10 - Vampiros e Vampiros
Assim que a noite caiu, Faustu despertou.
Levantou-se, estava em uma sala completamente escura, invocou visão e tudo se fez claro como o dia. Seu quarto estava bem arrumado como sempre, era um cara do tipo sistemático, sua cama ficava na parede a esquerda da única porta do recinto. De frente para a cama ficava um guarda-roupa e do lado direito uma escrivaninha com alguns livros.
Estava nu. Foi até o guarda-roupa pegou uma cueca, calça jeans, camisa polo preta e um par de meias, deu um leve chute na parte de baixo do guarda-roupa e uma gaveta deslizou para fora. Voltou a cama e vestiu-se, voltou ao guarda-roupas, a gaveta que havia deslizado com o chute revelou um pequeno arsenal que continha uma espada do tipo “Katana”, algumas “Shuriken”, pistolas e municiadores. Estendeu o braço por cima do guarda-roupa e pegou um tipo de coldre feito sob medida, prendeu ao corpo fixando-o com fivelas na altura do peito e na cintura. Pegou a espada e colocou no coldre na parte que ficava as suas costas, colocou as pistolas, uma de cada lado na parte frontal assim como as Shuriken, pegou um sobre tudo e o vestiu, voltou até a cama e levantou o colchão da cama “Box” revelando uma verdadeira sapateira, tomou um par de coturnos e calçou.
Abriu a porta que revelava uma escada ascendente que terminava em uma porta tão isolada que não havia um fio de luz que passasse. Subiu as escadas e abriu a porta ao que um garoto pequeno e branco colocou-se a sua frente.
- Mestre. Vai sair esta noite?
- Sim criança. Preciso ir a São Paulo ver um conhecido, tenho tarefas a desempenhar. – Disse de forma ríspida, com as costas da mão esquerda deu-lhe um safanão, com a direita segurou seu pulso travando o corpo do garoto e cravou-lhe os dentes. O menino contorceu-se de dor, seus olhos margearam, mas ele não emitiu um único ruído, respirou fundo algumas vezes e por fim teve o pulso liberado por Faustu.
- Continue assim e logo será um de nós, minha cria, meu filho. Por hora quero que guarde minha morada, não se atreva a deixar as coisas fora do lugar ou algo muito pior que a morte lhe cairá.
O garoto aquiesceu, era um servo de vampiro, ludibriado com a ideia de um dia se tornar uma cria da noite, um nosferatu.
Faustu atravessou a sala em que se encontrava sem olhar para as outras “pessoas” que estavam no recinto, saiu pela porta que dava em um beco sujo e escuro, pessoas passavam pela única saída, transitando pelas ruas da cidadezinha de Piracicaba, Av. Centenário. De frente para a porta por onde acabara de sair, havia algo sob uma lona marrom, de aspecto pesado e velho. Faustu a retirou revelando uma motocicleta Honda 900cc, montou, deu partida e tomou rumo a rodovia “enrolando” o cabo do acelerador, queria voltar a sua toca ainda esta noite, então tinha que voar até São Paulo, naquela velocidade levaria no máximo uma hora.
Uma das coisas que Faustu mais gostava de fazer era correr, fosse de moto, fosse a pé e foi assim que cruzou a distancia entre Piracicaba e São Paulo em pouco mais de uma hora, transitou em velocidade média de 200 km/h, não fossem os pedágios teria feito em menos tempo ainda.
Chegando a São Paulo dirigiu-se ao centro da cidade, não era bem um amigo que iria ver e sim um informante, estava preparado para conseguir a informação a qualquer custo. Vagou por alguns instantes até chegar a Galeria do Rock, deu uma bola olhada em volta e viu que as lojas superiores já estavam fechadas, deu a volta indo em direção a um bar das redondezas, levou menos de três minutos para chegar ao local. Parou a motocicleta por lá, passava pouco das vinte horas e o bar ainda estava lotado de humanos bêbados que saiam do trabalho e paravam por ali. A fachada do estabelecimento não era das mais convidativas, um letreiro com os dizeres, “Bem Vindo a Toca” piscava precariamente em luzes fluorescentes entre vermelho e azul empregando um tom de roxo entre as piscadelas.
Desceu da moto e olhou em volta, nada de familiar ou ameaçador, apenas o mesmo gado de sempre aos seus olhos. Travou o guidão da motocicleta, não queria voltar a pé pra casa, e entrou no bar acenando para o atendente que retribuiu o aceno com a cabeça e levantou a portinhola do balcão para que ele passasse.
Faustu dirigiu-se aos fundos do balcão e empurrou uma cortina pesada para o lado chegando a cozinha, passou por ali sem que qualquer dos funcionários lhe dirigisse a palavra e chegou a uma porta que parecia dar em uma armário de vassouras, abriu a porta que revelou um alçapão e desceu por uma escada. Havia ali um ambiente completamente diferente do descaso que se via no piso superior, era escuro, iluminação quase zero, as poucas luzes do recinto eram vermelhas, mulheres de corpos nu deitadas sobre as mesas eram acariciadas e mordidas por vampiros, e o mesmo ocorria com vampiras que mordiam homens jovens de aparência atraente, mesas aos cantos revelavam vampiros e outros seres em conversas particulares. Uma fumaça espessa e mal cheirosa cobria todo o lugar, drogas e afins ganhando vida a cada subir e descer do tórax.
Faustu deu uma boa olhada no local a procura de um vampiro em específico e o identificou sentado com uma garota e já olhando para ele. Era um vampiro oriental, a garota ao seu lado, era absolutamente linda, acabara de perceber que seu companheiro não estava lhe dando atenção e virou-se para ver o que estava havendo, os olhos de Faustu emitiram um brilho rubro e mantiveram-se assim, acenou, mas não foi retribuído, enquanto ia em direção ao casal.
O Oriental continuou imóvel, a garota se empertigou exibindo as presas e acendendo os olhos também, outros vampiros a volta da mesa se afastaram com olhar curioso.
- Temos que conversar - Faustu não deu a mínima para a garota dirigindo-se diretamente ao Oriental.
- Não tenho nada a falar contigo vampiro, saia enquanto ainda pode
- Não quero matá-lo criança, mas se continuar a me tratar assim, será esse o seu destino.
Os vampiros começaram a acender os olhos, ainda distantes de Faustu e do Oriental.
- Vamos sair daqui e veremos se tem capacidade para cumprir suas palavras.
Nesse momento sombras cobriram o local, tentáculos surgiram e foram em direção ao Oriental, a garota jogou-se ao lado a tempo de evitá-las. O Oriental foi pego ainda sem demonstrar surpresa alguma, seus olhos emitiram um brilho amarelado e assim ficaram. Transformou-se em névoa e foi em direção a Faustu que desapareceu do local fundindo-se ao chão, reapareceu onde a garota estava e cravou seus dedos na garganta dela de maneira que um dos dedos realmente perfurou a garganta, olhou na direção da névoa a tempo de vê-la transformar-se novamente no Oriental.
- Sempre previsível meu caro, sempre previsível. – Faustu exibia um sorriso confiante - Vamos sair, lá fora é melhor pra conversarmos.
A garota estava completamente imóvel, desmaiara por causa da força que o vampiro aplicava em sua garganta, Eidi se colocou a andar em direção ao alçapão enquanto os outros vampiros voltavam a seus lugares como se ainda tivesse acontecido.
Passaram pela cozinha e depois pelo bar, agora sob o olhar curioso das pessoas, pois Faustu não fazia a menor questão de fingir que carregava Suelen.
Chegaram do lado de fora, Faustu subiu na moto e colocou a garota no colo, deu partida e foi embora, Eidi dirigiu-se a um Ômega CD preto, entrou no carro, deu partida e seguiu o vampiro. Tentou se comunicar com Suelen, mas não conseguiu, tentou sentir Julius, seus poderes de Sentir Presença não eram tão aguçados e falhou em saber onde o amigo estava, tentou ligar no celular, mas caiu na caixa de mensagens, devia estar desligado, teria que lidar com Faustu sozinho e isso seria bem perigoso.
Seguiram pelo centro até encontrar um prédio abandonado, Faustu parou a moto, colocou Suelen no ombro e foi em direção ao portão, olhou em volta, havia um bar no final da rua, mas não estavam de olho nele. Saltou os portões do edifício, foi até a porta e empurrou até que o estalo se ouvisse indicando que a fechadura fora derrotada, abriu a porta e entrou. Era o saguão de entrada, foi até um balcão empoeirado e colocou a garota, virou-se a tempo de ver Eidi entrando, fitando-o com olhos acesos, fez o mesmo.
- A noite passada fui visitado por um "amigo", por assim dizer, Avalon, deve conhecer o nome, ele quer que eu mate um certo iluminado, ainda não me disse o nome, nem o porque e na verdade pra mim tanto faz, mas você conhece quase todos os tipinhos da região, algum deles lhe falou algo?
Eidi respirou fundo, temia que fosse este o assunto.
- Porque deveriam, sou tão vampiro quanto você.
- Ora, ora, mas é um verdadeiro fanfarrão. Não brinque comigo, amigo, você mata tantos de nossa espécie quanto julga necessário, não pense que é tão bom a ponto de enganar a cúpula dos anciões, sabemos que é você quem da conta da maioria de nós nessa metrópole. O que não me deixa tão nervoso assim, a maioria dos que você mata não passa de insetos que fazem bagunça e mostram nossa cara sem necessidade, na verdade estamos em débito contigo - Disse Faustu com sarcasmo.
- Se são tão espertos assim descubram por si o que está havendo, agora me entregue minha cria.
O brilho nos olhos de Faustu se intensificou um pouco ante a provocação do Oriental, ele inspirou e baixou a cabeça, ficou assim alguns instantes e balançou a cabeça em negativa.
- Negativo, ou você tem a informação ou você vai conseguir a informação, de qualquer modo ficarei com a garota até que me diga algo.
Eidi invocou velocidade e foi em direção a Faustu quando estava a centímetros do alvo o perdeu de vista, sentiu que ele vinha pela esquerda e virou-se sacando uma pistola da cintura, atirou e viu o vulto do oponente desviando da bala de salto em salto afastando-se da arma de fogo. Eidi correu atrás dele e quando parecia que a distancia ia diminuir viu-a simplesmente desaparecer, Faustu parou e direcionou um soco em seu estomago, o oriental estava muito próximo e não tinha certeza de que poderia desviar, no entanto jogou-se ao chão deslizando, bateu as mãos no piso e deu um mortal acertando um dos pés no rosto do inimigo, Faustu absorveu o golpe, Eidi estava na metade do giro quando Faustu armou um soco, mas Eidi atirou contra o corpo do oponente que foi jogado ao chão, quando Eidi terminou o giro e tocou o solo foi atingido por um soco violento no rosto que o fez voar até a parede oposta. Girou no ar e colocou os pés na parede para absorver o impacto, parecia o homem aranha preso a parede, invocou o poder do sangue que lhe permitia controlar a força da gravidade, Faustu corria em sua direção, Eidi correu pela parede atirando contra o ancião, que desviava com facilidade.
Faustu abriu o sobre tudo, sacou as Shuriken e atirou contra Eidi, este saltou em direção ao teto, ficando de ponta cabeça, nova Shuriken veio em sua direção, não dava tempo de desviar, transformou-se em fumaça e foi na direção de Faustu, esse por sua vez invocou um poder do sangue antigo e poderoso que lhe permitia criar réplicas de si mesmo, imagens distorcidas, fez cinco delas sendo ele mesmo o sexto, Eidi não conseguiu definir quem atacar e o tempo de uso de seu dom se foi, era impossível manter o corpo imaterial por muito tempo e ele acabou por solidificar-se novamente e assim que o fez foi atingido por uma Shuriken e em seguida por um soco violento no estômago que o fez arfar e cair de joelhos, Faustu segurou o inimigo pela garganta.
- Você é bom, fazia tempo que não tinha que usar tantos dons contra um inimigo solitário, mas isso muito me alegra, depois de se esforçar tanto não tem como me falar que não sabe de nada. – Deu um sorriso vitorioso e arrogante. – Então, a menos que queira definhar aqui, sugiro que fale.
- O que garante que me deixará partir?
- Não se atreva a questionar minha honra, sou um vampiro antigo, se te matar fosse meu desejo já o teria feito - Disse isso com rispidez seus olhos, mais uma vez, intensificando o brilho, sua face distorceu-se em fúria incontrolável. Desferiu novo golpe contra o abdômen do Oriental, este arfou por um momento, respirou fundo e falou.
- Um Iluminado veio falar comigo, queria armas contra vampiros, disse algo sobre um ser celeste ter lhe informado sobre uma batalha, sobre alguém que haveria de lhe matar, tentei invadir sua mente, mas falhei.
- Entendo, e você, como bom vendedor que é, o armou contra mim.
- O atendi como a todos, como você mesmo diz, sou um bom vendedor.
- Esta certo, isso muda um pouco as coisas, o que você sabe sobre esse Iluminado?
- Pode me soltar?
- Desculpe, onde estão meus modos. - Disse isso e com a mão disponível retirou a Shuriken da perna de Eidi, apertou um pouco mais sua garganta e atirou-o contra o teto, esse colidiu contra o mesmo causando rachaduras e caiu no chão agachado, levantou-se e fixou os olhos na parceira que acabara de despertar e estava com medo nos olhos.
- É antigo, séculos pelo que me consta, forte, tão forte como um de vocês anciões.
- Nome, quero o nome e a localização.
- Não tenho essas informações
Faustu sacou uma pistola e atirou na coxa de Suelen que gritou como nunca, era uma bala de prata, fez um estrago terrível na garota.
- Julius, seu nome é Julius, a localização eu fico devendo, mas farei o possível para conseguir - Disse o Oriental ainda olhando para sua pupila.
- Perfeito, isso me deixa mais tranqüilo, pensei que seria incomodado por alguém que não vale a pena. Assim que conseguir a localização me avise. – Disse num tom alegre enquanto guardava a pistola e colocava a Shuriken suja de sangue de volta no coldre. - Obrigado Mercador, é sempre bom falar contigo, por hora vou embora, quando precisar de seus serviços te aviso.
Assim que terminou a frase desapareceu do lugar, Eidi forçou o dom de percepção da presença o máximo que pode, esperou alguns segundos imóvel, tomado pelo medo de que ele voltasse, mas ele havia partido.
- Estamos com sorte - Disse para Suelen indo em sua direção olhando para o ferimento. Ela sentou-se no balcão em que estava e rasgou a calça na altura do ferimento deixando-o exposto para que o mestre visse. Eidi abaixou-se e tocou o ferimento, olhou na parte de trás da coxa e não viu marcas, enfiou o dedo no buraco enorme causado pela munição especial e tateou, sob resmungos e pragas de sua pupila, até encontrar a bala, retirou de uma vez, espalhando sangue e levando vários socos de Suelen na cabeça enquanto ela gritava de dor. Passados alguns segundos o ferimento começou a se fechar e Eidi sorriu para a menina.
- Como assim estamos com sorte? Acaba de entregar aquele babaca pra esse monstro. – Suelen colocou-se de pé com dificuldade, a perna ainda estava destruída, os músculos se refazendo muito mais lentamente do que o normal, mas ficaria bem.
- Disse o básico para nos manter vivos, minha cara. Tentarei falar com Julius pela manhã, ele precisa saber quem enfrentará, por hora preciso me alimentar, usei mais dons hoje do que na ultima década inteira.
Saíram do local, entraram no carro e partiram.
Faustu estava sedento, usou dons que a tempo não lhe eram necessários e já fazia alguns dias que não se alimentava fartamente, seguiu em direção a Zona Oeste de São Paulo pela Marginal Pinheiros. Pouco depois do Parque Vila Lobos fica uma balada conhecida da elite de São Paulo, o Pachá, mulheres espetaculares e de requinte estariam por lá.
Passado poucos mais de vinte minutos chegou ao local, o tempo correu bem desde que chegou e já eram quase vinte e duas horas. A entrada estava apinhada de gente, fila enorme, havia quatro seguranças fazendo revista masculina e duas fazendo revista feminina, encostou a moto do outro lado da rua, foi em direção a entrada sem dar atenção as reclamações, os seguranças avançaram em sua direção e depois pararam, Faustu passou entre eles enquanto os mesmo voltavam a sua tarefa com as pessoas na fila, como se Faustu não existisse, ele sorriu e entrou no recinto.
Era um ambiente absolutamente psicodélico, várias luzes de todas as direções dançavam junto com os jovens, Faustu procurou o bar mais próximo e sentou-se em um dos bancos, pediu Vodca pura e virou-se para a pista a tempo de ser recebido com um tapa por uma garota que aparentava no máximo quinze anos.
- Desgraçado como ousa vir aqui? - A garota não escondia sua fúria, mas a julgar pelo sorriso no rosto de Faustu não era problema e nem novidade essa reação exagerada.
- Calma meu bem, só vim me divertir um pouco, tomar uma birita, é assim que falam não é? Só relaxando.
- Não é bem vindo aqui Faustu, causou problema na ultima vez. A polícia ficou no meu pé por semanas, sabe que temos uma reputação a zelar.
- Calma guria. Vou pegar leve ok?! Apenas uma presa, tudo bem assim? Fora daqui, vou sair sem que seu grupinho possa ver ou questionar. - Respirou fundo sob olhar invocado da mulher. - Mais uma coisa, se me tocar novamente vão ter que me caçar pela eternidade porque com certeza você vai morrer - Faustu não abriu a boca para nada, apenas a mente foi utilizada, a garota o encarou um pouco e deu as costas.
O vampiro ficou no balcão, olhando o movimento, vendo humanos dançando, exibindo os corpos, ficou ouvindo os batimentos cardíacos acelerando, indicando adrenalina e outras substancias correndo nas veias, procurava sua vitima, queria uma garota animada, antes de tomar sua vida pretendia ter uma noitada, enquanto olhava a sua volta, viu uma garota dançando, simplesmente linda, morena, corpo exagerado no estilo academia, olhos fechados enquanto se entregava a batida frenética do Eletronic Music, ninguém a acompanhando, vários marmanjos babando. Usava blusa decotada branca que deixava o umbigo de fora, calça jeans de cintura baixa, sandália de salto alto, uma menina/mulher de tirar o fôlego.
Faustu terminou a bebida e seguiu para a pista. Vampiros não precisam de muito pra chamar a atenção, exalavam substancias que faziam com que o corpo humano respondesse naturalmente e pra completar Faustu dançava bem.
Mal havia começado a dançar e várias garotas e até alguns homens o estavam olhando. Aproximou-se da garota que também lhe lançava olhares de esguelha, ficou a sua frente um pouco afastado dançando. Até que ela se aproximou e passaram a dançar juntos, por quase uma hora sem parar, nada de palavras apenas dançando, Faustu estava divertindo-se com a garota, seria uma pena acabar com ela, mas era necessário.
O D.J. anunciou uma pausa e Faustu fez um breve aceno para a garota voltando para o bar, a mulher que havia lhe dado um tapa estava sorrindo no balcão, ele se aproximou, mas não falou com ela, assim que se sentou a garota com quem dançava sentou-se ao seu lado.
- Posso saber seu nome coroa?
- Coroa? Poxa, mas tenho pouco mais de mil anos, sou jovem ainda - Deu um sorriso que foi retribuído pela garota - Meu nome é Faustu, é eu sei, enganei o diabo, e foi fácil na verdade.
A garota sorriu um pouco da insinuação de Faustu.
- Enganar o diabo é mais fácil do que chamar minha atenção. – Disse com sorriso malicioso e interessado. - Você parecia realmente estar curtindo a “vibe”, não é como a pivetada que vem aqui pra dar uma pegada. Estava tentando me enganar como fez com o Diabo?
- E porque eu faria isso, você é linda, devo admitir, mas porque um "coroa" tentaria alguma coisa contigo? Não teria chances, teria?
- Mudando conceitos sempre, se me perguntassem isso ontem eu diria que não, hoje me parece infantil dizer isso, a propósito meu nome é Ângela.
- Muito apropriado, considerando a impressão que causa nos homens a sua volta, anjo lhe cai bem.
- Mesmo? Acho que não, dependendo do dia estou mais pra diabinha - Deu uma piscadinha
- E não são os demônios nada mais que anjos caídos? Só por ter uma visão diferente de Deus, não são diferentes os filhos dos pais ou são?
- Esse papo de coroa é interessante, mas acho que fica pra outra hora, vamos beber?
- Claro, eu pago - Faustu leu a mente da garota e antes que ela dissesse algo fez o pedido - Opa meu velho, um Martini, azeitona e casca de laranja, bata com o gelo no copo. - A garota o olhou impressionada, ele sorriu e fez o próprio pedido.
- Não fosse o fato de eu ter certeza de que nunca te vi aqui antes, teria a impressão de que esteve me vigiando. – Disse Ângela com sorriso no rosto.
- Golpe de sorte, mas eu não culparia um cara por vigiar você, valeria cada segundo.
Ângela sorriu e eles começaram a beber. Conversaram sobre diversas coisas, garotas e garotos de balada, bagunça do dia a dia, responsabilidades, viagens, alegrias, a menina era inteligente e segura de si e apesar de Faustu aparentar pelo menos trinta anos, estava realmente crescendo no conceito da garota.
Quase uma hora de conversa, risos e bebidas depois decidiram ir pra um lugar mais reservado, a garota estava acompanhada por uma amiga e foi até ela avisar que ia embora com alguém, pediu pra ela conseguir carona, o que não era necessário visto que ela já estava engolfada com um dos Bad Boys da balada. Despediu-se e voltou para junto de Faustu, até o momento não haviam se beijado, mas ela parecia estar disposta a mudar isso, veio diretamente a Faustu, envolveu seu corpo num forte abraço e beijou seus lábios, a garota reprimiu o arrepio devido ao frio do corpo do homem a sua frente, Faustu a envolveu e deu-lhe beijos como somente quem tem anos e anos de experiência poderia fazer, deixando-a sem sentidos, apenas entregue ao beijo mais impressionante que já receberá em sua vida.
Faustu se afastou a tempo de ver a garota ainda de olhos fechados, meio boba com o que se passou, ela então abriu os olhos.
- Meu Deus o que foi isso? Vamos logo preciso sair daqui, devem estar drogando a galera pelo ar - Disse isso, deu uma piscadela para Faustu e se dirigiu a saída. Do lado de fora entregou um cartão para um dos manobristas e este foi buscar seu carro.
- Estou de moto, não quer dar uma volta?
- Deus me livre, está ai minha fraqueza, morro de medo de motos, muito risco pra mim.
Faustu sorriu, fazia tempo que não se interessava assim por uma humana, no geral era violento e destrutivo, eram carne, serviam de alimento e ponto final, mas em algumas ocasiões se dava ao luxo de "curtir" a vida negra a qual estava destinado.
O carro de Ângela chegou, um New Civic grafite, Faustu deu gorjeta ao manobrista, pegou a chave, abriu a porta do passageiro para Ângela e entrou do lado do motorista.
- Pra onde vamos senhorita? - Disse com sorriso maroto no rosto.
- Minha casa é longe daqui, estou de passagem no apartamento de uma amiga, mas tem um lugar aqui perto que seria ideal, podemos, como posso dizer, nos conhecer melhor.
Ela deu as coordenadas e foram em direção a um motel, apresentaram os documentos e entraram, Faustu estava apreensivo, fazia tempo, muito tempo que não tinha esse tipo de sentimento, fazia tempo que não se sentia inclinado e "criar" e possuir. Precisava de tempo pra decidir o que fazer, então achou melhor apenas aproveitar o momento, fazer dessa noite inesquecível para Ângela, "sua" Ângela, alimento poderia encontrar em qualquer lugar, ainda eram uma e meia da manha, antes do amanhecer sairia de lá.
Faustu não tinha muito tempo, mas tão pouco estava com pressa, queria curtir cada pedacinho dessa guria. Tocava seu corpo com cuidado, com malícia, com força, fazia com que Ângela o desejasse, com que precisasse dele, passaram uma hora apenas em beijos e caricias, Ângela também sabia muito bem o que fazer, o corpo frio do amante já não assustava mais, já não a arrepiava, ela se entregou por completo, fazendo com que Faustu se sentisse vivo novamente, mas ele era mais experiente do que ela poderia supor, poderia imaginar que fosse possível ser, logo estava implorando por mais, implorando que as caricias terminassem e que ele possuísse seu corpo.
Deu a garota mais do que qualquer humano poderia lhe dar, vampiros não cansam, quanto mais antigos forem mais truques conhecem e Faustu conhecia muitos, mais uma hora ininterrupta de amor e ela cedeu ao cansaço, deitou em seu peito nu e suspirou até adormecer.
Faustu perdeu alguns minutos olhando aquela menina mulher, aquela humana, linda, perfeita em todos os sentidos, a fome lhe atormentando, precisava ir embora antes que fizesse algo para se arrepender, deitou a garota, procurou suas roupas e se vestiu, olhou no relógio, eram quatro horas da manha, estava com o prazo apertado. Vestiu-se rapidamente, pegou uma caneta na bolsa da garota e um pedaço de papel do próprio hotel, escreveu um recado, e colocou junto com uma das flores que estavam no vaso sobre o criado mudo, junto com dinheiro o bastante pra pagar um dia inteiro no motel. Aproximou-se da garota sentiu seu cheiro, a fome lhe atormentando mais um pouco, afastou-se e saiu do quarto.
O motel ficava na marginal, pouco movimento e Faustu tinha pouco tempo, mas pra usar seus dons e se esconder precisava se alimentar. Seguiu na direção de onde estava sua moto, após alguns minutos de caminhada o movimento dos trabalhadores começou a ganhar vida, homens e mulheres se antecipando ao transporte publico e procurando chegar ao trabalho.
Eram quase cinco horas da manha e a fome começava a incomodar de verdade, precisava de alimento agora, um pequeno bar com luzes acesas, seria o bastante por hoje, chegou em frente ao local e deu uma olhada, apenas o dono estava lá, aparentemente abrindo o bar, o mesmo acenou com sorriso no rosto, mas para seu desespero Faustu não tinha tempo pra ser legal, o vampiro se atirou contra o gorducho atrás do balcão, puxou um punhal e abril a garganta do sujeito, cravou seus dentes em sua jugular e sorveu todo o sangue que pode, pouco mais de dois minutos depois nada restava nas veias do pobre homem, Faustu levantou revigorado, limpou o rosto, saindo do bar e o fechou. Invocou velocidade e correu em direção ao Pachá, levou cerca de dez minutos pra chegar até lá, era bem próximo ao motel, algumas pessoas saiam do local, ele empurrou todo mundo e entrou.
- Ora, ora, vejam só o que temos por aqui - A mulher que lhe esbofeteara na noite anterior estava sorrindo.
- Ufa, essa foi por pouco, preciso de um lugar para dormir Safirah.
- O que houve meu amigo? Não matou a garota?
- Não é da sua conta o que fiz, apenas me deixe ficar aqui este dia.
Safirah fez uma pequena reverencia com desdém e lhe indicou a escada que dava nos camarotes, seguiram até o mais amplo deles, algumas pessoas estavam lá, cumprimentaram Faustu, a porta se fechou e os vidros escureceram.
- Obrigado Safirah, te devo uma.
- Duas meu caro duas, ainda recebo visitas por causa de sua ultima aparição.
- Ok, duas então.
Disse isso e se recostou em um dos sofás, todos na sala eram vampiros com exceção a duas meninas que estavam desacordadas, com certeza o banquete do covil na noite anterior. Seus pensamentos presos em Ângela, não era comum, mas acontecia as vezes, vampiros não davam muita importância aos humanos mais do que os humanos dão a comida, mas ocorria de tempos em tempos de se envolverem além da alimentação, além do sexo, Faustu precisava da garota, queria com todas as forças. Foi perdido nesses pensamentos que adormeceu.
Ângela acordou por volta das sete da manha, tinha que ir trabalhar. Olhou em volta e se lembrou de onde estava, lembrou-se da noite maravilhosa que tivera, lembrou-se do homem que a "dominou" durante uma noite de desejos ardentes e caricias apaixonadas. Procurou por Faustu, mas nada encontrou, apurou os ouvidos, mas nada ouviu, olhando em volta com desespero e decepção sentiu um novo arrepio quando viu um bilhete ao lado da cama, com uma rosa por cima. Pegou o bilhete e começou a ler:
"Bom dia meu anjo, dormiu bem? Devo dizer que tive uma das melhores noites em muitos anos, e lembre-se que sou um "coroa". Infelizmente pra mim tive que ir embora, trabalho, sabe como é, não quis acordar você, parecia numa paz sem tamanho enquanto dormia.
Não tenho como descrever como foi bom estar contigo hoje, pretendo repetir sempre que quiser, meu celular está anotado no verso, espero que me ligue, assim saberei que realmente curtiu estar comigo, sem pressa, quando estiver pronta me ligue, estou esperando. Tenha um ótimo dia.
Do seu coroa, Faustu"
Ela leu o bilhete algumas vezes, olhou no verso e lá estava o celular, letra bonita tinha o cara. Ligaria sim, mas não agora, não podia deixar na cara que tinha gostado de estar com ele, enquanto pensava nessas coisas foi vestindo a roupa e se arrumando, pegou o dinheiro que ele deixou sentindo-se um tanto “prostituta”, o que lhe deixou pouco a vontade, e foi embora.