12 - O Dia do Levante

 

Durante milênios os anjos viveram com Deus no Palácio Celeste, e por eras, como contam as escrituras do principio, estavam Deus e os anjos vagando pelo vazio, nesse tempo Lúcifer via que Deus começara uma grande obra, enchendo o Universo de tudo o que lhe agradava, tudo que lhe fazia bem e as suas criações eram magníficas!

Lúcifer sentia inveja da grandiosidade de Deus, pois tudo o que Ele fazia era perfeito e todos os anjos o adoravam, então a Estrela da Manhã decidiu que queria ter o mesmo que Deus tinha, queria que os anjos lhe dirigissem adoração por ser ele o primeiro dos anjos e o mais belo de todos eles.

Lúcifer já tinha um bom numero de anjos que lhe admirava, pois desde a batalha Celeste, travada entre anjos e arcanjos, ele estava sempre passeando pelo Éden e mostrando aos anjos sua glória e poder, assim como sua “bondade” e alegria em estar com os anjos que, em sua mente, eram inferiores. Deus era deveras ocupado, sempre criando coisas novas no universo, e dessa forma poucas vezes os anjos viam o Senhor, no geral somente os Arcanjos tinham autorização de entrar na Sala do Trono, e Lúcifer tratou de plantar na mente dos celestes uma erva daninha que cresceria rápida e silenciosamente, fazendo com que boa parte dos anjos deixasse de crer que Deus verdadeiramente os amava.

Deus sabia de todas essas coisas, porém para que se cumprisse um plano maior, Ele deixava que a Estrela da Manha fizesse como bem entendesse.

Dessa forma Lúcifer aproximou-se dos Generais, mostrou-lhes sua visão da história, mostrou-lhes como Deus lhes impedia de ter o que lhes era de direito e com o passar dos anos os generais passaram a ver com os olhos de Lúcifer, passaram a pensar os pensamentos da Estrela da Manhã. Por eras ele e os cinco generais, que eram os mais fortes entre os anjos, planejaram o levante, instigando suas tropas, transformando-os em soldados fiéis ao Arcanjo, fazendo com que preferissem tê-lo como senhor e rei.

O Arcanjo e seus generais conseguiram fazer com que a terça parte dos anjos lhe fossem fieis, tinham a seu favor os heróis dos anjos e tinham também seis das doze Armas Sagradas em suas mãos. Chegaram ao numero máximo que poderiam, e Lúcifer deu conta de que os outros Arcanjos passaram a segui-lo onde fosse, sabia que precisava agir rápido e deu inicio ao plano para tomar o Trono de Deus.

Lúcifer deixou sua morada indo em direção ao Palácio Celeste, casa do Deus vivo, sua expressão era firme e inflexível, não olhava para nada a sua volta, mas somente para o que estava a sua frente, seu foco, o Trono de Deus. Sua aura apresentava variações de cor, indicando instabilidade, alguns anjos que o viam passar olhavam curiosos, enquanto outros apenas sacavam suas armas e alçavam voo. A Estrela da Manhã, desviou o caminho tomando a direção do Éden, seguido de perto por pelo menos duzentos anjos e entre eles os cinco generais.

O Éden era o ápice da beleza da criação de Deus, era simplesmente perfeito, tudo naquele lugar estava carregado da glória de Deus, tudo que ali era visto transbordava vida, cada pedra, cada montanha que ali estava, fora feito para representar um pedaço ínfimo do universo criado por Deus. As plantas que ali estavam eram perfeitas, toda sorte de cores e aromas, haviam tantas formas quando se é possível imaginar, cada uma mais exuberante e cheia de vida que a outra. Aquele era o pedaço do Universo que mais agradava a Deus, era parte de sua criação como todo o resto, mas era ali que Deus passava boa parte de seu tempo, contemplando um universo de vida e diversidade.

Haviam geleiras incríveis na parte sul, vulcões com explosões e erupções constantes ao norte, a leste ficavam as montanhas de areia e a oeste se concentravam as colinas uivantes, um lugar onde os ventos sopravam com força incrível sobre planícies e colinas repletas de vida e poder divino. Isso montava a base de todo o poder da natureza, Terra, Fogo, Vento e Água.

No centro do Éden ficava o ponto mais tranqüilo, local onde mais tarde Deus deixaria que o homem vivesse seus dias de glória. Assim como as quatro extremidades, essa região também era muito bonita, com plantas que pintavam todo o ambiente com vida, um rio central que vinha das geleiras com água cristalina. O mais impressionante no Éden é que o universo parecia caber dentro dele, como se fosse uma extensão da onipresença de Deus, os anjos voavam longe e quanto mais iam mais viam, pois nunca chegava o fim.

O grupo de anjos que se juntou em voo a Lúcifer o seguia de perto, desceram próximos aos vulcões, entre dois deles, os anjos não tinham porque temê-los, o poder divino que se concentrava neles era grande o bastante para fazer como que a lava não passasse de água morna. Alguns anjos tomaram postos de vigilância, dando as costas ao grupo que se reuniu na base da encosta dos vulcões. Lúcifer parou de frente aos cinco generais e os outros anjos ficaram mais atrás destes.

- Meus irmãos, sejam bem vindos. Hoje venho me juntar a vocês, hoje farei a proposta ao Pai Celeste, sinto que ele está para criar algo, sinto que está para mudar nossa história e antes que isso ocorra quero que ele nos dê o que nos é de direito, quero que ele nos permita ser contemplados por aqueles que nos admiram, quero que Ele nos dê lugar de honra no Palácio Celeste. – Lúcifer falava calmamente, olhava para todos, mas principalmente para os Generais. - Tenho certeza de que nosso Pai será razoável, o que me preocupa são os arcanjos e seus subordinados, tenho certeza de que farão reboliço, tenho certeza de que buscarão apagar nossa existência. Miguel e Gabriel, meus irmãos primeiros, tem uma natureza destrutiva e violenta, não sabem lidar com mudanças, ao contrário de nós que entendemos que mudar é o caminho normal de todo processo evolutivo, de toda melhoria e aprimoramento.– Fez uma pausa sob olhares de concordância.

- Faremos hoje nosso movimento, e empunhando nossas Armas Sagradas teremos condições de enfrentar a Fúria dos Arcanjos, estou certo de que Deus não irá interferir e quando derrotarmos os arcanjos estaremos prontos para governar com o Celeste sobre toda a criação do agora e do porvir. – Disse esta ultima parte de seu discurso um tanto inflamado, os Vulcões rugiram alto e derramaram uma chuva de pedras, cinza e fogo, os anjos em volta assustaram-se um pouco, mas os seis, Lúcifer e os Generais mantiveram-se inflexíveis e imutáveis, erguendo os olhos apenas para contemplar a força que tinham sobre a natureza, sentiam-se donos daquilo que Deus criou. A estrela da manhã voltou a falar.

- Faremos com que saibam que nós somos titânicos, que somos merecedores de glória e devoção, faremos com que saibam que não somente Deus tem poder para controlar o universo e que este Universo nos pertence também. – Alguns anjos urraram excitados – Faremos com que Miguel e seus aliados saibam que somos tão fortes quanto eles são. Meus generais, quero que fiquem de prontidão, terei minha conversa com Deus, entrarei no Palácio Celeste e farei com que Ele que está acima, saiba que sou um igual, sou o primeiro Arcanjo, tenho todo o direito de reivindicar meu lugar no trono, creio que Miguel terá um momento de fúria que será seguido por seus anjos, nessa hora, levem nossas tropas em peso para o Palácio Celeste e acabaremos com os principais guerreiros bem antes do contingente celeste nos alcance.

Terminou de dizer isso e alçou voo, seus generais fizeram o mesmo assim como os outros anjos.

Lúcifer desembainhou sua arma, Caminho da Luz, e seguiu em direção ao Palácio Celeste, seus Generais se deslocaram em direção a cidade dos anjos e deram o sinal aos seus anjos de que o momento chegara, estava na hora de tomar o trono de Deus.

Lúcifer aterrissou a pouco mais de cinqüenta metros da grande escadaria de mármore, que dava acesso as portas do palácio, tentou saber se havia alguém junto do trono divino além do Deus soberano, porém nada conseguiu antecipar, apertou o cabo de sua espada sagrada, chamas azuis surgiram nela e ele iniciou a caminhada até a sala do trono. Quando começou a subir os degraus um anjo apareceu no topo do Palácio, Lúcifer forçou um pouco os olhos e reconheceu, era Ya-hel, o Arcanjo da Sabedoria Divina. Ficaram alguns instantes calados, apenas olhando, olhos nos olhos. Lúcifer recomeçou a subir as escadas e então Ya-hel falou.

- Meu irmão, por favor, não prossiga com isso, peço-te que desista deste intento.

Lúcifer parou novamente, olhou para o arcanjo e sorriu.

- Ora, meu pequeno irmão, tenho que cumprir o meu papel, se estou aqui é porque já esta escrito que assim será, quero descobrir o que está escrito, então devo continuar. – Disse isso com tom de desafio e sarcasmo.

- Estrela da manhã, eu rogo a ti que desista agora, antes que seja tarde, antes que seja revelada a sua história, tenho certeza de que Deus a pode mudar, reconheça o seu lugar criatura – As palavras de Ya-hel eram uma verdadeira suplica, de um irmão que conhece a verdade.

Lúcifer apontou a espada a Ya-hel, seus olhos cheios de ódio brilharam de uma forma que nem mesmo ele havia visto, um brilho de fogo se fez e Lúcifer voltou a falar.

- Se quer que algo seja feito, faça você mesmo, venha pequeno irmão, muda meu intento.

A natureza angelical é destrutiva, um anjo jamais permitiria que um desafio passasse em branco. Ya-hel tomou sua lança, Destino dos Ímpios, em suas mãos, a lâmina em sua ponta começou a queimar, ele a girou no ar formando um arco de fogo e o atirou contra seu irmão, um sorriso surgiu no rosto de Lúcifer, ele esperou o circulo de fogo se aproximar e o repeliu sem dificuldade, atirando-o ao lado, o que resultou em uma grande explosão que consumiu parte da escadaria de mármore.

Lúcifer retomou a caminhada em direção a entrada do palácio enquanto Ya-hel saltava do topo do mesmo em direção ao chão, quando estava na metade do salto sentiu algo se aproximando e desviou do ataque abrindo as asas e diminuindo a velocidade de descida. Olhou em volta e viu Brugos se aproximando em voo acelerado, seguido por Makaliun e Death, os três levavam consigo suas armas, quando estavam próximos da entrada do palácio aterrissaram e Brugos se adiantou.

- Não tocará na estrela da manhã, ele tem assuntos com o Pai, irá entrar lá sozinho. – Brugos era um verdadeiro General, tinha aproximadamente quatro metros de altura, braços fortes que pareciam ser feitos de marfim, maciço e brilhante. Suas asas enormes estavam abertas aumentando em muito suas dimensões originais, tinha cabelos longos e negros que iam até a cintura, o que não era pouco considerando sua altura, usava pulseiras feitas de ouro envelhecido e uma corrente grossa feita do mesmo material, o peito era protegido por uma malha feita de couro, presente de Uriel o Senhor da Matéria. Seus olhos eram negros e profundos e seu rosto largo e quadrado, sua expressão era firme, como se nada no mundo pudesse fazê-lo recuar – Quando ele voltar pode continuar com isso, se insistir em segui-lo terei de pará-lo.

- Calma meu General, meu irmão me deixará passar, tenho certeza disso – Lúcifer estava confiante – Ya-hel, peço que não se envolva, não quero destruí-lo, quero apenas falar com meu Pai.

Ya-hel voltou a descer indo diretamente contra Lúcifer, Brugos segurou o machado com força e sua lâmina se tornou flamejante, chamas azuis tomaram todo o machado, Makaliun e Death fizeram o mesmo e os três partiram para interceptar o golpe de Ya-hel, a força do ataque do arcanjo fez com que Brugos fosse arremessado para parte de baixo da escadaria, Ya-hel girou a lança e acertou Makaliun na cabeça com o cabo, então Death acertou um golpe com a Foice da Destruição no peito de Ya-hel jogando-o contra uma das colunas que ruiu e caiu sobre o arcanjo ferido. Lúcifer entrou no Palácio.

O Arcanjo cruzou o grande salão principal com passos firmes, subiu as escadas e virou à direita, continuou subindo e chegou ao piso superior onde estava o Deus todo Poderoso. Caminhou lentamente até estar no centro do grande átrio que levava ao trono de Deus, ergueu os olhos e lá estava Ele, o Senhor dos Exércitos, olhou em volta para ter certeza de que estavam á sós, guardou a espada de volta na bainha e continuou caminhando, parou quando estava a pouco mais de três metros do Deus Vivo. A Aura que envolvia o trono de Deus era incrível, algo fora do comum mesmo para padrões angelicais, o poder que se desprendia de Yaweh era tão grande quanto o universo que Ele criou, A Estrela da Manhã fitou aquele ser enigmático e poderoso por alguns instantes e finalmente falou.

- Pai Eterno, bem sei que não é surpresa o que venho lhe dizer, então vamos acabar logo com isso, o que o Eterno tem a me dizer?

Lúcifer, pela primeira vez em sua existência falava com pouca segurança, como se algo lhe sufocasse.

- Meu filho amado, és de longe o mais belo entre os belos e o mais magnífico entre todos em minha criação, sua palavra sempre conduz aqueles que estão a sua volta, isso não lhe basta? – O Todo Poderoso falava com voz de trovão, o que causou sobressalto no Arcanjo, Suas palavras eram duras – Não lhe permiti viver, não lhe dei o poder que tens, atendi aos seus pedidos e tudo o que lhe pedi em troca foi devoção, não podes conviver com isso?

- Sou-lhe grato por tudo o que tens feito por mim, vivemos juntos, eu e Tu, por um milênio inteiro até que outro de nós estivesse aqui, conheço-te muito bem. Amo-te de todo o meu coração, mas quero para mim o que tens para Ti. – Fez uma pausa com os olhos estreitos na direção do Pai. - Sou digno de adoração e admiração, os anjos gostariam de ter-me como senhor, gostariam de ter uma escolha, algo que nunca nos foi permitido ter. – Fez uma pequena pausa de efeito - Tenho muitos que compartilham de meus ideais, não queremos destituí-lo, como disse, somos gratos por tudo que tem feito por nós, mas queremos nosso próprio povo, nossa própria terra, queremos um senhor altivo e companheiro, e eu sou esse senhor. – As palavras de Lúcifer saíram ríspidas e inflamadas, sua aura se elevou e ele sacou O Caminho da Luz.

- Acha mesmo que pode impor algo a mim, minha criança? Acha mesmo que a força desta arma deseja partir contra mim? A vida que ai está depende de mim e me é grata por isso, se eu desejar que se retire de sua espada ela irá se retirar de bom grado. Não me arrependo de nada que tenho criado, não me arrependo de nada que tenha feito em minha existência, sabia que esse dia chegaria e mesmo assim lhe ensinei tudo o que pude, não por acreditar que isso iria mudar algo e sim por ter a necessidade de viver tudo o que está escrito no “Livro”, tudo o que meu ser viu há de se cumprir, farei para mim um novo povo, semelhante a mim e eles povoarão um lugar que eu irei criar, e eles me serão fieis e eles falharão, assim como meus anjos falharão hoje e mesmo assim terei alegrias e verei minha criação realizando coisas além de suas capacidades por amor de Mim – Fez uma pausa enquanto seus pensamentos iam ao futuro vendo tudo o que haveria de sem cumprir.

- Meus anjos estão aguardando o meu sinal, destruiremos esse palácio caso não tenhamos o que desejamos – Lúcifer tremia dos pés a cabeça, seus olhos grudados na forma divina a sua frente. Neste momento ouviu-se um forte som de trombeta que estremeceu todo o Palácio Celeste, ouviu-se um som de algo supersônico cortando o ar e as janelas do Palácio se quebraram, antes dos estilhaços tocarem o solo Miguel atingiu o corpo de Lúcifer com o próprio corpo jogando-o contra a parede a cerca de dez metros de distancia do Trono de Deus, do lado de fora uma legião de anjos cercava o palácio, era o exército de Lúcifer e uma outra legião vinha pelos céus em alta velocidade, o exercito Divino, ouviu-se uma nova trombeta, essa ainda mais forte que a primeira e Gabriel pousou entre a entrada do palácio e os anjos de Lúcifer. Era um ser fabuloso, de um poder incrível, sua aura era visível, sufocante e destrutiva, os generais o rodearam e deram ordens aos seus anjos para que se preocupassem com os exércitos celestes.

Gabriel era um ser a parte de toda a existência celeste, seu papel era sem sombra de dúvidas comandar as batalhas divinas, mesmo Miguel, não era páreo em batalha para Gabriel, um titã com mais de cinco metros de altura, cabelos louros encaracolados, expressão fria e ameaçadora, a musculatura do corpo era completamente absurda, forte como nenhum outro poderia ser, sua pele brilhava por causa da luz, lembrava um grande diamante, como se ele todo fosse feito dessa matéria, suas asas estavam abertas e em chamas, na verdade labaredas desprendiam-se delas como se ele fosse o senhor do fogo, a Vingadora estava em suas mãos, o fogo que saia dela era tão intenso que silvava como uma espécie de jato de fogo constante, a pressão espiritual do Arcanjo era tão grande que alguns anjos a sua volta tiveram suas asas queimadas e afastaram-se agonizando. Ele olhou para os generais com fúria incontrolável nos olhos, recolheu o máximo que pode sua força espiritual e quando os anjos a sua volta podiam ficar ali sem se machucar guardou a espada.

- Não é muito esperto de sua parte arcanjo – Disse Death – já derrubamos um de vocês, e nem estávamos todos aqui, sua morte é certa se lutar conosco apenas com suas mãos – Brugos e Makaliun sorriram maliciosamente, enquanto Hermut e Akila se aproximavam sorrateiros fechando um circulo em torno do Gabriel. Death era o general menos corpulento de todos, com pouco menos de três metros de altura, seu corpo era bem feito, mas não musculoso, sua pele tinha a cor do latão, com exceção as asas que, como todo angelical, tinha asas branquíssimas. Usava um cinturão negro feito de couro, a Foice da Destruição ficava atada as suas costas, entre as asas, mas nesse momento estava em suas mãos, o cabo tinha um formato estranho, meio curvado e a lamina cortava para dentro, chamas negras desprendiam-se da arma sagrada.

- Irmão, não pense que o fato de não cair no dia da primeira batalha lhe faz igual aos Arcanjos, nem pense sequer que o fato de ter uma arma capaz de matar um arcanjo faz de você um adversário a altura, tenho certeza de que Ya-hel está bem, foi ele quem tocou a trombeta, nem está debaixo dos escombros nem nada do tipo, ele conhece o resultado da batalha, foi esse o propósito do Pai quando o criou, ver o que está no porvir, ele sabe que não precisa lutar hoje, ou vocês estariam feridos agora, não digo que não possam conosco, só digo que não será hoje o dia em que isso será feito. – Gabriel falou com calma, sem deboches, apenas como alguém que da uma explicação – Irmãos, peço-vos que antes que seja tarde demais para arrependimentos, desistam de seus intentos, Deus é bondoso e misericordioso, tenho certeza de que se isso parar antes que Ele dê seu julgamento final vocês poderão viver conosco nos céus, do contrário o abismo espera vocês, fogo e enxofre consumirá sua existência divina dia após dia pela eternidade.

No interior do palácio Lúcifer levantava-se e saia do meio dos escombros, olhava com ódio e furor para Miguel.

- Como ousa tocar-me, és meu irmão mais querido, dei-lhe a espada que empunha, dei-lhe a chance de estar com Deus, poderia ter findado sua existência assim que Deus o trouxe para junto dEle. – Estava recomposto, mas ainda olhava com olhos em fogo para Miguel – Quero meu lugar no trono, sou o primeiro de nós, tenho direito!

Miguel olhava incrédulo para seu irmão, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, nunca havia chorado antes, não sabia nem que podia fazer isso.

- Irmão! O que está dizendo? Quer se comparar ao Altíssimo?

Miguel estava exasperado com as palavras de Lúcifer.

- Nada no Universo pode se comparar ao altíssimo.

Deu um passo em direção a Lúcifer com lágrimas escorrendo por seu rosto, sempre forte e decidido, agora estava em farrapos, completamente abatido.

- Nada no Universo pode explicar o Seu poder! Desista disso irmão, por favor, tome o lugar que lhe pertence como príncipe dos anjos, como Arcanjo Primogênito, amo você irmão, não quero destruí-lo.

Miguel soluçava enquanto falava, suas palavras causavam dor, sufocava lhe as convicções.

Sabia o que estava por vir, sabia que seu irmão seria banido e tornar-se-ia seu inimigo natural, sabia que no fim dos tempos terrenos, o tempo da nova criação de deus, teria de subjugá-lo e torturá-lo até que se cumprisse aquilo que está escrito no Livro.

Lúcifer se inflamou mais uma vez, sua aura se expandiu e ele foi contra Miguel enquanto falava.

- Saia da frente Miguel, não lembro de Deus ter pedido por seu auxílio, ainda estamos em conferência.

Neste momento Deus deixou seu trono, e três entidades distintas puderam ser vistas, Pai, Filho e Espírito Santo a trindade, Deus em sua forma completa.

- Saiam de minha casa. – Terminou de dizer isso e os dois estavam ao lado de Gabriel enquanto o Deus todo poderoso estava no telhado do palácio.

– Muito me entristece a chegada deste dia – Sua voz soava como uma tempestade – Meu primeiro Arcanjo, a estrela da Manha, me traiu por migalhas e com ele um terço de meus anjos. Deus se deteve por um momento enquanto olhava para os Arcanjos, Gabriel, Miguel e Lúcifer juntos, como no início dos tempos.

- Querem ter o que nunca lhes será por direito, querem ter a chance de ser o que Deus é, Senhor do Universo, Onipotente, Onipresente e Onisciente, mas digo-vos pois que, ninguém além de mim pode sustentar o universo, quando digo sustentar não pensem menos do que realmente é, eu o controlo, ele vive em mim. Ninguém além de mim pode ter este posto e tudo o que pedi a vocês foi que vivessem, que soubessem que eu sou seu Deus, que contemplassem a minha criação comigo e me fossem gratos por lhes permitir isso, deveria ser o bastante para toda criatura, poder estar ao lado de seu criador.

- Mas vejam a escória que são agora, traidores do Criador, rebelando-se por algo que jamais lhes será possível ter, são vocês meras formigas ante o Universo que fiz, e nem mesmo todo o poder de vocês reunidos será páreo para o poder que habita em mim.

Desapareceu do teto e reapareceu entre os príncipes. Lúcifer não ousou mexer um dedo, Gabriel caiu de joelhos com o rosto afundado nas mãos e Miguel ainda chorava muito.

- Hoje não haverá batalha, hoje não haverá contenda, permitirei que vivam, não mais no reino dos céus, mas ainda sim viverão. Eis que farei para mim um novo povo feito a minha imagem e semelhança e darei a eles algo que não dei a vocês, eles poderão escolher o caminho que querem seguir. Vocês ajudarão esse povo a crescer e mostrarão a eles que Eu sou o Senhor dos Exércitos, aquele que era, que é e que será para todo o sempre.

Fez uma pausa e desapareceu novamente, reaparecendo acima nos céus, desceu como um cometa rasgando o nada e abrindo uma fenda negra nos céus, parecia um buraco negro, de dentro dele vinha um cheiro horrível. A fenda se abriu indo ao horizonte e se perdeu de vista o seu fim.

- Os traidores serão jogados no abismo e lá permanecerão, cativos de si mesmos, estão para sempre marcados pelo pecado que cometeram, por tentar ser Deus.

Nesse momento Deus Filho se adiantou.

- Em mim o povo que está por vir terá salvação, eles terão a chance de se redimir de seus erros e de suas falhas, mas a vós, que são maus em seus caminhos, será dado fogo e enxofre, e sofrerão e serão malditos até a ultima partícula de suas vidas, e lhes será por prova de que meu povo é bom o fato de que lhes darei algo que somente o Pai tem, serão minha obra prima, minha maior criação e serão a prova de que a criatura ama ao criador como um filho deve amar seu pai.

Jesus, como ficaria conhecido entre os homens que estavam por vir, terminou de dizer isso e voltou-se para Lúcifer.

- Sempre será bem vindo em minha casa, meu filho, mas saiba que não haverá misericórdia para ti e teus iguais, todos perecerão ao prazo que eu já decidi.

Lúcifer fez menção de atacá-lo, mas Gabriel foi mais rápido, moveu-se como se houvesse tele transportado, segurou o braço de Lúcifer e lhe aplicou uma cabeçada que o jogou longe de Deus.

Jesus segurou a mão de Gabriel.

- Calma meu filho, não é chegado ainda o tempo deste traidor.

A fúria de Gabriel se aplacou por completo e ele se ajoelhou mais uma vez, rosto em terra diante de seu criador.

Jesus virou-se para Lúcifer que tinha o rosto desfigurado pela cabeçada de Gabriel. Caminhou até ele e o ajudou a ficar de pé, passou sua mão pelo rosto de Lúcifer o que reconstruiu sua face de imediato.

Lúcifer chorou, pela primeira vez em sua existência.

- Perdoa-me Pai, sei que não devia fazer isso, mas está em mim.

- Não se preocupe com isso meu filho, não agora.

Jesus estendeu as mãos aos céus e um evento agonizante se passou, todos os anjos que seguiam Lúcifer sentiram um tremor em seus corpos ao passo que a bondade de Deus lhes abandonava, sentiram um gancho em suas costas e foram puxados para dentro do abismo. A terça parte dos anjos foi levada neste dia, e os que ficaram choraram, pois seus irmãos foram banidos.

E esse ficou conhecido no livro das Crônicas dos Anjos como “O Dia do Levante”, e está escrito que este dia a de ressurgir para que os inimigos do Pai sejam punidos e destruídos para todo o sempre.