19 – Lágrimas de Sangue

 

Uriel voou veloz e absoluto em direção ao Cristo Redentor, levou cerca de dois minutos pra cruzar o país de norte a sudeste. Próximo à estátua do Cristo Redentor, de braços abertos acolhendo aqueles que nele creem, havia um numero incomum de anjos, todos de olhos vibrantes e em fogo constante, ao sentirem a aproximação de Uriel prepararam um corredor, como um escudo defensivo.

O Arcanjo apurou os sentidos e deu conta de que uma miríade de guerreiros infernais, anjos negros e demônios, ocupavam os arredores do portal para onde se dirigia, pareciam prontos a atacar.

Um anjo enorme colocou-se a frente de Uriel. Tinha o tamanho de Gabriel, corpo forte e maciço, pele vermelha como o próprio sangue, mas a cor cintilava como magma, sem cabelos na cabeça, olhos num neon negro que destacava-se muito dada a cor de sua pele, um verdadeiro guerreiro dos céus.  Sua espada ardia em chamas selvagens da mesma cor de sua pele e seus olhos eram de pura fúria.

- Meu irmão, o que houve? – Perguntou Uriel ao aproximar-se do grande guerreiro.

- Não sei, Uriel, Mestre da Matéria, eles concentraram atividade nessa região, mataram alguns dos nossos que guardavam o portão celeste, cheguei com meu pelotão a tempo de impedir que algo fosse feito e estou guardando a entrada. Sentimos a explosão do poder dos arcanjos agora a pouco, o que está havendo Uriel?

Uriel olhou perplexo, a fúria lhe traindo as convicções, queria vingança contra os infernais. O anjo vermelho que ali estava afastou-se um pouco ao sentir a cintilação de ódio que vinha de Uriel. O Arcanjo forçou-se a voltar ao normal sob o olhar assustado do companheiro e se dirigiu a entrada do portal enquanto lhe falava.

- Tomaram um portal, o portal que eu guardava, tenho que me dirigir a casa de nosso Pai, conferenciar com Miguel, guardem essa passagem, não permitam que seja destruído.

O Anjo vermelho assentiu e passou a distribuir ordens a seus subordinados, incluindo o envio de mensageiros aos quatro cantos do Brasil a fim de conseguir mais anjos para guardar os portões. Era absolutamente fabuloso, colocou-se entre sua tropa e as tropas inimigas, rugiu como um leão demarcando seu espaço, as chamas de sua espada rugindo junto com ele, podia não ter o poder de um arcanjo, mas com certeza não seria desafiado levianamente.

- Eu sou Salatiel, filho do Deus vivo, e estou aqui para proteger o entrada da casa de meu Pai, mesmo que custe minha vida.

Os anjos a sua volta brandiram espadas, expandiram sua aura e ficaram em posição de iniciar a batalha, alguns demônios se amedrontaram enquanto os anjos negros tomaram posição de ataque também.

Um dos anjos negros, de mesmo porte do celeste se adiantou.

- Esperamos ordens para destruí-los, filho de Deus, mas nada me impede de brincar contigo enquanto esperamos.

Lançou-se em velocidade assombrosa contra Salatiel, e iniciaram um duelo.

Uriel seguiu confiante a base do Cristo, proferindo algo incompreensível na língua angelical, uma grande luz em espiral se fez e ele atravessou, assim que passou pelo portão parou diante de um exercito angelical, já na casa de seu Pai, o reino celeste. Alguns anjos olhavam-no com tristeza, obviamente já sabiam parte do que se passara.

O Mestre da Matéria alçou voo e partiu em velocidade alucinante para o Palácio Celeste, na metade do caminho encontrou-se com Gabriel e Miguel, ambos tristes e calados, colocaram-se a seu lado e os três titânicos, sem nada dizer, seguiram juntos ao Palácio Celeste. Mikael e Ya-hel estavam na entrada aguardando os irmãos, também nada falaram e seguiram todos para dentro, iriam conferenciar com o Pai.

 

 

Israel voltou ao acampamento e encontrou Gustavo ainda desacordado, Rafael, Kid e Julius recuperando forças, o arcanjo já estava recomposto e já estava coberto pelo manto negro.

- Peço desculpas irmãos. – Disse um tanto triste – Fui dominado pela fúria, não consegui evitar.

- O que está havendo Israel? – Rafael estava de pé ao lado de Julius, que ainda parecia um tanto abatido. Kid estava acordando Gustavo com tapas no rosto, um pouco mais forte do que seria necessário e Gustavo acordou sobressaltado.

- Calma cara, to de pé já, não precisa disso.

Kid deu um sorriso maldoso e voltou-se ao restante do grupo.

- O que houve Israel, quem te tirou do sério desse jeito?

Israel baixou a cabeça um pouco, suspirou, não que precisasse de ar, mas tanto tempo na terra e na presença de humanos lhe garantia alguns trejeitos – Uriel estava guardando o portal que vocês ouviram falar, ele – parou um instante tentando formular uma frase que parecesse menos pior – bom, foi ele quem “Atravessou” o portal. – Kid, Rafael e Julius arregalaram os olhos.

- Esta me dizendo que ele fundiu sua divindade com a carne? – Julius disse isso como quem tenta dizer algo que nunca fora concebido antes.

Gustavo olhava para todos sem nada entender.

- Sim, ele esta na terra desde o nascimento da criança, foi a primeira vez que conseguimos identificar um portal logo que este nasceu, ele está cuidando dela desde então e ao que parece ele, bem, não entendo os sentimentos humanos por completo, mas me parece que ele a ama. – Fez uma pausa tentando entender o que ele mesmo dizia. – Nunca entendi o que vocês podem dar um ao outro que nosso Pai não possa, nunca entendi a necessidade de ter alguém em suas vidas mais que a meu Pai, mas parece que Uriel está sofrendo desse mal.

Rafael estava completamente incrédulo do que estava ouvindo.

- Já ouvi sobre anjos que amaram humanos de tal forma que abandonaram sua divindade, sua santidade para viver entre eles, mas nunca pensei que um arcanjo fosse acometido por tal sentimento.

- O que houve então? Por que foi tomado pela fúria? – Kid estava sentado tentado absorver o que era dito, enquanto Gustavo cruzara os braços e fazia cara de quem entendia tudo o que se passava.

- Parece que quando Uriel tomou a mulher para si, um corpo de carne e osso se fez para ele, é o mestre da matéria, provavelmente ele mesmo o fez para não ter que possuir um corpo que não lhe pertence, em fim, quando ele fez isso sua mente, seu poder e seu conhecimento ficaram selados. Agora a pouco o selo se rompeu, creio eu que quando ele foi atacado, não tivemos tempo de conversar. O portal, uma menina chamada Ana, foi levada ao inferno, com essa é a quinta vez que eles conseguem um portal, ainda não temos informações sobre o que se passa, nunca soubemos de suas mortes, nunca soubemos de alguém que conseguiu sair de lá, só perdemos por completo sua existência.

- Meu irmão é esperto, um ser incrível. Temos que saber o que está havendo ou o pior pode nos acontecer, vocês não têm noção do quão poderoso é Uriel e ele foi pressionado por dois generais, não sei o que a Estrela da Manhã está fazendo, mas está com certeza conferindo poder a suas hordas.

Julius ainda olhava incrédulo para Israel, mas sabia que fato é fato, e o fato é que Uriel perdeu o portal e não havia mais nada para fazer naquele lugar.

- Devemos voltar, não temos mais nada para fazer aqui, precisamos esperar que Deus nos permita conhecer Seus planos e nos deixe trabalhar por Ele, por hora vamos para casa.

Assim que terminou de falar sentiu a aproximação de inimigos, Israel sacou a espada junto com Rafael, Kid transformou-se de uma vez e Gustavo passou a ativar algumas runas, força, fogo, vento e tele transporte.

Poucos segundos depois uma legião de demônios e anjos negros invadiu a clareira onde estavam. Israel subiu aos céus seguido por Rafael e os inimigos em seu encalço.

Julius apurou os sentidos, sentiu a presença de vários vampiros, alguns lupinos e um humano.

- Preparem-se – Gritou aos amigos que fecharam um circulo costas a costas.

Gustavo conjurou chamas em suas mãos, seus olhos refletiam o fogo como que se estivessem em chamas também. Kid uivou de forma estridente, abrindo o peito para a lua, baixou o corpo e deu um soco no chão que abriu uma cratera. Julius fechou os olhos, tirou a espada da bainha, uma cimitarra de prata pura envolta em poder divino, sua espada espiritual estava em conjunto com a espada de prata, na mão esquerda colocou a luva feita de cota de malha de prata, com cravos também de prata. Estavam prontos para a batalha.

 

 

Os arcanjos entraram na presença de Deus, na Sala do Trono. Seguiram até a base do trono o colocaram-se de joelhos.

- Sei bem o que está havendo meus filhos, mas não vamos interferir, não vou parar o irmão de vocês, essa tarefa pertence a Miguel e somente em hora devida e não é esta.

Uriel levantou-se.

- Pai, meu Senhor e Rei, eu suplico, deixe-me buscar Ana, permita-me tirá-la de lá.

- Não atendi a esses pedidos antes e não o farei agora – Disse Deus lembrando-lhe de outra época em que um portal fora levado - Tudo quanto está havendo, já foi escrito, já sabia de sua traição para comigo, tanto quanto já o havia perdoado a eras, desde o início de tudo. Nada saiu diferente do que já escrevi que seria e assim será.

Uriel balbuciou algo incompreensível, mas nada falou de fato.

- Filho amado, meu Arcanjo, Mestre da Matéria, há em ti agora um vislumbre do amor que tenho por meus filhos, o amor de um ser por outro é o mais perto que qualquer ser poderá chegar do que é o verdadeiro amor que tenho por minha criação. Considere isso e tente entender o quão triste é para mim tudo o que está havendo, acha que está sofrendo mais que seu Pai com tudo isso? Sei que não pensa assim. Então apenas faça o que lhe digo, fique longe dos portões do inferno, fique longe do mal que ali habita. Ana se foi, isso é um fato que não será alterado por nenhum dos celestes.

Uriel deixou uma lágrima correr seu rosto.

- O caminho é duro meu irmão – Disse Ya-hel, mas a vitória chegará e tudo estará em seu devido lugar.

Não era bem o que ele queria, mas sabia que não adiantava questionar as ordens de seu Pai. Os Arcanjos levantaram-se e saíram da sala do trono, já do lado de fora do palácio celeste, Gabriel alçou voo sob o olhar triste de seus irmãos, Mikael preparava-se para segui-lo, mas foi detido por Miguel.

- Deixe que vá, ele já presenciou a tomada de um portal, isso ainda o entristece muito, ele precisa ficar sozinho um pouco. - Ya-hel, o Arcanjo da Sabedoria Divina, seguia o voo de Gabriel com os olhos. – Ele terá sua chance de vingar o sangue derramado, o caminho é duro sim, mas a vitória será completa e nós finalmente viveremos em paz com os filhos de nosso Pai.

Uriel fitou Ya-hel por algum tempo.

- Irmão, espero sinceramente que cada segredo que lhe fora revelado sobre o por vir esteja correto. - Fez uma pausa pensativo e por fim dirigiu-se a Miguel.

- Miguel, precisamos conseguir autorização para ficar na terra, tem algo errado nisso tudo, precisamos ficar onde a batalha será travada, Lúcifer ganha mais espaço a cada dia enquanto corrompe os homens. Vivi na terra nos últimos dezoito anos, vi mais maldade do que jamais presenciei, a Estrela da Manhã está ganhando terreno e sua força está crescendo muito.

Todos o ouviam com atenção, Ya-hel, porém retirou-se.

- Eu irei a terra, meu Pai nunca me proibiu de tal - Mikael, o Anjo da Guarda podia ir e vir sempre que quisesse. – Juntar-me-ei a Israel e aos escolhidos de Deus para essa batalha, pedirei a meu Pai que lhe envie comigo, Uriel. – Disse isso e retirou-se novamente para o palácio celeste.

Miguel e Uriel ficaram sozinhos e em silêncio por alguns instantes.

- Miguel, os Generais estão mais fortes, Death e Makaliun quase tomaram minha existência, ainda somos mais fortes, mas a Estrela da Manhã está equilibrando as coisas. Não sei o que está fazendo isso, nem como, mas a verdade é que em breve estarão em condições de nos enfrentar, de igual para igual. Não estão mais evitando o combate com os anjos, estão matando os nossos sem dar atenção as regras da guerra celeste, já temos motivo o bastante para Declarar a Guerra Celeste, nunca foi feito isso antes, precisamos descobrir o que se passa.

Miguel ouvia atentamente cada palavra de seu irmão, mas sua mente estava em outro ponto.

- Porque atravessou o portal, Uriel?

Uriel o olhava confuso.

- Não ha tempo para isso Miguel, precisamos nos mover contra essa força que nosso irmão está levantando.

- Temos tempo Uriel, sempre tivemos, Deus já nos garantiu a vitória, agora responda minha pergunta.

Uriel olhou para o irmão mais uma vez e baixou os olhos.

- Amor, meu irmão, amor. Não o que temos um pelo outro, não o que sentimos por nosso Pai, temos em nós uma divida com nosso Pai, o amamos, pois é nosso criador e sempre o amaremos isso é fato, mas Ele mesmo disse, não foi? Somente quem ama como um homem pode amar uma mulher saberá de leve o que é o amor verdadeiro, o amor que nosso Pai tem por todos nós. – Parou por alguns instantes e continuou. – Eu a amei, Ana, minha Ana. Simplesmente não conseguia ver minha existência sem ela, não conseguia imaginar-me ultrapassando as eras sem ela. Precisava dela, precisava de seu carinho, seu abraço, tudo em mim lhe pertencia. Não consegui explicar, tive que tê-la para mim, tive que provar o gosto que nosso Pai nos privou e na verdade agora eu entendo porque nos privou disso. É uma arma irmão, quando se está nesse estado, tudo o que está ao seu alcance parece licito, parece no mínimo aceitável. Nosso Pai é de fato um ser fabuloso, não entendo como pode permitir aos humanos matarem-se uns aos outros tendo dentro de si tal amor.

Miguel olhava o irmão com interesse, algo parecia ter mesmo mudado.

- Vamos conseguir de volta tudo o que nos está sendo roubado Uriel, tenha certeza disso.

Mikael voltava sorrindo.

- Vamos voltar a terra Uriel, e saiba que nosso pai lhe perdoou todo o pecado, não há em ti nada que o proíba de passar livremente pelos portais.

- Voltem a terra, tentarei conseguir autorização de meu pai para ficar por lá por alguém tempo. – Miguel disse isso e foi em direção ao palácio celeste.

Mikael e Uriel alçaram voo em direção ao portal mais próximo dali. Uriel com uma expressão séria e violenta, assim como o amor se apoderou dele quando esteve com Ana, algo novo o tomava, ódio e desejo de vingança, compreendia agora porque Deus lhes privara de tais coisas, celestes são poderosos demais para lidar com essas coisas, sem destruírem uns aos outros.

 

 

Ravn permaneceu inconsciente por três dias e três noites, recebendo tratamento constante de Ynara e Shamira, mantinham uma de suas veias recebendo soro para que seu corpo não ficasse sem os nutrientes necessários.

Em sua mente reviveu cada momento de sua história com Vladmir, cada palavra trocada, o sentimento de culpa lhe consumia o juízo e sempre se atenuava quando se dava conta que ele morreu por sua causa, pode não ter sido ele quem deu o golpe final, mas foi por seus atos e sua estratégia que ele foi morto, foi pelos anos de treino, pelos anos de ausência, seja qual fosse o ângulo que Ravn analisasse a situação, sempre chegava a mesma conclusão, o sangue de seu filho estava em suas mãos.

Despertou, sob olhar preocupado de Shamira, que lhe passava um pano umedecido no rosto, tratava-se de uma infusão de ervas com propriedades medicinais, ela passava por todo o corpo de Ravn. Assim que ela percebeu que ele havia despertado, se afastou para que o mesmo pudesse levantar, Ravn se esforçou um pouco e sentou-se na cama.

- Quanto tempo fiquei apagado?

- Três dias e noites, deve ter tido um tormento e tanto, não parava de murmurar.

Ravn baixou a cabeça.

- Lembranças que nunca me deixarão em paz, mas isso não importa, o que importa é que conseguimos, destruímos aquele moleque maluco e eu sei onde está Liber Amon Rá, não vai ser fácil chegar lá, será quase impossível entrar e sacrificante sair de lá com o livro, mas valerá cada gota de sangue.

- Shamira disse que foi visitada em sonhos durante a noite, temos que ir para o Brasil.

- Como assim? O que está havendo? Gustavo, alguém disse algo sobre ele?

- Calma Ravn – Shamira soava calma e tranquilizadora – Vamos cruzar o planeta mais uma vez, Ynara conversou com o povo dela e decidiram que só irão se envolver se tiverem certeza de que o mundo mortal será envolvido na batalha. – Olhou com um certo desprezo para a irmã – Gostaria de ter mais Iluminados comigo, mas a anos não encontro alguém que siga esta carreira e mesmo os que já conheço, a muito estão em suas próprias batalhas, nem me lembro quanto tempo faz desde a ultima vez que vi Julius.

Ravn se endireitou na cama.

- Ele está no Brasil, guarda a América do sul a algumas dezenas de anos. – Ravn começava a encaixar as coisas. – Não teremos tempo de ir buscar Liber Amon Rá.

Ynara levantou-se.

- Quando você voltar, se voltar, vamos procurar esse bendito livro.

- Você quis dizer, quando nós voltarmos, não foi? – Shamira estava mais uma vez furiosa com Ynara.

- Não, pequena e tola irmã, na verdade penso ter sido bem clara. – Disse lançando a Shamira um olhar desafiador - Quando você voltar, se voltar, vamos procurar Liber Amon Rá. – Fez uma pausa sob olhar de desgosto de Shamira e a incredulidade de Ravn – Não tomarei partido nessa luta, não tenho nada a ver com isso. – Sentenciou por fim.

Shamira ficou vermelha tamanha a raiva que sentia, Ravn abriu e fechou a boca algumas vezes emitindo sons incompreensíveis e por fim, levantou-se da cama.

- Deixarei que vocês leiam minha mente e saibam o que eu sei, assim, caso eu não retorne – disse olhando para Ynara – vocês podem ir atrás do livro.

- Isso é um absurdo – esbravejou Shamira – Deixará que ele vá sozinho? Se Julius foi convocado é porque o inimigo é poderoso, acha mesmo que ele sozinho será de alguma ajuda?

- Não devo nada aquele moleque, nem a ninguém aqui, meu povo decidiu por esperar e é isso que faremos. – Sentou-se no chão – Faça o maldito ritual e nos deixe ver onde está o livro.

Shamira estava exasperada, mas sob um sinal de cautela de Ravn sentou-se, acompanhando a irmã, Ravn sentou-se e compartilhou com elas, através de suas lembranças, tudo o que conseguiu com Vladmir.

- Meu Deus, sem um mago será praticamente impossível, e será necessário um sacrifício. Como vamos pagar esse tributo sem fazer mal a alguém?

Ynara estava completamente atordoada com o que descobrira. Ravn levantou-se.

- Na verdade não é preciso um sacrifício, apenas enfraquecer é o bastante, Vladmir sabia disso, matou o companheiro por capricho. – Considerou um quadro alternativo por um tempo – Podemos levar alguém poderoso o bastante que possa, após pagar o tributo, ficar na contenção e defesa, os outros se encarregarão dos outros obstáculos.

- Plano sem vergonha esse, não acha?

Ynara estava de cabeça baixa quando falou.

- Sim, sei que é, mas é melhor do que matar um de nós pra conseguir entrar.

Todos ficaram em silêncio por algum tempo, considerando formas alternativas de vencer o tributo, mas nada veio a mente deles, teriam de arriscar alto pra conseguir entrar e quando entrassem é que o verdadeiro desafio teria inicio.

- Vamos seguir em frente Shamira, ou ficará aqui com Ynara?

- Sua pergunta muito me ofende, nunca deixarei Julius sozinho numa batalha para a qual fui convidada.

O velho sorriu, estava branco, obviamente não tinha quase nada de energia no corpo, o ultimo encantamento, para compartilhar suas lembranças quase o derrubou.

- Vamos de avião, ficarei em repouso durante todo o voo, me alimentando e descansando, talvez esteja restabelecido para uma possível batalha.

- Pensa que é um jovem ainda? – Ynara se inflamara mais uma vez – E você Shamira? Acha que vai ajudar Julius? Se ele não puder enfrentar o que quer que seja, não será você a conseguir.

- Minha querida irmã, não é assim que as coisas funcionam, as forças somadas podem fazer milagres como bem sabe, eu irei, honrarei meu propósito com Deus e se eu morrer, morrerei ao lado de alguém por quem tenho muito amor. Não me acovardarei em casa enquanto Lúcifer destrói tudo que encontra pela frente. – cuspiu essas ultimas palavras. – Eu irei.

Ynara estreitou os olhos e concentrou-se ao máximo para não se transformar e partir para cima da irmã.

- Não ouse me chamar de covarde! – Gritou – Sou filha de Gaia, Líder do meu bando, não há no mundo quem se entregue mais a uma batalha do que nós.

- Então venha conosco – Suplicou Ravn – Tem toda razão, não sou o jovem de outrora, deixei meu corpo seguir seu rumo, ainda lentamente, mas não tentei impedir, não tenho o poder que já tive e não tenho certeza de que sobreviverei...na verdade isso nem me importa, só quero tirar Gustavo de lá com vida.

- Por favor Ynara, venha conosco, ficarei mais tranquila se você estiver lá.

- Não irei, já dei minha resposta final.

Todos ficaram em silêncio por alguns minutos, por fim Ynara reuniu seus pertences e se dirigiu a porta do apartamento.

- Estarei em minhas terras, se algo mudar vou atrás de vocês. – Sem esperar respostas ela se retirou do local.

Ynara é uma guerreira como nunca se vira, tinhas a força dos ursos e a agilidade dos lupinos, era sábia como as corujas, não fosse o fato de ser filha da Lua e estar sujeita a alterações de humor, seria sem duvida uma guerreira perfeita, nunca poderia ser tomada por covarde, era de fato uma guerreira destemida, mas era também a líder de seu bando, era a rainha de sua gente, não podia se expor a uma batalha que não tivesse um propósito definido. Sua responsabilidade como líder lhe dizia para esperar, mesmo que o amor por seus amigos e sua irmã lhe dissesse para partir.

Saiu da casa cabisbaixa, dirigiu-se ao apartamento que locara e pegou o que ali ainda estava e lhe pertencia.

Saiu de lá e foi a uma loja com grandes espelhos, precisava de um que tivesse no mínimo o seu tamanho, passou alguns minutos e por fim desistiu, tomou um taxi e se dirigiu ao aeroporto, lá com certeza teria o bendito espelho a disposição.

 

 

Shamira e Ravn permaneceram calados por alguns instantes, mas o tempo era curto e o caminho longo, Ravn sabia disso e decidiu que era hora de partir.

- Procure um voo para nós, vamos para lá o quanto antes.

Shamira se levantou e foi procurar um voo, havia um partindo dentro de duas horas, fretaram um avião partindo de Gigmoto para um aeroporto que fazia voo direto para o Brasil. Levariam dezessete horas de voo para chegar a São Paulo, era mais tempo do que Ravn esperava, mas era também uma chance de fortalecer o corpo para a batalha.

Já estava voando a quase oito horas quando Ravn sentiu um medo apoderar-se de seu coração, estava cochilando e abriu os olhos a tempo de ver um anjo enorme deixando o avião.

- Temos que ir agora, acha que consegue nos levar pra lá?

Shamira estava aflita.

- Sim, acho que já consigo, onde eles estão?

- Amazônia, no seio da floresta, entrarão em batalha em alguns instantes.

Ravn se desesperou, colocou a mente pra funcionar, não podia errar, era torcer pra Gustavo estar com a Adaga que lhe deu, permitiria um teletransporte num raio de trinta metros de onde ele estivesse.

Concentrou-se, desenhou a runa no ar, recitou o encantamento de tele transporte por completo e desapareceu do avião, algumas pessoas começaram a olhar assustados para Shamira que ficou sozinha no local.

 

 

Ynara chegou ao aeroporto e foi até o banheiro, lá havia um grande espelho para uma pia com dez torneiras. Olhou nos banheiros privativos e não havia ninguém, foi até a porta e travou por dentro, quebrou a maçaneta e voltou-se para o espelho.

Tocou o espelho com o dedo indicador de ambas as mãos e recitou um encantamento de olhos fechados, foi separando os dedos e abrindo os braços, ainda tocando o espelho, enquanto fazia isto foi abrindo-se um buraco negro no espelho que ficou o tamanho de seus braços completamente separados.

Ynara retirou as mãos do espelho e tocou o centro do buraco negro com a mão direita, ergueu a mão esquerda e pronunciou um nome, Rarqnov, o nome de sua aldeia no meio da selva na China. O buraco negro se desfez e ela pode ver o interior de sua casa, na verdade viu o próprio quarto, saltou para dentro do espelho e o buraco começou a se fechar as suas costas.

Assim que chegou no quarto, virou-se para o espelho a tempo de ver o buraco se fechando, alerta e pronta para o que surgisse. Haviam alguns problemas em usar os espelhos para chegar a outros lugares, primeiro você deveria saber exatamente onde estava o espelho, do contrário você poderia “sair” num lugar desconhecido, ficar preso entre os mundos ou ainda tentar sair por um espelho que não tivesse tamanho suficiente para sair, de forma que perderia a passagem e ficaria no mundo dos espelhos, até que alguém te ajudasse a sair. Isso tudo leva ainda a outro problema, caso você abra um espelho para sua passagem, pode se deparar com mais alguma coisa tentando sair junto contigo e ser obrigado a lutar pela saída, logo, enquanto o buraco não se fechasse por completo, não era possível afirmar que se está seguro.

O buraco terminou de fechar-se e Ynara relaxou, jogou a mochila que carregava de lado e desabou na cama, cansada e pensativa, estava preocupada com o velho e com sua irmã, mas seu povo tomou uma decisão e ela deveria estar com eles...não deveria?

Ficou deitada até adormecer, dormiu por seis ou sete horas seguidas, até despertar com uma fome monstruosa. Levantou-se, saiu de seu quarto e foi até a cozinha, sua casa era pequena, como todas de sua vila, quarto, sala, cozinha eram divididos por móveis e não por paredes, como se fosse um grande cômodo, e havia obviamente um banheiro. Preparou uma refeição caprichada e começou a devorá-la, quando terminou de comer estava entupida e satisfeita, levantou-se da mesa no intuito de ir tomar banho, mas sentiu a aproximação de um ser espiritual, desejou ver através do véu e lhe foi concedido, um grande anjo negro digladiava com um anjo celeste, trocavam golpes estrondosos de espadas, golpes precisos e fatais, seja quem errasse seria morto, Ynara ficou um tanto nervosa e se transformou, grande demais para o pequeno espaço que morava, ficou ali assistindo a batalha, rosnado feroz contra o anjo negro que sempre que tinha uma chance tentava partir contra ela, mas finalmente o anjo celeste conseguiu vencê-lo, estava com ferimentos no rosto, asa e perna esquerda, mas em boas condições.

- Filha da Lua, sua irmã entrará em batalha em breve.

Ynara manteve-se em silencio.

- Não pense que seu povo não será envolvido em tal batalha, não há espaço que baste para a estrela da Manha, em breve ele chegará aqui, e talvez não haja um celeste para lhe garantir proteção.

O anjo terminou de falar e desapareceu subindo pelo teto.

Ynara ainda transformada num grande urso guerreiro ficou em silêncio por alguns minutos, até sentir seu braço esquerdo arder.

- Maldito velho. – Disse antes de desaparecer.

 

 

Ravn reapareceu no meio da floresta, apurou os ouvidos e percebeu uma batalha perto dali, estava cansado, foi um tele transporte muito longo, quase desmaiou, mas a urgência da situação lhe permitiu ficar de pé. Subiu aos céus e viu Anjos e Demônios em batalha furiosa, voltou ao chão e correu desenfreado naquela direção.

Assim que chegou ao local, viu Gustavo sendo atingido por um golpe violento no queixo que o atirou aos céus, viu Lupinos e vampiros em luta selvagem, tocou o braço esquerdo e trouxe de uma vez Shamira e Ynara.

Ynara ia dar-lhe uma patada monstruosa na face quando viu dois lupinos e alguns vampiros lutando contra um terceiro lupino, estreitou os olhos maliciosa, virou-se para o velho.

- Depois me entendo contigo, velho.

E partiu naquela direção, uma armadura de aço foi cobrindo aos poucos o seu corpo, um martelo parecido com o Mjolnir em cada uma das mãos e um elmo lhe cobriu a cabeça. Estava em sua forma mais ameaçadora, A Guerreira da Lua.

Shamira sentiu a presença de Julius e foi para lá, o velho mago respirava com dificuldade, viu um bruxo surgir acima de Gustavo e conjurar fogo negro, entrou em pânico, começou a recitar um encantamento complexo e extenso, por fim estendeu as mãos em direção a Gustavo e bloqueou o ataque envolvendo o pequeno mago com um escudo de energia vital, sua energia vital.

A esfera de luz trouxe seu pupilo em segurança ao chão, Ravn quase perdeu os sentidos novamente, mas precisava ganhar tempo para Gustavo e sabia que a única forma de conseguir isso era prosseguir na batalha.

Ativou todas as runas que pode, sob olhar curioso do bruxo e subiu aos céus, provavelmente pela ultima vez.

 

 

Seis vampiros e três lupinos chegaram à clareira. Julius deixou a formação defensiva e foi em direção a um dos lupinos, desviou de um ataque lateral que teria arrancado suas tripas, rolando pelo chão, golpeou o braço do inimigo arrancando fora, saltou sobre o inimigo e com um novo golpe ia arrancar sua cabeça, mas foi atingido ainda no ar por um dos vampiros, ambos caíram no chão, mas o vampiro já estava morto com um golpe de espada cravada no coração, o iluminado arrancou sua cabeça e chutou para longe, o lupino já estava em cima dele.

Gustavo usou o vento para atirar as chamas contra dois vampiros que vinham em sua direção, como se fosse um turbilhão em chamas em linha reta, um dos vampiros saltou e o outro desviou para a direita. Gustavo suspendeu os braços e queimou num instante o vampiro que havia saltado, o fogo que conjurara tinha algo realmente mágico e consumiu a vampiro rapidamente, o segundo vampiro já estava a centímetros de pegá-lo quando o perdeu de vista. Gustavo usou o tele transporte apenas alguns centímetros, reaparecendo um pouco atrás do inimigo e enfiando todo o braço nas costas do vampiro, que ardeu em chamas até virar cinzas, assim que o inimigo se dissipou foi atingido por um chute violento no estomago que o fez subir alguns centímetros do chão. A runa de fortalecimento do corpo lhe permitiu não perder os sentidos e ele usou novamente tele transporte para sair dali, pairando no ar cerca de dez metros acima. Identificou o atacante, um lupino que assim que o perdeu de vista foi degolado por Kid que em seguida arrancou-lhe a cabeça com uma bocada.

Em queda livre usou o vento para dar-lhe direção e procurava aproximar-se de Julius que já havia destruído um dos lupinos e dois dos vampiros, mas estava agora lutando contra dois vampiros enquanto Kid estava lidando contra o ultimo dos lupinos. Quando estava a pouco menos de três metros do chão viu Julius arrancar a cabeça de um vampiro, mas o ataque deu abertura para o outro que preparava-se para lhe cravar as garras na linha do abdome, Gustavo desapareceu e reapareceu a entre os dois a tempo de, com um escudo conjurado, defender o golpe e dar tempo o bastante ao iluminado para golpear de cima para baixo cravando a espada no pescoço e saindo nas costas do vampiro que ficou imóvel de imediato.

Viraram-se para ajudar Kid, mas este jogava a cabeça do ultimo adversário para cima com a mão, como quem joga uma bola de tênis.

Reuniram-se ao centro da clareira olhando para o céu onde a batalha entre os anjos e a escória infernal se desenrolava, Israel e Rafael não estavam mais sozinhos na batalha, todo o contingente angelical que estava no aeroporto e em volta dele, estava ali agora, muitos anjos negros estavam feridos assim como alguns anjos, a maior parte dos demônios já havia perecido.

Mais uma vez os sentidos dos três foram incomodados com a presença de seres malignos, alguns demônios sobrevoaram a clareia, mais vampiros e lupinos chegaram. Um dos Lupinos era diferente dos outros, trajava um tipo de armadura nos ombros, um cinto com uma adaga e joelheiras com cravos, em sua mão havia uma clava com inscrições com lhe cobriam completamente.

Ao lado do Lupino Guerreiro, Faustu e Erik completavam o trio de ataque infernal.

Assim que Faustu adentrou, foi recebido por ataque furioso de Julius, ambos trocaram golpes com suas espadas e sumiram floresta adentro. Erik conjurou chamas e atirou contra Gustavo, que usou o escudo conjurado para desviá-las. Desapareceu e reapareceu as costas de Erik, tentou acertá-lo com o próprio escudo, mas Erik também desapareceu, reaparecendo no ar a dez metros de altura, já com uma esfera de fogo negro conjurada, atirou essa esfera contra Gustavo que pretendia defender com o escudo. Quando a esfera estava a pouco mais de três metros do escudo um lupino foi atirado contra a mesma sendo desintegrado completamente em um único instante, apenas uma névoa cinzenta e mal cheirosa no lugar onde colidiram.

Foi Kid quem lançou o lupino contra a esfera negra, lutava contra uma dupla de vampiros assistidos pelo Lupino Guerreiro e falava com Gustavo pela mente.

- Não defenda esse tipo de ataque garoto, não sei quem é aquele cara, mas está usando magia antiga. Fogo negro, não vejo isso desde a idade das trevas.

O lupino guerreiro rosnou chamando a atenção de Kid, que acabara de partir um dos vampiros ao meio enquanto o outro se afastava assustado, Kid rosnou também e lançaram-se um contra o outro.

Erik flutuava no céu sob o olhar preocupado do mago. Gustavo não estava acostumado a enfrentar gente tão poderosa, mas não havia o que ser feito se não lutar.

 

 

Mikael e Uriel entraram no plano físico em meio a floresta amazônica, uma tempestade iniciou-se com a chegada dos celestes, Uriel ordenou calmaria, mas estava tão furioso com tudo, que o efeito foi bem diferente, transformando a tempestade elétrica rapidamente em um furação, efeito jamais visto em tamanha proporção em terras brasileiras.

Mikael tocou o ombro do irmão e o acalmou, estendeu a mão para a tempestade que se desfez rapidamente.

- Calma meu irmão, não podemos deixar nossa natureza ser abalada pelas coisas terrenas, seria destruição certa para os homens.

Uriel, mais calmo, assentiu. Olhou ao redor e viu a alguns quilômetros dali que uma batalha se desenrolava, indicou a direção a Mikael e partiram em velocidade extrema. Poucos segundos seriam necessários para vencer essa distância.

 

 

Rafael enfrentava três anjos negros ao mesmo tempo, Israel tinha uma dúzia de oponentes sobre ele, a batalha estava fora de controle, o numero de Anjos Negros e Demônios era muito superior ao numero de Guerreiros Celestes. Israel não via outra solução se não dissolver o manto, precisava de algum tempo para conseguir autorização divina e sabia que haveria consequências posteriores, mas não dariam conta de todo o contingente que ali estava se não usasse todo o seu poder. Girou a espada decapitando três anjos negros de uma vez e subiu aos céus, concentrou-se alguns segundos e percebeu que não era mais o único arcanjo no local, não havia mais porque se preocupar, podia retirar o manto sem problemas agora.

Expandiu sua aura de uma só vez, assustando a todos na batalha e o manto negro se dissolveu, alguns anjos negros que o seguiam de perto desfaleceram ante a onda de poder que foi liberada. Ele preparava-se para o contra atacar quando a sua frente uma espiral negra se abriu Makaliun, Death, Brugos, Hermut e Akila, todos com as armas sagradas desembainhadas e em fogo constante.

- O que temos aqui – adiantou-se Death – Creio eu que você não tenha autorização para isto, Arcanjo.

- As coisas estão mudando General, mais do que você pensa na verdade. As vezes temos que agir com um tanto de imprudência, assim como vocês estão fazendo agora.

Brugos caiu na provocação e lançou-se contra Israel, que desviou por um triz e atingiu as costas do general com uma cotovelada violenta atirando-o para baixo. Death girou sua arma sagrada criando circulo de fogo e atirou contra Israel, não havia chance de desviar, preparou-se para o impacto, mas um escudo titânico se formou a sua frente bloqueando o ataque. Uriel era quem empunhava o escudo, Mikael acima de todos atirava seu ataque contra o grupo de generais, que se dispersou, a batalha acabava de tomar níveis alarmantes, seriam cinco generais contra três arcanjos.

Akila e Death ficaram lado a lado e seguiram contra Mikael.

Makaliun e Hermut se colocaram contra Uriel e Brugos que fora jogado para baixo enfrentava Israel que tentava ajudar o exercito angelical, que encontrava-se em desvantagem.

Israel descera destruindo dezenas de anjos negros e demônios, mas agora já estava novamente em combate contra Brugos, que o estava enfrentando quase que de igual para igual, pelo menos trinta Anjos Negros auxiliavam o general, lançando ataques precisos contra Israel sempre que ele tentava causar algum dano a Brugos.

Uriel fora mais uma vez acometido pela fúria, havia ferido Death e Makaliun e no entanto via-se claramente que ambos foram completamente recompostos na ultima hora que se passou.

 

 

No solo, a luta entre Kid e o Lupino Guerreiro estava alucinante, ambos tinham sangue cobrindo o corpo e cicatrizes horrendas nos lugares onde os cortes foram fechando-se durante a luta.

Kid parecia ligeiramente em desvantagem, havia algo de mágico nas armas que o Guerreiro usava, tornava a ferida fétida, dolorida e de difícil cicatrização, o que estava lhe custando muita energia, fora o fato de estar lutando contra o Lupino Guerreiro, dois outros lupinos e seis vampiros, fracos, mas insistentes e ordenados.

Cada ataque da equipe de vampiros lhe custava acrobacias e força bruta para esquivar bloquear e revidar. Um ataque do guerreiro atingiu sua perna direita durante um salto que dera para esquivar do ataque combinado de um dois lupinos e dois vampiros, ele matara um dos vampiros, ferira o segundo e esquivou por cima do lupino, mas quando foi atingido, caiu no chão, ao que o guerreiro e um dos lupinos avançaram ferozmente. Kid preparou-se para segurar o máximo que poderia do guerreiro e tentaria não sofrer tanto dano do segundo lupino, de repente chamas foram conjuradas entre Kid e seus inimigos.

Gustavo que tentava não ser morto por Erik e ao mesmo tempo preocupava-se com Kid, conseguiu conjurar as chamas antes que o ataque dos lupinos destruísse seu amigo, mas isso lhe custou um instante de atenção de que não dispunha.

Erik transportou-se para baixo de Gustavo, aplicou-lhe um gancho com o punho coberto de fogo. O mago foi atirado para cima como um míssil, quase inconsciente. O bruxo desapareceu do solo sob o olhar aterrorizado de Kid e reapareceu nos céus acima do inimigo que ainda subia devido o golpe que levara. O bruxo estreitou os olhos e conjurou fogo negro, seria o fim do mago, levantou a mão com a bola de fogo enquanto o corpo de Gustavo ainda subia e desceu o braço para finalizar o golpe a esfera era um tanto mais lenta que as esferas de fogo comum, mas ainda sim era mortal, estava acabado para Gustavo, seria seu fim. O mago ainda subia, sua consciência traindo sua vontade, minguava ao passo que seu corpo não se movia, viu, entre lances de escuridão e consciência a esfera de fogo negro aproximando-se, sentiu a morte abraçando seu corpo, sentiu seu corpo parar de subir e ser envolvido por uma esfera de energia, lembrava-se desse sentimento, lembrou-se de seu mestre, lembrou-se de sua presença, lembrou-se das milhares de vezes que foi ao limite e era trazido de volta por Ravn, lembrou-se com saudade de uma vida tranqüila, ia morrer, mas sua ultima lembrança era muito boa, lembrava-se daquele que o tratava como filho e que lhe servia de pai, desmaiou. Antes do ataque do bruxo tocar o mago uma esfera de luz se formou em sua volta e ele foi poupado do ataque, a esfera o levou ao solo em segurança.

De uma das pontas da clareira, seu velho mentor vinha caminhando decidido, realizava vários movimentos e proferia diversos encantamentos ativando todas as runas que podia, olhos fixos em Erik, alçou voo também e partiu par a batalha.

Os lupinos que atacavam Kid já haviam se recomposto e partiam em ataque combinado, Kid vinha esquivando-se e bloqueando, mas não conseguia uma abertura para contra atacar, tentou aumentar a velocidade, mas os ferimentos estavam bloqueando seus movimentos.

Sentiu uma dor aguda no local onde fora acertado o ultimo golpe, desequilibrou-se e foi atingido por um chute no peito que o jogou para trás voando, o segundo lupino saltou no intuito de atingi-lo ainda em voo, mas foi parado por um novo adversário.

Um verdadeiro Urso Guerreiro com quatro metros de altura. Usava uma armadura de aço, alguns cordões nas patas dianteiras e traseiras, a armadura cobria o peito e as costas, o Elmo sobre a cabeça e verdadeiros martelos em suas mãos. Atingiu o lupino no meio do salto levando ao chão, colocou a pata direita traseira no peito do inimigo e com a pata direita deu-lhe um golpe com o martelo que lhe custou metade do corpo. Virou-se para o Lupino Guerreiro e iniciaram o combate.

Kid atingiu uma arvore que se quebrou e caiu no chão, um tanto tonto. Levantou-se, sentou no chão e viu o Grande Urso e o Lupino Guerreiro em batalha furiosa,  concentrou-se, precisava garantir uma regeneração completa para voltar a batalha.

Sentia os ferimentos curando, as cicatrizes dando lugar aos pelos e os sentidos tomando seus lugares, sentia também a aproximação de vampiros e um ultimo lupino na clareira. Abriu os olhos e voltou à batalha, recomposto e furioso.

Julius a Faustu lutavam como loucos, desferindo golpes tão potentes com as espadas que faíscas saiam em todas as direções. Faustu conseguiu acertar uma cotovelada no rosto do iluminado que o enviou para longe, o vampiro criou quatro imagens de si mesmo, todas atacando de direções diferentes. O iluminado partiu contra a terceira figura e teve seu golpe bloqueado por Faustu que de imediato dissipou as imagens e invocou as sombras, mas ao invés de tentáculos surgirem do chão, surgiram de seu próprio corpo. Julius foi atingido por um potente soco na altura do peito desferido por um dos tentáculos sombrios, afastou-se e estendeu a mão esquerda acima da cabeça, proferiu um encanto que fez sua mão emitir uma luz ofuscante, as sombras se dissiparam e o corpo de Faustu voltou ao normal.

Julius proferiu um novo encantamento e laços luminosos saíram de seu corpo e seguiram ligeiros na direção do vampiro que esquivou-se de dois ataques, mas um terceiro o atingiu causando uma perfuração no ombro esquerdo, o vampiro transformou-se em névoa e escapou do laço, solidificou o corpo e voltou ao ataque. Trocaram mais alguns golpes de espada até que ambas partiram-se, passaram a trocar socos violentos até que ambos atingiram um ao outro e bambearam dando passos para trás, com os ossos do maxilar partidos, Faustu recolocou no lugar com um estalo apenas forçando e Julius com a ajuda das mãos.

- Melhorou muito criança da noite. – Disse Julius – Será mais honrado matá-lo assim. Terei minha vingança e um pouco de diversão.

O vampiro nada disse, apenas conjurou fogo e passou a realizar ataques consecutivos, Julius esquivou-se de quase todos, mas foi obrigado a conjurar em escudo de água, não tinha controle completo dos elementos, mas o bastante para se proteger. Assim que o escudo se dissolveu o vampiro estava a centímetros e acertou-lhe um soco poderoso no rosto que o jogou contra uma arvore próxima, Faustu vinha em seu encalço pronto para matá-lo, Julius girou o corpo e ao invés de colidir com a arvore ele aterrissou ficando na vertical, o vampiro não teve tempo de esquivar e levou um soco que o jogou com violência contra o chão, Julius foi então atingido por uma lança atirada por um vampiro que assistia a batalha a distância, a lança atravessou a perna direita do iluminado.

Julius partiu a lança rapidamente e retirou da perna, concentrou-se na cura e saltou para longe de Faustu que se levantou com o rosto desfigurado.

Ambos arfavam, mas Julius, devido o ultimo golpe, estava em piores condições. Forçou sua percepção o máximo que pode, Gustavo estava quase inconsciente, Kid estava bem e haviam aliados por perto.

- Vejo que temos companhia, melhor garantir que não estejam aqui antes de sua morte, iluminado – Os olhos de Faustu ardiam num vermelho vivo, lançou-se contra Julius com ferocidade. O iluminado não teve tempo de desviar, sua perna não foi recuperada por completo. Bloqueou os primeiros três golpes, mas Faustu parecia mais rápido e logo que acertou o primeiro mais quatro golpes vieram em seqüência, o ultimo, um chute de baixo para cima, tirou Julius do chão tamanha a violência do golpe.

Faustu agarrou o pescoço do iluminado ainda no alto e o forçou contra o chão afundando-o na terra. Julius segurou o braço de Faustu com a mão esquerda e seus cabelos com a direita trazendo perto o bastante para uma joelhada que o atingiu em cheio. Faustu soltou a garganta do inimigo tempo o bastante para Julius contra atacar, este desferiu vários socos, ainda deitado, no rosto de Faustu, os golpes não tinham muita força, mas foi o bastante para dar a Julius tempo de se levantar e pensar em algo. Um sorriso se fez em seu rosto enquanto Shamira chegava ao local com a cabeça, do vampiro que o atingira com a lança, nas mãos.

- Problemas, amigo – Disse sorrindo. - Se quiser posso ajudar.

Julius assentiu e ficaram lado a lado, a dor na perna do iluminado lhe roubou boa parte da mobilidade, deu um passo para trás e conjurou fogo. Shamira disparou contra Faustu, trocaram alguns golpes, mas ela não era tão rápida quanto ele e rapidamente foi atingida e jogada ao chão, quando Faustu tentou concluir o serviço foi atingido no peito por uma esfera de fogo que o incendiou por completo.

Shamira levantou-se pronta para golpeá-lo, mas foi atingida por fogo negro, a luz abandonou seus olhos e seu corpo se desfez em cinzas, Erik desceu conjurando água e se colocou ao lado de Faustu.

- Precisamos ir embora Faustu, os celestes estão vencendo lá em cima, quando derem atenção a nós, será nosso fim.

- Nos vemos em breve, iluminado. – Terminou de dizer isso e foi tele-transportado junto com Erik.

Julius caiu de joelhos no chão, Shamira, sua amiga, viera ajudar e agora estava morta. Ficou ali por alguns segundos até que Rafael, muito ferido, veio ter com ele.

- Não há tempo para isso, precisamos sair daqui logo, os arcanjos estão lutando com os generais, todos os soldados de ambos os lados morreram, meus irmãos... – Rafael não conseguia terminar a frase. O iluminado levantou-se e seguiu em direção a clareira, Gustavo ainda estava inconsciente, Kid parecia estar cuidando dele e um antigo amigo estava por perto também, mais ninguém podia ser sentido.

Gustavo despertou e viu Julius chegando, olhou em volta e sorriu, todos estavam ali. Olhou para os céus e viu que a batalha estava complicada, levantou-se, ninguém lhe dirigia a palavra.

- Vencemos?

Kid adiantou-se e o ajudou a levantar-se.

- Sobrevivemos, vencer está longe de nós agora.

Terminou de dizer isso e indicou algo com a mão direita. Gustavo acompanhou a direção com os olhos e ficou paralisado por alguns segundos. Depois começou a chorar e caminhar até o corpo de seu mentor.

O corpo de seu mentor estava destruído, metade dele fora queimado pelo fogo negro, sinal de que mesmo na morte ele buscou sobreviver e poderia ter conseguido não estivesse tão debilitado, mesmo ante a morte certa conseguiu frear o efeito do fogo negro e impedir que todo o corpo fosse consumido. Kid estava ao seu lado e também chorava muito.

- Vamos irmão, - Disse a Gustavo – precisamos sair daqui ou todo o esforço será em vão.

Gustavo tomou o corpo de seu mentor no colo e começaram a caminhar, Kid realizou uma meia transformação que lhe deixou como um super-lobo e pediu a Gustavo que lhe montasse, estavam com pressa.

O Urso Guerreiro fez o mesmo e permitiu a Julius que o montasse e então todos partiram.

A tristeza em seus corações, além das perdas a consciência de que não estavam prontos para os inimigos que tinham que enfrentar. Partiram.

 

 

Israel estava muito ferido, mas todo o contingente de anjos negros já estava morto ou havia fugido, Brugos também estava muito debilitado, mas mantinha-se em batalha contra o Arcanjo.

Uriel arrancara um dos braços de Hermut, Makaliun estava com um grande corte nas costas, mas Uriel também estava ferido, um grande buraco no ombro direito, um corte profundo na perna esquerda e alguns aranhões no peito donde sua essência fluía para fora de seu corpo.

Akila e Death estavam em melhores condições que Mikael, mas ainda sim feridos. Mikael concentrou-se por alguns instantes e suas asas transformaram-se em um manto de fogo constante. Israel e Uriel fizeram o mesmo, era um dos últimos recursos de um Arcanjo, a concentração de poder criaria uma explosão como a de uma bomba espiritual, três delas juntas seria de fato algo com que se preocupar.

Death percebendo o que se seguiria usou o conhecimento adquirido de Baal Liurf, desenhou um pentagrama no ar com sua essência e proferiu um feitiço na língua infernal, pentagramas em fogo vermelho surgiram as costas dos generais e estes sumiram por ali antes que a explosão os atingisse.

Assim que liberaram o poder concentrado a explosão seguiu-se com estrondo. Clarão indescritível, fogo e poder absoluto foram lançados em um raio de um quilômetro, tudo foi destruído dentro desse perímetro. A cratera que foi criada era vazia, nada dentro daquilo pode sobreviver.

A explosão cessou e os arcanjos pousaram no solo, Mikael chegou a colocar um dos joelhos no chão, dada a proporção da batalha somada ao poder que ele liberara. Ficaram em silêncio por alguns instantes, proferiram um encantamento de selar na língua angelical, e foram envolvidos pelo Manto Negro mais uma vez.

Uriel forçou a percepção ao máximo a fim de identificar algum inimigo que sobrevivera a explosão, mas nada encontrou, buscou então pela essência de Rafael e a identificou partindo em sua direção, seguido por Mikael e Israel.

O Urso Guerreiro e Kid pararam o galope quando ouviram o estrondo da explosão e acompanharam a dispersão do poder e estrago que este causou até que cessasse. Era tão magnífico quanto destrutivo, era realmente divino. Rafael tentava recuperar-se de suas feridas, mas algumas simplesmente não recuperavam-se, supôs que os anjos negros estavam usando armas amaldiçoadas pelos homens, truques antigos de bruxos e deuses pagãos, usados para enfrentar celestes.

Gustavo depositou o que restara do corpo de seu mentor no chão e ficou de joelhos ao seu lado, ainda chorando. Kid e o Grande Urso voltaram a forma humana.

- Não pensei que ainda existissem filhos de Gaia que tendessem para o totem do urso. – Disse Kid sorrindo. – De qualquer forma, muito obrigado. Sem sua intervenção provavelmente eu estaria morto.

Ynara estava na forma humana, nua e incrivelmente atraente, seu corpo de fato era uma obra prima. Caminhou em direção a Julius ignorando Kid e o fato de estar nua.

- Não estavam prontos para a batalha, o que faziam aqui sem preparação? – Seu tom foi autoritário e brusco.

Julius ficou em silêncio por algum tempo, procurando as palavras certas.

- Ynara – Disse por fim - Ouvimos rumores e tomamos uma posição, algo que somente os homens podem fazer. Sabia do perigo que correríamos, a batalha obviamente seria feroz, mas confiamos no que somos, no poder que temos e acima de tudo, que estávamos cumprindo a vontade de Deus. – Respirou fundo tentando continuar – Não esperava que haveriam adversários assim envolvidos, eu...eu...só queria terminar logo com isso. Perdoe-me Ynara. - Julius aproximou-se de Ynara e pretendia abraçá-la, mas ela o impediu, Julius baixou a cabeça novamente.

- Isso não é desculpa, se os anjos do Altíssimo não nos tivessem avisado, vocês provavelmente estariam todos mortos. Ravn não tinha a mínima condição de lutar. O bruxo que o destruiu mal teve trabalho para tanto, não fosse a poder titânico dos arcanjos estar tão agressivo nem o Bruxo nem o Vampiro Ancião teriam partido e vocês teriam perecido. - Ela gritava histérica e raivosa, seu corpo tremia violentamente enquanto ela tentava não se transformar. - Não é do meu feitio entrar em batalhas perdidas antes mesmo de começar e não o teria feito se esse velho tolo não me tivesse obrigado.

Julius abriu e fechou a boca algumas vezes e por fim desistiu de argumentar.

- De fato, desculpe envolve-la nisso e obrigado pela ajuda, já pode ir embora se quiser.

- Ir embora? Por acaso quer o iluminado mandar em mim? Senhora dos Ursos. Por acaso sabe o Iluminado o que perdi aqui hoje? Não, ele não sabe, é um fedelho arrogante a serviço de um Deus que lhe da liberdade demais.

- Posso saber quem é essa? – Kid a olhava um tanto a contra gosto, não lhe agradava ser tratado como um peso numa batalha.

- Kid, essa é Ynara, líder da tribo da Ursa Maior, vive na China, em meio as florestas com muitos de sua raça. Trouxe alguém contigo?

Julius tentava sustentar uma conversa sem tocar no assunto que mais deveria, a morte de Shamira.

- Minha gente só irá se envolver nessa batalha se for realmente necessário, só estou aqui hoje porque fomos avisados de que vocês estavam com problemas, mesmo assim eu não viria se esse velho tolo não me tivesse obrigado a vir. – Respirava com dificuldade. – Fui atacada por um anjo negro e salva por um celeste, nem sei a extensão desta batalha, e o simples fato de lhe conhecer parece o bastante para ser marcado como alvo. Sua sina nunca lhe abandona moleque, tudo que está a sua volta morre. – Disse isso com tanta rispidez que chegou a cuspir. Kid se mexeu empertigado e Julius fixou os olhos no chão. – Você é um moleque petulante e convencido e por causa disso Shamira, minha irmã, está morta. – A fúria a dominou ela se transformou mais uma vez e com a força de muitos homens desferiu uma patada monstruosa no peito do Iluminado, completou um giro com o corpo de deu-lhe uma bofetada no rosto que o atirou para trás girando em torno de si e estatelando-se no chão – Kid transformou-se de imediato e preparava-se para atacar quando Julius levantou-se com a mão estendida para ele e outra fechando o sangramento provocado pelo primeiro golpe, indicando que se afasta-se. Os olhos de Ynara ardiam num verde vivo e ela arfava já em forma humana, tentando conter a raiva súbita.

Ficou assim por alguns segundos enquanto Julius se aproximava. Ele a abraçou e juntos choraram a morte de Shamira.

Kid voltou a forma humana, ainda nu e como sempre sem incomodar-se com isso. Gustavo levantou-se e conjurou um sobretudo para Kid e um manto para Ynara, enquanto ainda olhava para o corpo inerte de seu mentor.

Rafael olhou para os céus enquanto os arcanjos aproximavam-se. Os três pousaram, Israel posicionou-se de imediato ao lado de Gustavo, olhando-o com tristeza. Uriel aproximou-se de Julius que acabara de perceber a chegada dos arcanjos e virou-se para falar com eles. A ferida em sua perna ainda doía muito, não conseguiu curá-la por completo.

Gustavo voltou-se para Julius.

- Precisamos enterrar o velhote, não vou deixá-lo apodrecer aqui, sem um túmulo decente.

Uriel adiantou-se olhou o velho no chão e Gustavo.

Estendeu a mão esquerda para o corpo do homem que levitou alguns metros do chão, com a mão direita apontada para a terra passou a criar um tumulo feito de pedra branca. O chão afundou e deu lugar a uma cova, feita da mesma pedra, de aproximadamente três metros de largura, dois de profundidade e dois de comprimento, um estofamento acolchoado surgiu, vermelho vivo, o corpo do velho foi depositado cuidadosamente ali. A tampa do túmulo desceu e encerrou o mesmo, sob a tampa foi criado um monumento inclinado com inscrições na língua angelical.

Gustavo fitou o tumulo por alguns instantes e virou-se para Uriel.

- O que está escrito?

 

“ Ravn, Lider dos Peregrinos da Alvorada, aquele que escolheu um filho e por ele deu sua vida”.

 

Gustavo olhou novamente para o tumulo, ajoelhou-se, juntou as mãos e orou, chorando e sem emitir uma palavra sequer, apenas ele e Deus num momento de intimidade.

Todos aguardaram e quando ele levantou-se, Julius tomou a palavra.

- Uriel, o que houve? Onde está o portal?

- Não sei dizer, não é a primeira vez que meu irmão leva alguém assim ao inferno, na verdade cinco vezes ele o fez. Meu Pai não me deixa entrar nos terrenos infernais, não me deixa buscá-los. – Olhou para Israel e Mikael – Desejamos de todo o coração evitar que isso continue, mas nada podemos fazer.

Julius nada disse, apenas fitou-o com tristeza.

- Nós podemos. – Disse Gustavo – Podemos entrar na casa de seu irmão. Podemos descobrir o que está havendo.

Kid, Ynara e Julius o olharam sem entender.

- Não disse que será fácil, não disse que será benéfico, mas existem acessos, entradas, podemos invadir e sair de lá, por mais poderosos que eles sejam, não são oniscientes, podemos entrar, descobrir o que se passa e sair, sem sermos vistos, só precisamos de um pouco de barulho.

Ynara adiantou-se.

- Garoto, com todo respeito, mas você não deu conta de um único bruxo, tenho certeza de que não conhece os segredos dos portais bem o bastante pra entrar lá sem ser visto e ainda sair com vida. – Virou-se para Julius – Isso é loucura, o que está em jogo que possa valer o risco?

- O fim dos dias – Disse Mikael – não vejo outro ponto que interesse a meu irmão que não seja antecipar o fim dos dias, é a única forma que ele pensa ser possível vencer a batalha contra meu Pai, não que ele tenha chance, mas é assim que pensa. Digo, provavelmente.

- Mas o que ele pode fazer para antecipar isso? – Perguntou Ynara.

- Não sei, mas o que me pergunto é o que haveria na terra se ele tivesse poder o suficiente para trazer para cá seu reino? O que haveria com os humanos? Não estão prontos para isso, não estão. Seriam levados a sua casa e ali permaneceriam para todo o sempre, sem a graça do Pai para lhes proteger. – Fez uma pausa – Eu penso que seja esse o propósito, não sei como fará isso, mas vejo seu poder aumentando, tivemos que liberar mais poder hoje do que na batalha contra os anjos, e isso lutando contra os generais. Meu irmão está fazendo algo, não sei o que, mas está conferindo aos seus poder equivalente aos de um arcanjo.

Julius considerou as palavras ditas por algum tempo.

- Se ele conseguir reinar na terra, Deus intervirá?

- Você sabe que não, filho do Deus Vivo, o que Ele escreveu é o que irá acontecer, a serpente será derrotada em tempo devido e não creio que seja este o tempo, enquanto Sua batalha não tem início a Estrela da Manhã está livre para levar para si tantos quanto conseguir.

Enquanto deliberavam sobre essas coisas uma grande rachadura na terra se fez, todos procuraram abrigo sob o olhar decidido dos Arcanjos, um olhar frio e destrutivo.

De dentro da fenda veio Lúcifer. Magnífico, fabuloso e iluminado.

Tocou o solo próximo de seus irmãos, seu poder fluindo de forma devastadora, todos com exceção aos Arcanjos desmaiaram, incluindo Rafael.

- Meus amados irmãos, a quanto tempo não os vejo. – Disse em tom distraído – Quatro dos príncipes na terra. Deve ser um evento único, não? – Sorriu falsamente – O que fazem aqui?

- Onde está Ana? - Uriel colocou sua mão no cabo da lança.

- Calma meu querido, em breve irá vê-la, na verdade dentro de um ano, vim aqui apenas lhes dizer isso, e pedir que enviem um aviso a meu Pai – Fez uma pausa enquanto olhava os que haviam desfalecido. – Diga a Ele que está acima de todos que Seu tempo é curto, dentro de um ano marcharei contra os céus com todo o meu exército e com meus generais também. Tomaremos o trono que Ele me negou, diga-lhe que o filho pródigo a casa torna, mas para tomar o que lhe pertence, a glória e a majestade.

Caminhou em direção aos arcanjos com olhos tristes.

- Peço que não interfiram meus irmãos, amo cada um de vocês e não quero destruí-los. – Foi até Uriel e abraçou-lhe, depois a Israel e por fim a Mikael, todos retribuíram o abraço, o vinculo que tinham entre si lhes fazia sentir mal pelo que haveria de vir.

- Um ano, meus irmãos, um ano. – Disse isso e voltou para a fenda que se fechou como se nada tivesse acontecido.

Os arcanjos entreolharam-se um tanto preocupados e partiram em direção aos céus. Rafael despertou a tempo de vê-los já longe demais para qualquer contato, olhou em volta, tudo como estava antes de apagar. Colocou-se de pé e acordou os outros, precisavam de abrigo e descanso o quanto antes, decidiram então voltar para a cidade e de lá tomar um rumo. Rafael pediu para que todos ficassem juntos, designou alguns anjos da cidade para guardá-los e subiu aos céus, ao Palácio Celeste, precisava de informações.