluminando tudo a sua volta, o calor era insuportável, como se um pedaço do sol estivesse ali.

Technah murchou, Jeinoah e Alberoch recuaram alguns passos tentando, com ar completamente incrédulo, entender o que era aquele nível de magia, nunca viram nada assim antes.

Menés sugou a bola de fogo pela boca junto com as esferas de poder conjuradas por Technah.

- Por favor, vamos apenas conversar, vou dizer o que pretendo, se no fim ainda quiserem lutar, então lutaremos.

Jeinoah deu um passo a frente – Meu nome é Jeinoah, líder dos caçadores das trevas, do povo do norte, vamos até meus subordinados, comer e conversar.

- Parece ótimo – Disse Menés – Estou faminto.

Technah seguiu no fim da fila, olhando para Menés como se fosse a presa suprema, ou o pote de ouro, pretendia aprender tudo o que pudesse com esse verme e depois ia mata-lo, nisso, ele era muito bom.

 Menés lhes contou o que pretendia, falou sobre união de povos, de um só reino repleto de paz e harmonia, um sonho entre os sonhos, algo que todo homem de bem deseja do fundo de seu coração, os caçadores ouviram atentamente cada palavra e, com exceção de Technah, todos concordaram que ele tinha o que era preciso para fazer isso acontecer.

- Levaremos você até nossos lideres, os anciões de cada família e você falará com eles, se eles acharem por bem, você falará com o senhor da dinastia, veremos até onde seu sonho pode te levar.

Menés sentiu uma alegria enorme, não esperava ser levado aos lideres logo de início, pretendia, como seu pai lhe ordenara, fazer bem feitorias ao povo, aos lideres do povo e por fim aos lideres das cidades, e somente então estaria em condições de propor a unificação dos povos, mas já que o caminho estava sendo reorganizado para ele, não podia deixar a chance escapar.

Levaram meio dia de caminhada para chegar a cidade, um verdadeiro oásis cheio de vida, construções simples, mas bem feitas eram usadas como casas pelos moradores, o comércio de especiarias comandava o local, viu alguns conjuradores de elementos, encantadores de animais e tinha certeza de ter visto um necromante, mas nada daquilo fazia sentido, a magia era obscura e fraca.

- Jeinoah, a magia que eu conheço é diferente dessa que vocês estão usando aqui, onde posso encontrar quem lhes ensina?

- Nossa magia vem de nossos feiticeiros e somente eles conhecem o segredo, Technah é um deles, mas duvido que algum deles lhe diga algo, é segredo de todos, eles apenas usam em favor do nosso povo e isso sempre bastou para a maioria de nós.

Technah aproximou-se.

- Podemos trocar informações em local adequado, existem feiticeiros muito mais habilidosos do que eu e eu nunca vi o nível de magia que você mostrou, tenho certeza de que estarão dispostos a trocar conhecimento.

A Palavra conhecimento era uma chave de portas para Menés, tanto quanto era para Amon Rá.

- Sim, assim que eu falar com os anciões, vamos conversar com seus benfeitores.

Os próximos dias correram bem para Menés, ele conheceu muitos anciões e sábios da cidade em que estavam, e todos se mostraram muito contentes em fazer parte do que ele estava propondo, o próprio senhor da cidade, Maestrio, veio ter com Menés e de cara tornaram-se grandes amigos. A poder de persuasão e a habilidade nata de fazer as pessoas a sua volta sentirem-se bem estava lhe ajudando a conquistar a simpatia de todos com quem tinha contato.

Ainda não tinha tido a oportunidade de conhecer os feiticeiros da cidade e já estava de partida marcada para conhecer a próxima cidade, então foi procurar por Technah para conhecer os feiticeiros de sua estirpe.

- Bom, acho que já podemos confiar o bastante em você para saber que tem um bom propósito para conosco, meus senhores desejam conhecer você.

- Seus senhores? Quer dizer as pessoas que lhe ensinaram a magia.

- Sim, de certa forma, bom, siga-me.

Seguiram pelas ruelas da cidade indo ao sul, Menés ainda não tinha passado por ali e viu uma realidade diferente do que vira antes, ali ficam os coxos e doentes, os fracos e alguns velhos, ao que parece toda homem que não acumulou respeito e riqueza enquanto ainda jovem, ou todo doente ou manco que vinha para a cidade era despejado naquele local. O coração de Menés se entristeceu muito com aquilo, não era o tipo de governo que estava buscando, e naquele momento decidiu que mudaria tudo quando chegasse ao poder.

Entraram numa parte escura da cidade, construções velhas e sujas.

- Vocês parecem se esforçar para esconder a origem de sua magia – Disse seguindo Technah de perto.

- Sim, nossos senhores são bastante reclusos. – Não estava disposto a dar mais informação do que deveria para Menés.

- É aqui, atrás dessa porta encontrará nossa fonte de poder.

Menés já havia lido a mente de Technah e pode ver todo mal que jogou sobre si mesmo em busca de poder, ele respirou fundo, sabia o que viria a seguir, mas tinha que conhecer melhor o que ali estava.

Assim que entrou sentiu o ar carregado de sangue e dor encher seus pulmões, chegou a respirar com dificuldade algumas vezes até se acostumar e conseguir blindar seu corpo contra aquela podridão. A sua frente havia dois Anjos Negros,  um demônio e um bruxo.

- Vejam só, sempre os vi de longe e nunca entendi porque não se aproximavam de mim e de meu pai, mas estão hoje bem aqui, que coisa mais curiosa – fez uma pausa com olhos brilhantes olhando para os Anjos Negros.

- E você, bem, acho que nunca havia visto algo tão deformado quanto você - o demônio se empertigou – E você, o que está fazendo com sua alma? Está tão retorcida que eu mal pude reconhecer – O Bruxo estreitou os olhos.

- Bem, depois dessa primeira leitura acho que entendo como as coisas funcionam para vocês, corrijam-me se eu estiver errado – Todos ficaram em silencio – Os feiticeiros que estão aqui tiveram seu bem maior marcado pelos servos da Estrela da Manhã, vejam bem, meu pai não tem interesse nessa disputa, mas já me falou como as coisas funcionam no universo e, apesar de não conhecer Deus ou os arcanjos, sei quem são cada um deles, acredito que ele esteja alimentando sua força através da energia divina que rouba das almas que ele conseguir “carimbar” sua impressão, se a alma for forte ela se torna um de seus feiticeiros e se ela for poderosa como feiticeira ela se torna uma dessas coisas, acredito que o nome seja demônio, estou certo.

- Você é tão arrogante quanto a Estrela da Manhã nos disse que seria.

- Está dizendo que sabem que eu sou? Deve ser por causa de meu pai, nunca fiz nada para chamar atenção até chegar aqui.

- Sim, seu pai, aquela aberração de Deus, nem tente se justificar, seu pai não aceita, mas é produto de uma das equações mal resolvidas de Deus, ou bem resolvidas, em fim, acho que ele gosta de colocar seres como seu pai no universo.

- Entendo, bem, por mais conhecimento que eu goste de acumular, não quero me familiarizar com essa magia, além de muito inferior ao que conheço ela tem custos muito altos.

- Você é um moleque bem arrogante mesmo – Disse o bruxo – Meu nome é Klauzer, servo de Baal Liurf – O demônio fez uma pequena reverencia – Vou mostrar a você aqui mesmo como meu poder excede em muito o seu.

Mal terminou a frase e já estava morto no chão.

- Não vim aqui mostrar meu poder, mas se querem mesmo uma demonstração, farei isso com prazer.

Abriu os braços enquanto Liber Amon Rá se materializou em sua frente e ficou flutuando, ele mordeu o dedo e passou pela capa ao passo que o livro se abriu, um vendaval tomou conta da sala enquanto o brilho do amanhecer envolvia o mesmo.

Menés levitou enquanto o próprio corpo emanava luz absoluta, Technah desmaiou com a onda de poder do mago.

- Eu sou Menés, filho de Amon Rá e Portal do Senhor dos Exércitos, não ousem desafiar o que sou ou o que posso fazer – mais uma onda de luz se expandiu a partir de seu corpo como uma onda de choque, Liurf foi atingido e jogado contra a parede ficando preso a ela gritando de dor e ódio. Os dois Anjos Negros sacaram suas espadas, mas no instante seguinte elas estavam dançando em volta do corpo do mago, enquanto ele olhava com furor destrutivo para eles. Um dele adiantou-se.

- Basta, está claro que você é um ser abençoado e bem treinado, não queremos uma batalha.

- Então retirem se da cidade e avisem a todos da sua laia, que onde quer que eu passe farei sumir a magia de vocês, seja por bem -  estendeu as mãos na direção de Technah e um jato de luz branca o atingiu, sua alma ficou resplandecente novamente – Seja por mal – E apontou o dedo para o feiticeiro morto.

O Anjo Negro arfou em puro ódio por alguns segundos e por fim alçou voo.

- Nos veremos novamente, mago, esteja preparado.

O poder liberado estava consumindo Menés

- Sim, nos veremos, e vou garantir que se lembre de mim.

As duas espadas que o mago estava controlando foram tomadas por chamas vermelhas e numa velocidade com a qual os anjos negros não estavam acostumados a ver em plano físico foram atiradas em seus respetivos donos, ambas foram cravadas em suas costas enquanto voavam.

- Na próxima vez que nos vermos, Anjo Caído, será seu fim.

Os anjos desapareceram por um portal e Menés fez sumir Liber Amon Rá, nunca tinha usado tanto poder de uma vez, mas era como se nada tivesse acontecido, ao que parece, ser um portal finalmente fez algum sentido para ele, o poder que ele era capaz de produzir e controlar era insano, mesmo para os níveis que ele estava acostumado a ver nas mãos de Amon Rá.

Menés tomou Technah nos braços e voltou a cidade, ia partir em breve, mas estava agora mais determinado do que nunca, pois, se os Anjos Caídos estão criando parte do mal que é derramado sobre os homens, então há de ser necessária a criação de uma força capaz de pará-los.

Voltou para a zona norte da cidade, deixou Technah nas mãos de Jeinoah, contou-lhe tudo o que houve e pediu para convencer Technah a não fazer novamente um pacto, pois havia outras formas de magia, mais poderosas e seguras e se ele quisesse aprender, ele com prazer lhe ensinaria, e se assim desejasse deveria procura-lo na próxima cidade, por hora, tinha que limpar o caminho para que fosse possível criar uma nação forte e duradoura.