05 - O MAGO
Gustavo estava tendo um dia e tanto, passou a maior parte da manhã preso às obrigações da casa e agora preparava o merecido almoço. Retirou um belo filé de alcatra da geladeira e colocou no aparelho de micro-ondas para descongelar.
Sua casa era, de certa forma, grande. Pelo menos considerando que morava sozinho. A cozinha media aproximadamente quatro metros quadrados, boa parte dos móveis era do tipo planejado, tudo se encaixava perfeitamente, a pia com uma pedra de mármore que tinha a direita uma lavadora de louça e a esquerda o fogão. A geladeira ficava após a lavadora de louça. No centro ficava a mesa de jantar, toda de vidro escuro, as cadeiras eram de uma madeira pesada e de formato moderno, não havia uma porta de entrada e saída, havia sim, um arco que permitia a quem estivesse na sala ver a cozinha e vice versa. As paredes eram brancas, com uma faixa de azulejos no meio da parede.
O bip do aparelho de micro ondas indicou que o trabalho estava concluído, Gustavo retirou o bife do aparelho e colocou numa pequena bacia para temperar a carne. Terminou e colocou em uma frigideira enorme com manteiga, tapou e deixou o calor tomar conta por um tempo enquanto arrumava a mesa.
Morava sozinho então o trabalho doméstico era mais que uma necessidade, uma obrigação. Sempre pensava em conseguir uma companhia ou pagar uma empregada, mas sua condição não lhe permitia isto, era um mago centenário, costumava ficar no máximo uma década em cada cidade, no geral procurava ficar no Brasil, mas em duas ocasiões se retirou para Dinamarca e mesmo quando estava dentro deste período, por vezes era obrigado a sumir, fora as ocasiões em que chegava com o corpo distorcido, nu ou até desfigurado, ter alguém por perto seria mais um problema com que lidar e por isso dava preferência por estar só.
As batalhas iam e vinham, mas a verdade é que eram constantes e não tinha tantos poderes como gostaria de ter o que tornava sua “profissão” perigosa e complicada demais para compartilhar com alguém. É verdade que mesmo sem conhecer tudo o que sabia existir, já dera cabo de um bom numero de bruxos e feiticeiros das trevas, estes humanos sem escrúpulos e de mente fraca, que se vale de poderes do sangue e ritos demoníacos para realizar seus desejos e obter dons. No geral formam pactos e comprometem sua alma com demônio ou Anjo Negro. Quanto mais próxima for a conexão com os infernais mais poderoso se torna o bruxo.
Os magos são diferentes, não tem “padrinhos” ou estão vinculados com forças do além. Buscam seus poderes nas forças da terra, estudam a vida, buscam o conhecimento do Universo, de como funcionam as coisas, reconhecem seu lugar passageiro frente aquilo que está desde sempre e para sempre irá perpetuar. Seus feitiços são combinações de força de vontade e runas antigas dos primeiros habitantes, quando o véu entre o físico e o espiritual não existia. Estudar os símbolos antigos e as runas próprias a cada magia, por vezes um trabalho árduo e dificilmente traz cem por cento do poder que deveria trazer, visto que poucos conhecem o verdadeiro significado de cada palavra proferida, de cada ingrediente usado e de cada sentimento oferecido.
Demoram mais para conquistar poderes, pois são em suma alquimistas que aprendem a extrair da matéria criada por Deus a energia para realizar suas vontades. No entanto, quando conseguem um dom tornam-se muito poderosos e por vezes até mais poderosos que Bruxos. Conseguem por exemplo conjurar e destruir a matéria, porem a energia que utilizam esta ligada também a sua energia vital, sua própria vida e por isso, precisam estar sempre fisicamente fortes, mentalmente invulneráveis e acima de tudo estar sempre em campo treinando e se aproximando mais da energia da terra e do conhecimento universal.
Dentre tantos dons e tantas magias, algumas tem poder tão grande que podem equiparar um humano a um ser eterno, como é o caso de uma magia antiga chamada “Vitae” a magia da vida, esta lhe permite combater o desgaste da vida, por assim dizer, tornando cada dia de vida como dezenas de anos.
Tal magia já está dominada por Gustavo que hoje tem cento e cinquenta anos e ainda sim conserva a aparência do seu “despertar” que foi aos vinte anos. Pelo que sabia, poucos humanos conseguiram dominar essa arte e ele mesmo só conseguiu, pois foi treinado nas artes da magia por um dos “Magos Milenares” um dos pupilos de Merlin e dos merlinianos.
Voltou ao fogão, retirou a carne da frigideira e serviu num prato grande e branco, sentou-se a mesa e começou a comer.
Assim que terminou de almoçar foi ao escritório, que ficava do outro lado da cozinha, cruzando a sala de estar que era tão grande quanto à cozinha. Havia na sala um jogo de sofá grande que fazia um semi circulo de frente a uma televisão de cinquenta polegadas. Entre o televisor e o sofá, apenas um tapete grande e felpudo. Passou direto pelo tapete e foi em direção as escadas que davam para o andar superior, ao lado das escadas havia uma porta que dava no escritório.
Esta noite teve seus sonhos invadidos por seres celestes, sonhos estranhos onde era avisado de uma batalha que se aproximava e que ele de alguma forma estaria envolvido. Fazia tempo que não participava de uma batalha de verdade e mais tempo ainda que tivera sonhos com seres iluminados, geralmente não tinha contato com esta parte da história.
Ultimamente andava cansado da violência e abusos por parte de humanos estúpidos que roubavam e matavam sem motivos. Ladrões de todo tipo, estupradores, assassinos e policiais corruptos que não tinham chance ante seus poderes. Ele se declarava autônomo, agindo de acordo com suas próprias emoções e costumes. No momento dava uma de justiceiro.
Tinha aliados, humanos comuns que viram seus dons de alguma forma, ou que naturalmente tinham experiências com o sobrenatural, pessoas que queriam saber mais sobre este mundo cheio de perigos e fantasias, cheio de loucura e adrenalina. Tinha um amigo, um dos iluminados, este sempre lhe proporcionava boas batalhas, e agora tinha sido tocado por um anjo. Não fosse o fato de ser um mago ia achar engraçado o próprio pensamento, “ser tocado por um anjo”. Mas sabia que os seres existiam, que eles lutavam constantemente pela alma das pessoas e se um deles tinha lhe dito que se preparasse era melhor investigar.
A casa de Gustavo, uma delas na verdade, tinha dois andares, tratava-se de um sobrado. O escritório tinha três metros de largura por três de comprimento, uma pesada mesa de carvalho no centro, uma luminária para leituras noturnas, a cadeira também era feita de carvalho, sobre a mesa estavam apetrechos para o preparo de poções, caldeirões, pergaminhos e outras coisas e nas paredes livros, do chão ao teto, nos quatro cantos havia livros, de todos os tipos e de muitas eras.
Na parede que ficava atrás da mesa, os livros estavam protegidos por vidraças. Gustavo foi até esta prateleira, fitou-a por alguns minutos procurando um livro e finalmente o identificou. Destravou uma das vidraças, e puxou um livro enorme com capa grossa que lembrava couro, havia inscrições em toda parte e uma fivela matinha o livro fechado. Gustavo pegou uma faca e fez um pequeno furo no dedo polegar, passou o dedo pela fivela que se soltou e abriu o livro.
Este livro tratava do uso de poções para energizar o corpo, tanto para lutas físicas quanto para o uso dos dons que já havia desenvolvido. Magos tem que ativar runas, ou seja, ativar os dons para poder realizar o truque. Folheou o livro e tomou nota de alguns ingredientes que teria de conseguir, como raízes de plantas raras e partes de animais, o preparo de algumas poções mais poderosas levava pelo menos duas semanas, teria de agir rápido e deixar tudo pronto, não sabia quanto tempo tinha, mas não queria ser pego de surpresa.
Terminou de anotar os ingredientes, voltou à cozinha e limpou a mesa, pegou os objetos usados para preparo e consumo dos alimentos e colocou-os no lava louças. Foi até o quarto trocar de roupa. Subiu as escadas que terminavam em um corredor, a direita havia apenas janelas que davam para o fundo da casa e a esquerda havia três portas, uma para o banheiro e uma para cada quarto, sendo a ultima porta o seu quarto.
Este cômodo era do tamanho exato da cozinha, entrava-se pela parede a direita onde ficava também um hack com um televisor de trinta e duas polegadas, de frente para a TV ficava sua cama de casal, a direita da cama havia um criado mudo, na parede oposta a porta de entrada havia uma grande porta de vidro que dava para a varanda da casa, na parede da porta ficava um grande guarda roupas.
Gustavo tem aproximadamente um metro e noventa de altura e pouco mais de oitenta quilos, corpo magro, usava óculos numa armação bem desenhada, costumava usar calça Jeans escura e camisetas com estampas, geralmente de algum anime, game ou programas de comédia.
Pegou uma calça jeans e camiseta branca com o desenho de um personagem pequeno de cabelos brancos, com um dragão de gelo as suas costas. Vestiu-se e em alguns minutos estava entrando na garagem onde um GOL GTI Azul muito bem cuidado e com detalhes do lado direito que lembrava trovões sendo disparados que iam da frente para traz, esperava por ele. No capô do carro havia o rosto de um homem velho de barba cumprida um rosto em fúria constante, seus olhos eram a fonte de energia que disparava os trovões. Entrou e deu partida, teria de chegar ao litoral para conseguir alguns ingredientes. Abriu o portão automático da garagem de sua casa, situada no município do Embu-Guaçu, saiu e o portão começou a se fechar. Seguiu estrada à dentro em direção a rodovia.
A estrada era esburacada e era necessária muita destreza para conduzir em alta velocidade, chegou a BR116 e seguiu a esquerda. Eram por volta das trezes horas e o movimento era fraco, apenas caminhões eram vistos e mesmo assim em quantidade reduzida. Seguiu pela estrada por cerca de meia hora e estava a ponto de fazer uma curva acentuada a direita quando o carro deu uma guinada brusca, como que se movendo sozinho e seguia em direção a proteção nos limites da estrada. Gustavo puxou o volante com toda sua força, mas ele não se moveu, mais um segundo e ele estaria colidindo. Fechou os olhos e desenhou uma runa imaginária a sua frente, não tinha tempo para recitar todo o encantamento. Seria impreciso, mas melhor que nada, recitou:
"Ianuae Magicae, Ianuae Magicae"
Gustavo invocou a habilidade de tele transporte, sabia que na velocidade em que estava era arriscado, mas não tinha opção. Desapareceu do interior do veículo e reapareceu cerca de cinco metros atrás do ponto de partida e três acima do solo, mais dois segundos e estaria em pedaços no chão, desenhou uma nova runa no ar e então invocou novo encantamento:
"Corporum et vires"
Invocou a habilidade de fortalecer o corpo e suportar pancadas. Colidiu contra o chão, girou, saltou e se pôs de pé, arrastando inclinado por alguns metros, virou em direção ao carro a tempo de vê-lo se arrebentar contra a proteção da pista e depois contra o morro destruindo por completo a frente do carro.
O mago não entendia o que estava acontecendo, procurou por adversários tentando sentir sua presença, mas foi em vão, sentiu-se tonto pelo uso inesperado destes dons. Iniciou uma caminhada em direção ao carro, mas foi bloqueado por algo e em seguida foi atirado cerca de três metros para trás por um golpe forte no peito. O ar abandonou seus pulmões e ele sentiu que algumas costelas se partiram no momento em que tocou o solo e mesmo isso não se comparou a dor que sentiu em sua mente, ao terror embutido em sua alma.
Em segundos sua mente foi levada a uma terra negra onde jorrava sangue e podridão. Neste lugar pessoas eram açoitadas por monstros antigos, gárgulas e demônios e também por outros humanos. Todos estavam presos com correntes pesadas, algumas pessoas de corpos nus eram queimadas por labaredas que dançavam em meio ao caos. Ganchos se formaram no ar a sua frente e ele viu-se preso a um poste de madeira sendo torturado por homens comuns, torturado por ser diferente deles, por conhecer o que poucos conheciam e em meio a dor uma voz se fez ouvir.
- Vê o que aguarda aquele que trabalha em prol da luz? Não terás paz, pois todos aqueles que não fazem parte do seu mundo, que não entendem os seus costumes e descobrirem sobre o que fazes, vão querer teu sangue, seja por inveja, seja por raiva, seja pelo que for, se continuar neste caminho, estará sozinho e hora ou outra irá perec... –
O ser que falava em sua mente se calou abruptamente como que se tivesse sido interrompido por algo. O mago caiu de joelhos no chão e tentava se levantar para ver o que estava havendo.
No plano espiritual, um anjo com pele de bronze e quatro metros de altura, usando uma túnica negra que não combinava com sua classe, mas com certeza combinava com suas feições, neste momento um verdadeiro guerreiro em fúria, descrevia arcos em velocidade alucinante contra três anjos negros, anjos que caíram no dia do levante, servos fiéis a Lúcifer.
O anjo celestial descreveu um arco com sua espada contra o Anjo Negro mais próximo, este quase foi pego pelo golpe, mas no ultimo instante conseguiu defender-se, todavia a força do anjo celeste fora tão absurdamente grande que o Anjo Negro partiu como um jato para longe da batalha. Um segundo Anjo Negro veio pelas costas do celeste e tentou um ataque cruzando a espada na linha da cintura, o celeste desceu alguns metros no ar a tempo de escapar do golpe, e enquanto virava-se para contra atacar o ultimo dos inimigos conseguiu acertar um chute em seu estômago, infelizmente para o Anjo Negro o golpe foi absorvido como se o único efeito fosse de enfurecer mais ainda o anjo celeste que em explosão de fúria desferiu um soco tão violento na face do inimigo que seu maxilar foi posto fora do lugar, o segundo golpe foi com a espada separando a cabeça de seu corpo, quando o Anjo Negro que estava acima tentou chegar ao Celeste viu algo que a milênios não via, o anjo celeste desapareceu diante de seus olhos e reapareceu as suas costas, deu-lhe um soco, na região onde estariam as costelas, que o fez soltar a espada, segurou-o pelo cabelo e lhe falou:
- Não temas, você não me atingiu, portanto não posso lhe destruir, diferente de seu companheiro. Vá em direção ao companheiro que ainda lhe resta e volte para seu covil, estou de guarda deste humano, ele conhecerá o caminho de meu Senhor e será salvo, lutará conosco, vá!
O Anjo Negro não mostrou resistência, assim que se viu solto voou para longe deste anjo incomum enquanto memórias de uma batalha a muito travada vinham em sua mente e o rosto do angelical se mostrava, o que lhe fez perceber que tivera muita sorte em sair vivo dali.
Gustavo estava se recuperando do golpe já estava de pé, arfava um pouco e ainda estava com suas costas arqueadas, no momento em que foi atingido sentiu a presença de seres espirituais, não gostava dessas batalhas, ainda lhe eram obscuras demais.
Levantou-se e buscou concentração, não havia mais sinal da força negra. Foi em direção ao carro, precisava agir rápido antes que algum veículo encosta-se para ajudá-lo, caminhou até o veículo destruído. Fechou os olhos e estendeu sua mão para cima, concentrou-se enquanto energia emanava de seu ser cobrindo sua mão, direcionou para o carro e desenhou uma runa, quando terminou manteve a mão apontada para o carro e proferiu o encantamento:
"Omnia nihil et nihil sunt omnia.
A principio ad finem et principium finis.
Energy in mundo Redi in Tempore, Redi in Tempore!"
A energia foi atirada contra seu carro, neste momento um barulho muito forte de ferro sendo retorcido invadiu o espaço em volta do carro e em questão de segundos o veículo estava como novo. Entrou no carro, deu partida e acelerou.
- Melhor conseguir esses ingredientes logo, não sei lutar contra essas coisas, preciso de defesas - O anjo sorriu ao ouvir essas palavras.
- Você está nas mãos de Israel, servo do Deus Vivo e irmão do Arcanjo Miguel, não tem com o que se preocupar.
Meia hora depois chegou a um bairro no litoral sul de São Paulo, próximo a São Vicente, um lugar um tanto abandonado. Gustavo seguia devagar por uma rua sem saída onde se encontravam algumas lojas que com certeza não eram visitadas com frequência. Estacionou em frente a uma delas, com aspecto miserável, onde algumas plantas mortas completavam o quadro "nonsense" do local, sua fachada estava completamente puída, sem pintura e lascada em algumas partes, a porta estava aberta, entrou.
Assim que entrou no local sentiu um arrepio correr-lhe todo o corpo, era um tanto sufocante o ar ali e ainda sim era impressionante, seja pela sujeira em que se encontrava ou pela quantidade de artefatos espalhados. Pareciam relíquias de tempos antigos, chegava a ser apertado, havia uma porta aos fundos e Gustavo passou por ela o que provocou um tilintar de sinos e logo após isso um homem de aparência milenar surgiu sem fazer ruído, como se estivesse ali desde o princípio.
- Boa tarde criança, faz tempo que não o vejo por aqui. - A voz do senhor era forte e completamente serena.
- Bom dia vovô - disse Gustavo com um sorriso no rosto - Ventos fortes velhote, preciso me preparar. Quero estes ingredientes - entregou uma lista com pelo menos vinte ingredientes diferentes. O senhor deu uma olhada na lista por alguns instantes.
- Tenho todos aqui, mas vai ficar caro. – Israel colocou a cabeça para dentro da loja a fim de ver o que se passava, o velho arregalou os olhos e se dirigiu ao mago – Garoto, conheço a força que está contigo, um anjo. Sei que você não pode vê-lo, pois é apenas uma criança mimada que não compreende a verdade do Universo ainda, fora que é fraco e sem talento - Disse de repente em tom ríspido - não tome parte nessas batalhas, você não está pronto ainda.
- Bem, velhote, você me conhece, gosto de barulho, você pode ver o ser celestial?
- Sim, posso, não é qualquer um que vê essas coisas, não é com magia que se adquire este dom, é prec...- parou de falar e fechou os olhos, Gustavo estava sorrindo.
- Ok velhote, quer dizer que você já tomou parte em uma batalha assim? Quem pensa que é para me dizer para não entrar agora? - Gustavo ainda sorria, era seu mentor a sua frente, quem lhe deu os melhores toques, as maiores dicas, sabia que estava preocupado e achava legal.
- Tudo bem então, você sabe o que faz, se acha que já aprendeu bastante. De qualquer forma, para ver o que vejo agora, precisa acreditar em algo que aprendi a acreditar com o tempo, precisa crer no Deus tremendo, Senhor dos Exércitos, orar, essas coisas. Humanos comuns perdem a conexão com facilidade, mas nós, depois de vermos pela primeira vez, veremos sempre. O problema é que podemos ver ambas as partes, tanto anjos quanto demônios.
Terminou de falar com tranquilidade enquanto embrulhava alguns ingredientes.
- Estou adicionando alguns ingredientes que acho que vai precisar, e também – virou-se para a estante as suas costas onde uma quantidade enorme de livros estava empoeirada, passou os dedos por alguns títulos e retirou um deles da prateleira colocando na sacola de pedidos de Gustavo. Retirou uma caixa de aproximadamente trinta centímetros de dentro de uma gaveta no balcão, abriu e retirou um pequeno punhal que ali estava, cravou o punhal no ombro esquerdo, o punhal emitiu um ruído como que um sussurro e ficou vermelho sangue. O velho recolocou o punhal na caixa e colocou dentro da sacola sob olhar perplexo de Gustavo - Não sei até que ponto estão dispostos a se expor, mas para um anjo da classe deste estar contigo devem estar dispostos a ir longe. O livro contém runas que você não conhece e encantamentos que você nunca sonhou em ver, o punhal, bom o punhal você vai descobrir depois, não quero falar sobre isso agora. Vai sair mais caro é claro, mas pense de maneira positiva, a dica foi grátis - Terminou de falar e deu uma grande gargalhada.
- Tá legal seu safado, depois o dinheiro vai para sua conta e você me manda o serviço que precisar por mensagem ok?!
- Ok moleque, se cuida. - O mago ancião olhou mais uma vez para seu pupilo e desapareceu.
- Melhor começar a treinar - disse Gustavo em tom sério - "Sei que está aqui, ó ser celestial".
Começou a falar de maneira retardada, como se precisasse gritar e falar devagar para ser ouvido e compreendido, Israel o anjo que o acompanhava riu alto.
- Estou me preparando, agradeço pelo que fez agora a pouco, creio que tenha me ajudado em batalha, vou retribuir participando desta batalha ao seu lado.
O anjo parou de rir e assentiu ao que era dito.
- Na hora certa vai me ver e ouvir criança, na hora certa. Teremos tempo para nos conhecer e você terá tempo de entender o propósito de Deus em sua vida.
Voltou para seu carro, colocou os ingredientes no banco do passageiro, deu partida e tomou o caminho para sua casa, ainda absorto em seus pensamentos, não sabia como lidar com a situação e acabara de lhe ocorrer algo perturbador, era um vagabundo nato, fazia coisas que faria crentes lhe chamarem de pervertido, não se preocupava agora com a opinião deles, mas sim com o que o anjo lhe faria se continuasse assim.