06 - O Inferno de Ana

 

Seraf acompanhou incrédulo os movimentos de Lúcifer e Avalon, sabia que estavam para fazer algo em favor dos vampiros. Manteve a espada nas mãos guardando Ana de demônios curiosos, viu Avalon levar os vampiros de volta ao portal e aguardou Lúcifer lhe dirigir a palavra.

Assim que Avalon partiu, Makaliun e Death chegaram onde Lúcifer estava. Os olhos de Seraf cintilaram quando não viu seu mestre junto deles e involuntariamente expandiu seu pode espiritual, alguns demônios mais fracos choramingaram e se afastaram, outros tão fortes quanto ele, repousaram as mãos em suas armas.

- Malditos sejam, malditos generais, por sua fraqueza. – Rosnou furioso e em meio a estas palavras e se lançou em direção a Death que estava mais próximo. Os generais ainda não estavam recuperados em termos de força espiritual e não conseguiriam lutar no momento, no entanto agora conheciam poderes que jamais poderiam aprender se não lhes fosse transferido. Death juntou as mãos em frente o rosto e começou um invocamento de portal, era um ser muito diferente de Liurf e não precisaria de desenhos infantis para realizar o feitiço, Seraf começou a responder ao feitiço do general com tamanha rapidez que o general só se deu conta de que era um contra ataque quando o portal abriu sob seus pés e ele sentiu a dimensão o sugando para dentro, separou as mãos para desfazer o portal e viu a espada de Seraf zunindo em direção a sua garganta, esquivou-se do primeiro ataque, mas Seraf completou o giro com um chute violento que jogou o general do outro lado do grande salão.

Lúcifer sorriu malicioso – Não creio no que vejo, uma mera aberração que criei conseguindo lidar com um dos generais de meu pai – Terminou de dizer isso e caiu numa gargalhada doentia, seguido por muitos dos anjos negros que ali estavam, os demônios apenas se encolheram e deram espaço para que a luta continuasse.

Seraf era um borrão vermelho em direção a Makaliun que ainda estava atônito com a pancada que Death havia levado e mais desconcertado pelas palavras de Lúcifer, não teve tempo de desviar da espada de Seraf e antes que conseguisse montar uma defesa, sua cabeça rolou pelo chão. Lúcifer cessou a gargalhada e expandiu um poder que fez todos os demônios ali desmaiarem, Seraf fazia a volta para seguir em direção a Death que saia da cratera que fora aberta pela colisão de seu corpo com a parede, Lúcifer apareceu a sua frente, girando o corpo de cima para baixo num mortal acertou o rosto do demônio e o jogou no chão.

- Maldita criança, levei milênios preparando o corpo desse anjo para receber meus dons e você o mata por conta de seu mestre? EU SOU SEU MESTRE, EU SOU SUA VIDA E SUA EXISTÊNCIA! – Bradou com uma voz agonizante, um grito de calamidade, dor e desespero, os anjos negros esforçaram-se ao máximo para não fugir dali, da presença da Estrela da Manhã, Ana despertou tremendo violentamente, olhava em todas as direções, aquele lugar escuro, fétido e cheio de maldade, não deveria estar ali, mas não conseguia levantar-se.

Seraf levantou a cabeça a tempo de ter o senhor das trevas pousar a sua frente, colocou-se de joelhos e aguardou o julgamento, matara um dos generais, era mais do que jamais sonhou em fazer, estava pronto para morrer.

- Olhe para mim, Seraf, a morte seria boa demais para você, por matar um dos meus generais e um castigo muito alto para alguém que me prestou um favor, sendo assim deixarei que Avalon decida o que será de ti quando voltar, pois acaba de entregar a ele uma vaga de General.

Lúcifer caminhou até o monte de cinzas em que o corpo de Makaliun se desfez e apanhou sua arma sagrada, Caçadora, uma lança feroz que dizima os inimigos de seu senhor.

- Avalon gosta mais de espadas, mas em fim, não é uma arma qualquer, com certeza ele gostará do presente.

Death pousou ao lado de Lúcifer, seus olhos estreitos olhavam para Seraf como se fosse o ser mais odioso do Universo.

- Deixe-me mata-lo, meu senhor, deixe-me mostrar minha fúria a este demônio. – Disse entre dentes

- Basta de marra Death, um de vocês seria desafiado hora ou outra por Avalon pelo posto de General, sabe bem que ele é o único dos Anjos Caídos que pode lidar com vocês, e isso sem ter uma arma sagrada, Seraf fez um favor a todos vocês, pois Avalon não costuma terminar rápido suas batalhas.

Death estremeceu, sentia um poder tenebroso vindo de Avalon desde seus tempos nos céus, ele nunca mostrou nada a ninguém, mas para andar sempre com Lúcifer era obvio que era tão poderoso quanto qualquer general.

- Em fim, vamos minha querida - Disse Lúcifer apontando o dedo na direção de Ana e fazendo com que levitasse – Temos algum tempo até que Avalon retorne e te coloque para “dormir” com seus amigos, enquanto isso vamos nos divertir um pouco – Ana começou a tossir muito, até que sangue saiu de sua boca, sua pele assumiu um tom pálido e doente, seu corpo tremia muito devido a febre que tomou conta, ela levitava e se revirava de dor enquanto os demônios, que aos poucos iam acordando, urravam de prazer.

- Vamos aos meus aposentos, lá teremos muito tempo para “brincar” – Seguiram então para a sala do trono, Lúcifer, Death e os outros generais que acabaram de entrar no saguão onde A Estrela da Manhã estava. Brugos, Hermut e Akila.

Liurf seguiu para o portão de entrada, pretendia ver se ainda restava algo de seu senhor, talvez ainda pudesse salvá-lo. Infelizmente, percebeu que seu mestre fora jogado no abismo, não havia nada no inferno, exceto talvez Lúcifer, que pudesse sobreviver a isso. Ajoelhou-se no chão por um instante.

- Death pagará, meu mestre, ele perecerá por minhas mãos.

Disse isso e partiu para seus aposentos, precisava se preparar para ser punido por Avalon, sabia que sobreviver a isso seria sua luta mais difícil até hoje.

Lúcifer chegou a seu salão principal e conjurou em frente a seu trono uma pequena poltrona, era feita de aço, como se fosse algo cirúrgico, fria ao toque, tinha desenhos de feras hediondas, meio humanas meio animais e outras meio algo que só se pode descrever como monstros do caos.

Esses entalhes no aço brilhavam, uma luz fria como o brilho da lua, um feitiço poderoso podia ser sentido, mesmo que não tivesse nível algum de sensibilidade para o sobrenatural, qualquer um saberia que não deveria estar ali, digo no mesmo universo que aquilo.

Lúcifer inspirou profundamente, sentido o medo de Ana tomando conta de si, enquanto ela era levada até a maldita poltrona debatia-se furiosamente, gritou e gritou até mais sangue sair de sua garganta, todos riam loucamente.

- E pensar que essa nem é a pior parte, e pensar que esse nem é o momento de maior dor – gargalhadas ecoaram pelo salão – Avalon vai divertir-se muito contigo pequenina, mas enquanto ele não vem, divirta-se com seus medos.

Ana foi jogada na poltrona, nos braços e pernas algo como uma garra surgiu, do próprio aço da poltrona, fincou-se nos pés e nos pulsos de Ana, na região do pescoço um tipo de laço feito de aço saiu do encosto, deu a volta e prendeu-se do outro lado. Os entalhes azuis passaram a brilhar vermelhos, circulando o sangue de Ana por toda lado, ela mais uma vez gritou, clamou, chamou por Uriel, por Deus, por seus pais, chamou e chamou, até que por fim desmaiou.

- Agora a diversão vai começar – Disse Lúcifer – Vocês já podem ir, saibam que o tempo está chegando e vocês precisam de mais poder, então façam tudo conforme lhes ensinei.

Os generais fizeram uma reverencia e saíram do local.

Ana abriu os olhos e viu Uriel a sua frente, rosto colado com o seu, um anjo sem mácula, um ser supremo em beleza e poder, ele estava com o rosto ligeiramente baixo, olhando para o chão, e seus olhos estava escondidos na sombra, Ana tentou levantar seu rosto para contemplar seus olhos e estendeu o braço para tocar seu amado, mas seu braço não se moveu, ela olhou em volta, Lúcifer estava sentado no trono, olhando para ela com uma expressão divertida no rosto, ela tentou gritar, não podia acreditar que haviam pego Uriel, não queria acreditar nisso, virou-se mais uma vez para seu anjo a tempo de vê-lo tomar de lado, sua essência escorria do buraco onde deveriam estar seus olhos, um vazio como um buraco negro estava ali, Ana começou a chorar e tremer. O corpo do anjo moveu-se e começou a levitar a sua frente, ainda aparentemente morto, ela debateu-se na cadeira, mas não conseguiu sair do lugar, um gemido escapou pelos lábios do arcanjo.

- Ana – Disse sofridamente, enquanto sua essência vazava por sua boca, havia ainda um buraco em seu peito, onde em um humano estaria o coração, outro vazio como um buraco negro estava ali, ele não tinha o braço esquerdo e a asa direita e ainda a asa esquerda estava pela metade e praticamente queimada. Uma lança fora cravada em sua coxa, na perna direita e seu pé esquerdo estava esmagado. Ana chorava muito vendo seu amado completamente destruído – Ana – Chamou mais uma vez.

- Estou aqui, meu anjo, estou aqui contigo, sempre estarei – Disse soluçando, ainda tentando soltar-se da cadeira e ajudar Uriel.

- O que fez comigo... – ele parou para gemer novamente, tamanha a dor que sentia – O que fez comigo, Ana?

Ela sentiu o peso das palavras, sentiu o chão sob seus pés desaparecerem, sentiu a culpa que lhe fora empregada devidamente, sentiu dor insuportável no peito, algo com o qual ela não estava familiarizada, sentiu o universo lhe dando as costas...sentiu-se sozinha.

- Me desculpe.... – balbuciou – Me perdoe – Lágrimas escorriam e sua voz mal deixava seus lábios.

- Minha desonra, minha desolação e minha destruição estão em você – De onde estava vazando a essência de Uriel, passou a verter sangue, grosso e pastoso, começou nos olhos, e quando escorreu por seu rosto ele foi tomado por dor absoluta e gritou como uma criança. Ana entrou em desespero, gritava e cuspia sangue o tempo todo, pedia clemência a Estrela da Manhã, que ria descontroladamente.

O sangue bolorento que saia do corpo de Uriel transformou-se em lava e passou a consumir todo o seu corpo enquanto o arcanjo gritava, chorava, resmungava. - Maldita seja essa mulher, maldita seja Ana que me tirou da graça de meu pai e me entregou a Estrela da Manhã – Assim que terminou de dizer isso, gritou ainda mais alto e foi jogado ao chão, debatia-se e urrava em dor absoluta enquanto seu corpo ia se desfazendo. Ana debatia-se cada vez mais, seu pescoço estava sangrando, seus braços e pernas, e de sua boca ainda jorrava muito sangue enquanto gritava por perdão e por misericórdia. Finalmente Uriel parou de debater-se, o fogo tomou conta de todo seu corpo e finalmente tudo parou, estava morto.

Ana deu um grito agonizante e se desprendeu da poltrona, caiu de joelhos no chão e olhou novamente para Uriel, mas seu corpo não estava mais lá.

- Ora, ora, ora, mas não é que ela tem força de vontade, conseguiu soltar-se afinal, pensei que ficaria presa nesse sonho bobo pela eternidade – Disse Lúcifer com desdém – Ana olhava em todas as direções, não podia acreditar que ocorreu apenas em sua mente, sentiu o cheiro, o sangue, a dor, o peso das palavras e nada daquilo era real.

- Muito bem então, seja boa garota e sente-se novamente, temos toda a eternidade para brincar.

Ana respirou fundo algumas vezes e fechou os olhos, não podia se deixar levar pelo medo, se ainda tinha uma chance, era sendo o portal que Deus lhe permitiu ser.

- Toda autoridade foi dada ao filho de Deus e este nos deu esta autoridade, assim na terra como no céu, não pense que me dobrarei aos seus caprichos – Fitou a Estrela da Manhã por um momento – Mas não me fará mal algum esperar sentada, seja lá o que tenha preparado para mim – Levantou-se e foi até a poltrona, sentou-se, cruzou as pernas e colocou as mãos sobre o joelho, a cadeira tremeu um pouco, mas nada demais ocorreu.

Os olhos de Lúcifer cintilaram, ele inspirou profundamente e voltou a falar.

- Nunca vi um ser mudar o semblante e a determinação em tão pouco tempo, Avalon vai enlouquecer quando voltar, mas como lhe falei, temos a eternidade para brincar.

- Altrox – Gritou Lúcifer e aguardou pacientemente. O grande salão tremeu e rugiu, Ana olhava para Lúcifer, firme e decidida. Do fundo do grande salão veio um ser espectral, uma criação antiga de Lúcifer, uma de suas primeiras mutilações das criações de seu Pai, outrora esse ser foi um dos anjos de Deus, um dos que caíram no Dia do Levante, A estrela da Manhã sempre experimentou variações de tudo o que Deus criou, e seus anjos negros não são exceção. A criatura deslizou até aproximar-se de seu senhor, era um espectro de Anjo Negro, translúcido, Anjos não tem corpos exatamente, mas esse era diferente, era um tipo de fantasma de anjo, nebuloso, transparente e tenebroso.

- Esse é Altrox, o Senhor dos Pesadelos, as criaturas que ele cria ou comanda tem um forte toque para manipular outras criaturas através do sonho, da mente inconsciente – Ana olhava com desdém para a criatura – humanos tem um problema e tanto quando estão dormindo, ficam muito fáceis de acessar, controlar e aterrorizar e isso feito por esse, a minha cara, pode ter certeza de que nada pode se comparar.

- Bom, espero que ele seja paciente e bondoso comigo – Disse Ana sorrindo.

Altrox inflamou-se e sacou sua espada, deu um golpe cruzado em Ana, a espada passou direto por ela sem acertá-la de fato, mas Ana caiu num sono profundo, Lúcifer sentou-se novamente em seu trono enquanto Altrox invadia a mente de Ana.

 

 

Assim que instruiu os vampiros, Avalon se colocou em direção a Erik e Faustu, tinha que falar com eles antes de retornar e iniciar os procedimentos em Ana.

Passaram-se alguns segundos desde a saída de seu pupilo, as luzes da rua piscaram, Faustu olhou em volta e sentiu a presença de algo maligno, antes que pudesse fazer qualquer movimento Avalon se colocou a sua frente e deu-lhe um soco violento no estomago, o vampiro vomitou sangue e caiu de joelhos.

- EU LHE DEI UMA SIMPLES TAREFA, NA VERDADE UM PRESENTE, MATAR O MALDITO VAMPIRO QUE MATOU SEU MESTRE E O QUE VOCÊ ME FAZ? ME FAZ PASSAR VERGONHA DIANTE DE MEU SENHOR – Avalon não estava exatamente gritando, mas falava alto, deu um chute no rosto do vampiro que o fez voar pelos ares e antes que ele tocasse o chão foi atingido novamente e jogado contra o mesmo, quase desmaiou.

- Levante-se vampirinho de merda!

Fausto o fez da forma mais digna possível, no ponto em que as coisas estavam não seria sábio provocar Avalon. Ergueu o rosto e ficaram se encarando algum tempo.

- Você terá uma nova oportunidade e eu espero que saiba o que vai fazer, você e aquele mago de araque tem um ano para cumprir com sua missão, um ano Faustu, quando eu retornar para essa merda de lugar espero vê-lo morto, ou farei dessa humana minha cria e a levarei ao inferno, farei você mesmo carrega-la em seus braços até a estrela da manhã, você entendeu.

Os olhos de Fausto brilharam vermelhos numa fúria quase incontrolável. Ele acenou concordando e Avalon desapareceu.

O vampiro jogou-se ao chão e debatia-se em agonia, os golpes de Avalon eram insuportavelmente fortes e invadiam a mente num nível completamente insano.

 

 

Avalon retornou ao inferno, ficou pouco tempo na terra, mas isso significam, geralmente, anos no inferno.

Assim que retornou foi direto ao salão de Lúcifer, chegando lá viu uma cena que a centenas de anos não presenciava, Lúcifer estava com olhar furioso no rosto enquanto Altrox quase morto tremia no chão.

- O que está havendo aqui?

- Essa maldita criação não foi capaz de produzir efeito algum na criação de meu pai – Disse Lúcifer entre dentes – Espero, Avalon, que tenha mais sorte.

Avalon sorriu, sempre achou Lúcifer um ser muito poderoso, mas absurdamente mimado, talvez por isso tenha tanta empatia por ele, quer que ele tenha tudo que deseja, desde que conseguiu algum nível de consciência.

Avalon caminhou até Altrox, agarrou sua cabeça e o jogou na parede do outro lado do grande salão.

- Matá-lo não vai resolver nada, meu senhor, lembro-me bem do trabalho que essa merda de criação te deu.

Ana estava sentada na cadeira, sorriso no rosto, um tanto cansada sim, mas nada que não pudesse lidar. Virou-se para enxergar melhor Avalon e foi atingida de imediato por um soco que a fez cair no chão e sentir o problema que seria enfrentar esse anjo negro, a dor, o desespero e o desejo de morte acompanhavam seus golpes.

- Cuidarei dela daqui para frente, tenho o espectro certo para minar sua vontade. – Avalon deu-lhe um chute que a jogou do outro lado da sala enquanto a fúria de Lúcifer aos poucos ia se aplacando.

- Não sei o que seria de minhas vontades se você não estivesse aqui, Avalon.

- Vivo para servi-lo, Lúcifer.

- Tenho um presente para você – Disse sorrindo.

- Makaliun está morto, sei disso, não consigo senti-lo.

Lúcifer o olhou com espanto, poucos seres no universo podem sentir com tamanha precisão o que se passa no inferno.

- Isso não atrasará seus planos, eu passarei pelas provações e serei sei soldado mais poderoso.

- Você já é, mas tenha certeza de que será algo jamais visto.

Avalon fez uma reverencia, pegou Ana pelos cabelos e seguiu para a sala de preparação.

O simples toque de Avalon quase fez Ana desejar a morte, seu corpo foi tomado pelo desespero mais puro que se pode imaginar, era simplesmente impossível vislumbrar qualquer esperança de salvação, não importava quantas vezes repetia para si mesma que estava pronta para passar por aquilo, a magia que envolvia sua mente, alma e corpo nesse momento era inegavelmente forte, profunda e sombria.

Cada simples pensamento, lembrança, ou qualquer coisa que lhe cruzava a mente era instantaneamente pintada num quadro de horror tão tenebroso quanto nos momentos em que ficou presa a poltrona providenciada por Lúcifer. Ana não compreendia o que estava havendo, mas naquele momento sentia muito mais medo de Avalon do que da Estrela da Manhã, era mais que impossível resistir ao seu poder, a sede de sangue que ele emanava era suprema.

Sua força abandonava seu corpo, sua mente oscilou algumas vezes e finalmente apagou.

Altrox nada sabia de imputar medo, de minar as forças, Avalon sem dúvidas alguma era o grande mestre nessa arte, era com certeza o ser mais impiedoso em todo o inferno e de certo a peça chave para o exército de Lúcifer.

A inconsciência de Ana não foi tranquila, sua mente não descansou, o tempo todo em que esteve desacordada sua mente trabalhou em seu passado, revendo sorrisos, revendo Uriel, revendo amigos e conhecidos, revendo e revendo a morte de todos eles repetidamente, um loop infinito de dor, sangue e desespero, a cada segundo que ele estava naquela condição deprimente mais sua mente se perturbava.

No meio do caminho Avalon se deu conta de que ainda tocava a garota e a soltou, nesse momento Ana despertou gritando como um animal ferido. Os olhos do Anjo Negro cintilaram num vermelho vivo e um sorriso grande lhe cobriu a face, até que começou a gargalhar enquanto Ana debatia-se e gritava no chão, espumando pela boca no início e depois sangrando pelos ouvidos, olhos e boca.

Avalon estendeu sua mão na direção da garota e o corpo dela se recuperou, não via-se mais sangue e ela não se debatia mais, no entanto parecia em choque, catatônica.

- Levante-se, Ana.

Ela colocou-se de pé, rosto completamente inexpressivo.

- Siga-me – Disse “O Senhor do Desespero” e continuou em direção ao saguão protegido por milhares de anjos, onde ele mais uma vez pagaria o preço do feitiço supremo que manteria Ana viva, mas presa a sua cortina de desespero, viva, mas sem vida, esperando o momento certo de lhe fazer a proposta que a faria servir a Lúcifer.

 

“Só falta você minha cara, somente você para completar a vontade de meu senhor, seus irmãos já decidiram que lado servir”

 

Com esse pensamento Avalon cruzou o salão protegido e abriu a grande porta, tomou Ana pelo pulso, ela voltou a tremer e chorar nesse momento, e prendeu-a no ultimo par de algemas livre, ao lado de Daniel, que a milênios estava ali e a muito já fizera sua escolha, não se via mais o brilho nos olhos, ele não gemia, ninguém na sala gemia, não haviam mais seres hediondos açoitando as pessoas ali, estavam todos no solo apenas vigiando, as pessoas presas as paredes estavam sem pele sobre a carne, e esta carne havia se tornado negra e de aparência dura como pedra, os olhos haviam se tornado com Ônix, negro, frio e sem vida, todos os “seres” presos a parede voltaram seu rosto para Ana assim que ela foi colocada lá.

Avalon mais uma vez fez o ritual, a criatura que foi moldada pela alma de um pecador atirou-se violentamente contra Ana e o grito que ela deu encheu todo o salão enquanto gemidos de prazer de todos os humanos que haviam vendido sua alma a Lúcifer.

- Voltarei em breve – Disse Avalon e retirou-se do salão.